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O LARGO Residências é um pólo de oportunidades e resistência para a comunidade residente de uma zona então esquecida. Este ano, a cooperativa perdeu a sede no Largo do Intendente, onde desenvolvia as suas actividades desde a década passada, entre residências artísticas e um café-estúdio com programação cultural gratuita. Mas Marta Silva, directora artística, não deu por perdido o trabalho da última década: o projecto está temporariamente instalado num antigo Quartel da GNR, onde desde 2020 a cooperativa organiza o festival Bairro em Festa. Não é a mesma coisa, mas o Cabeço de Bola, na colina de Santana, é um novo começo.
Bailarina de formação, desde cedo trabalhou na área das ciências da educação, em contexto de bairros mais vulneráveis. “A minha experiência do Bronx vem do Bairro da Lagarteira, no vale de Campanhã, num processo de desenvolvimento comunitário”, começa por lembrar. Ao mesmo tempo que era formadora, trabalhava no “circuito da talha dourada”, com a Companhia Paulo Ribeiro. Mas, diz, “às vezes sentia que nem todos os contextos culturais eram humanamente interessantes, pertinentes, sustentáveis e verdadeiros.” A praia de Marta, descreve, “são estes lugares onde a crueza humana está muito ao de cima, onde falta amor, respeito, inclusão ou aceitação”, ou não estivesse esta profissional ligada ao associativismo desde os 17 anos.
Na capital, começou por dar formação em escolas na área da dança, até que começou a ganhar espaço a vontade de fazer algo que agregasse o lado criativo com o da formação, de forma mais permanente. Foi assim que ajudou a fundar a associação SOU, na Rua Forno do Tijolo, “um espaço de formação artística que passou a ser uma casa de cultura de bairro”, recorda. E foi a partir da SOU que acabou por nascer o LARGO Residências, com a missão de promover projectos culturais de inclusão social e desenvolvimento local e negócios sociais que não só trouxessem sustentabilidade ao projecto, mas que também criassem postos de trabalho para a comunidade.
Porém, tal como no Bronx (o verdadeiro), a gentrificação chegou ao Intendente. Agora, a mudança para o quartel carrega novos desafios, como chamar o bairro para dentro de portas. “Mas temos uma coisa que não tínhamos quando ali chegámos: uma relação criada.” Mas que força é esta que oferece resistência? “É duro, mas é espectacular. A minha realidade de criação não são só corpos num palco. É a relação entre corpos que são pessoas na cidade e no mundo”.
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