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‘I Know This Much Is True’, uma minissérie de seis episódios com Mark Ruffalo em papel duplo, é um poço sem fundo. Ficámos de coração apertado.
Three Rivers, Connecticut. Na passagem de ano de 1950, o nascimento de dois gémeos no hospital local chega às notícias, não porque os seis minutos de diferença entre o parto de um e de outro os fez nascer em anos diferentes, um a 31 de Dezembro de 1949 e outro a 1 de Janeiro de 1950, mas pelo celebrado motivo de serem bebés de Ano Novo. Thomas e Dominick Tempesta, filhos de mãe com ascendência siciliana e pai incógnito, vão ser submetidos a uma vida de provações e tormenta – pelo segredo da mãe, pela severidade do padrasto, pela traumática morte de uma colega de turma, e depois, já na universidade, pela doença psiquiátrica de Thomas, que se precipita e afunda, e pela esquizofrenia paranóide que toma conta da relação entre ambos.
Mark Ruffalo interpreta os dois irmãos, um débil e progressivamente ensimesmado, o outro um ser fervente, encurralado pela própria sorte. A história é a de I Know This Much Is True, romance do norte-americano Wally Lamb que teve como rampa de lançamento a aparição no clube de leitores promovido por Oprah Winfrey e que agora é adaptada ao pequeno ecrã, para a HBO, numa minissérie de seis episódios. O obreiro é Derek Cianfrance, realizador de Blue Valentine – Só Tu e Eu, que abre a narrativa com a impressionante cena em que Thomas corta a mão direita, numa biblioteca pública, como sacrifício para expiar os pecados da América e impedir a Guerra do Golfo (estamos em 1990). A Dominick caberá decidir, logo a seguir, se os médicos devem salvar o membro, como os clínicos o pressionam a fazer, ou se deve respeitar a vontade do irmão, que numa desesperada berraria lhe garante ter tomado esta decisão de forma lúcida.
O que parece ser a decisão mais difícil que Dominick alguma vez terá de tomar revela-se, afinal, apenas a ponta de um icebergue dramático que ultrapassa os limites temporais da sua própria existência. A tragédia deste antigo professor, cujas provações o impediram de continuar na profissão e encontrar na pintura de casas o seu ganha-pão, estende-se uma geração para trás de si – com o avô paterno, um operário egotista que morreu antes do nascimento dos gémeos, cuja história é dada a conhecer numa narrativa paralela, em analepse – e uma geração à sua frente. O centro gravitacional de I Know This Much Is True (o título remete para uma parcela de verdade que é vislumbrada, declaradamente, no final) nunca deixa, todavia, de ser a relação entre os irmãos, a luta de Dominick para retirar Thomas de um centro de internamento de alta segurança, a degeneração deste último e os sentimentos de culpa do primeiro, a sensação de que poderia ter feito mais, quando se começam a descobrir as consequências escondidas que tudo isto tem na sua própria saúde mental.
HBO. Seg.