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Heroína Local: Rita Barrela, a ambientalista

A inspecção de finanças dá-lhe bagagem para tratar das burocracias quando o assunto é fazer crescer florestas em Lisboa (nem a natureza está imune a isso). E é na Urbem que Rita mostra a sua veia ambientalista.

Rute Barbedo
Escrito por
Rute Barbedo
Jornalista
Rita Barrela, Urbem
Francisco Romão PereiraRita Barrela, Urbem
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Perante uma mulher que trabalha nas Finanças colocamo-nos sempre à defesa. Mas o lugar em que conhecemos Rita Barrela torna tudo diferente. No Parque Urbano do Casal Vistoso, Rita mostra-nos as oliveiras, a alfazema, o charco e tudo o resto que aqui não existia antes de surgir a Urbem, uma organização não-governamental criada durante a pandemia por um grupo de estrangeiros a viver em Lisboa e da qual Rita faz hoje parte da direcção.

Ora, o que faz a Urbem? Impulsiona a criação de florestas em terrenos da cidade, seguindo o método Miyawaki, em honra ao japonês que percebeu que, concentrando-se espécies autóctones num pequeno espaço, elas tendem a ajudar-se umas às outras a crescer. Em 2021, agoniados pela vida anti-social e mobilizados pelas consequências das alterações climáticas, os membros da Urbem decidiram apresentar a sua vontade à Câmara Municipal de Lisboa e a várias juntas de freguesia, pedindo-lhes a cedência de um terreno para ali plantar uma floresta. 

A Câmara “deu-lhes” um sítio inclinado e difícil, que tiveram de organizar em socalcos e onde rezaram para que não houvesse deslizamentos de terra, mas lá plantaram oliveiras e carvalhos, entre outras espécies, e funcionou. Em colaboração com um biólogo da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (onde surgiu a primeira pequena floresta Miyawaki da cidade), conseguiram que o trabalho colectivo desse frutos. “A floresta torna-se, à partida, autossustentável ao fim de três anos”, explica Rita. Já a comunidade à volta dela não tem prazo. Como diz a profissional das Finanças, “os objectivos da Urbem são a reflorestação urbana e a coesão.” Aos sábados de manhã, juntam-se ali em média 20 pessoas. Por vezes, há formações e concertos. Outras, tiram-se apenas ervas infestantes. “Tem-se feito uma rede de amizade muito grande.”

Não satisfeita, no mesmo parque, a Urbem conseguiu outro terreno, esse sim, com grande potencial, tanto pela dimensão, como pela planura e convivência mais directa com a comunidade. São 3000 metros quadrados, onde nascem morangos silvestres e chegam libelinhas, ao som da passagem dos comboios e autocarros da cidade. 

À procura de terreno

A Urbem continua a pedir terras. E têm-lhes respondido sobretudo de entidades privadas, como universidades, politécnicos ou a Agência Portuguesa do Ambiente. “Há muita gente com vontade”, diz Rita, para quem acompanhar o desenvolvimento de uma floresta é uma forma de fazer a comunidade local mexer, mas também de respirar um ar diferente do da secretária em que trabalha das nove às cinco. Da janela de casa, Rita Barrela pode ver a floresta crescer. “Moro ali em cima”, aponta a técnica de Finanças, que há nove anos dá o seu tempo ainda a outra causa: a Brigada do Mar. “Também faço parte da direcção”, conta. Quando não está no Casal Vistoso ou a tratar da comunicação e dos trâmites da burocracia pública, lá atravessa Rita a ponte em direcção ao Sul, para apanhar lixo dos areais. 

Sobre o futuro da Urbem, afirma: “Toda a gente quer construir uma floresta, mas muitas vezes o problema são os entraves burocráticos, as cativações e que tudo coincida com os timings das plantações. Mas eu já estou habituada e não desisto”.

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