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O jardim na Estrada do Calhariz de Benfica é a novidade do bairro e na tarde de domingo muitas pessoas foram conhecê-lo. Famílias, pessoas a passear os seus patudos, outros a aproveitarem o novo espaço verde para uma corrida. A frase mais ouvida é: "Aaaah! Olha que bonito!" E, de facto, o colorido jardim de flores silvestres dá 10 a 1 ao convencional jardim de canteiros alinhadinhos, com cada tipo de flor na sua área própria. O que terá levado a Junta de Freguesia de Benfica a optar por esta solução tão original e mesmo única em Lisboa?
Devido às limitações de funcionamento da Junta impostas pela pandemia, esta interrogação ficou sem resposta, pelo que resolvemos consultar por e-mail o especialista em jardins de Lisboa Ivo Meco, autor do livro Jardins de Lisboa: histórias de espaços, plantas e pessoas. Ivo reconheceu imediatamente algumas plantas da foto: “Parece-me que se trata de uma mistura de plantas herbáceas (autóctones), tal como a papoila (Papaver rhoeas) e centáureas, com outras plantas herbáceas exóticas (como a papoila-da-califórnia, Eschscholzia californica, de cor amarela, no canto direito). É uma mistura de herbáceas anuais, com flor, e gramíneas.”
E quais serão as vantagens de um jardim de flores silvestres, por contraponto a um jardim mais convencional? Lendo a resposta que nos enviou, aparentemente, são muitas.
“Há várias vantagens que podem ser apontadas nesses jardins-prado com plantas herbáceas, espontâneas ou não:
- A manutenção é reduzida, uma vez que são plantas resistentes e sem grandes necessidades de água;
- Criam a sensação de ser um jardim "natural", sem grande intervenção do ser humano, como se o campo invadisse a cidade;
- Muitas delas facilmente se propagam por semente, permitindo que o jardim se "auto-semeie" para o ano seguinte;
- Numa pequena área há uma grande biodiversidade: uma maior diversidade de plantas, muitas delas produtoras de néctar, atrai um maior número de insectos polinizadores, como abelhas, borboletas e moscas-das-flores; outros insectos não polinizadores também ali encontram alimento e refúgio. Estes insectos servirão de alimento, por sua vez, a uma série de aves insectívoras que enchem os jardins com os seus trinados;
- Como são plantas herbáceas, os solos não precisam ser profundos para que desenvolvam as suas raízes. Desse modo, há uma maior quantidade de espaços em que podem ser implementados.”
Há um reverso da medalha, mas Ivo Meco deixa-nos a pensar. "Um 'inconveniente' é que muitas destas plantas são anuais e no Verão acabam por secar, após dar semente, dando a sensação de que o jardim não está cuidado. Talvez seja essa a única altura de maior manutenção, recolher as partes secas. Mas é necessário que haja uma mudança na visão dos cidadãos para perceberem que os jardins não têm de ser todos geométricos, com canteiros de buxo. Não haverá flores o tempo inteiro, é um facto, mas a vida também é feita de ciclos, up and downs. Aceitar isso num jardim também é um exercício."
Agora que já sabe mais sobre este jardim tão original, é ir conhecê-lo. O Jardim do Calhariz de Benfica acompanha um pedaço da estrada que lhe dá nome, ocupando uma área de 1,2 hectares. Não é uma área enorme, mas é mais um passo para a conclusão do Corredor Verde Periférico Norte, que vai ligar o Parque do Vale da Ameixoeira ao Parque Florestal de Monsanto. O jardim começa perto da Praça do Fonte Nova e tem ainda equipamento para fitness, um parque infantil e um parque canino.