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Inês Aires Pereira anda em busca da felicidade na distopia de ‘Erro 404’

E se existisse uma aplicação que nos deixasse experimentar a vida de outras pessoas? A série ‘Erro 404’ traz a distopia tecnológica à televisão nacional.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
Jornalista
Inês Aires Pereira
©nashdoesworkInês Aires Pereira e Rui Maria Pêgo, em 'Erro 404'
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Rita (Inês Aires Pereira) perdeu a melhor amiga e não está a conseguir lidar com a tristeza. Mergulhada num poço de apatia e desmotivação, procura na internet soluções para começar do zero. Mas o algoritmo impinge-lhe uma nova aplicação chamada Appy, que lhe permite experimentar a felicidade da vida de outras pessoas, por alguns minutos ou algumas horas. Só que é uma tecnologia ainda em fase experimental, cujos erros podem ter consequências definitivas na vida de Rita. Assim se apresenta a nova série da RTP1, uma produção da Santa Rita Filmes com oito episódios e estreia marcada para 11 de Março.

Erro 404 é uma ideia da realizadora Patrícia Sequeira (O Clube, Rabo de Peixe) e uma distopia portuguesa que faz lembrar o universo de Black Mirror. E tem um elenco que conta com mais de 60 actores. Rui Maria Pêgo (Filho da Mãe), Dinarte de Freitas (Rabo de Peixe), Valerie Braddell (3 Mulheres), Cristóvão Campos (Pôr-do-Sol), Ana Valentim (Causa Própria) e Rodrigo Tomás (Rabo de Peixe) são alguns dos actores em destaque, numa produção que conta com Marisa Liz e Dino D’Santiago como eles próprios. A apresentação da série decorreu na passada terça-feira em Lisboa, no LAV – Lisboa ao Vivo.

Erro 404
©nashdoesworkErro 404

Patrícia Sequeira é um dos mais relevantes nomes da realização nacional. Com uma carreira dividida entre o cinema e a televisão, destacou-se recentemente na realização das séries Rabo de Peixe e O Clube ou no filme Bem Bom, que lhe valeu uma nomeação aos Prémios Sophia, atribuídos pela Academia Portuguesa de Cinema. Desde 2018, trabalhou em duas mãos-cheias de produções, mas nesse mesmo ano teve uma ideia que se transformou em Erro 404, tornando-o a grande criadora por detrás deste projecto. “A equipa de escrita foi fundamental, porque ter uma ideia é giro, mas depois precisamos concretizá-la”, disse Sequeira, que contou com a ajuda de Totta Alves (Dolores) e Guilherme Vital (Home Sick) no argumento. A realizadora não poupou elogios a um elenco escolhido a dedo, encabeçado por Inês Aires Pereira, conhecida pelo humor e que aqui teve oportunidade de libertar um lado mais dramático. “Acertei, felizmente, com a protagonista. Gostava que vocês percebessem que a Inês é muito mais do que uma actriz de comédia, pode ser uma actriz do que ela quiser. É realmente fabuloso, mas isso deixo ao critério de cada um. Eu acho que é inegável. Podem até não gostar da série, e se algum erro houver, é de propósito, e é meu, mas a Inês eu acho que está irrepreensível”, defendeu a realizadora.

Sobre a série, Patrícia Sequeira avisa que “não tem a fórmula de sucesso normal”. “Não tem aquela fórmula perfeita, não tem os actores que estão à espera, que são as caras de sempre, que nós já estamos sempre um bocado à espera de ver.” Mas essencialmente, e sobre o enredo, acredita ter encontrada “a base de uma fórmula que nos diz respeito a todos, que é a felicidade”. “É nessa busca, nesta coisa louca de andar a tentar ser feliz, que trabalhamos muito a nossa frustração. E esta ideia de que às vezes a vida de todos os outros parece melhor do que a nossa. E portanto, a partir disso, esta aplicação [a Appy] vai fazer um bocadinho aquele papel da felicidade, que é a armadilha invisível, em que de repente tu podes viver a vida de outra pessoa, ter uma experiência espectacular, ou não, de ser hilariante, de ser assustador e por aí fora”.

Erro 404
©nashdoesworkErro 404

"Eu estava muito confortável na comédia"

À margem da apresentação, Inês Aires Pereira respondeu à pergunta da Time Out sobre se este foi o melhor erro da sua vida. “Foi sem dúvida nenhuma. Tive projectos muito felizes, mas eu estava muito confortável na comédia. De repente veio este desafio e eu também tinha que fazer outras coisas. E que bom que alguém está a acreditar em mim, agora vou fazer uma coisa que não seja comédia”, disse a actriz, sublinhando no entanto que Erro 404 também tem humor. De facto, após a visualização do primeiro episódio, exibido no LAV, Aires Pereira faz um equilíbrio entre os tempos de comédia que lhe conhecemos e o peso do drama em que vive a sua personagem, numa história que acaba por abordar o tema da saúde mental.

Rui Maria Pêgo também falou à Time Out sobre esta nova peça do percurso de actor que está a construir. O autor e protagonista da série Filho da Mãe, emitida pelo Canal Q entre 2015 e 2026, apostou na formação de actor na Bristol Old Vic Theatre School e já tem algumas cartas na manga. E esta, em que interpreta Fábio, um colega de trabalho de Rita, “o comic relief de grande parte desta situação”, é um trunfo especial. “É muito importante, porque foi o primeiro trabalho que fiz verdadeiramente como actor depois de sair da escola. Ou seja, gravámos isto mais ou menos há um ano. Eu tinha feito uma incursão muito rápida noutra série que também vai estrear na RTP, que se chama Prisma, da Sónia Balacó e do Zé Bernardino, que é outro universo [...]. Então, de repente, todas as coisas que aprendi, estava a tentar aplicar no primeiro dia, sabes? Mas foi óptimo. Acho que é, talvez, a primeira coisa mais visível [que faço] depois desse tempo fora”. Sobre Erro 404, Rui Maria Pêgo acredita que “a tecnologia, neste tempo de consumo, nos afasta da nossa verdadeira identidade”, e deixa algumas perguntas: “De que forma é que nos queremos nos afastar da nossa identidade por completo? Como é que este ritmo, que é tão alucinante, muitas vezes nos apaga e nos tira a nossa cor?” O actor (e também voz da rádio) defende que Erro 404 é “um bom exercício sobre isso” e sobre “até onde queremos ir para nos alienarmos”.

Marisa Liz
©nashdoesworkErro 404

Além do elenco principal há dezenas de pequenas participações, com destaque para Ana Padrão, Márcia Breia, Sandra Faleiro, Paulo Calatré, Tomás Taborda, entre muitos outros. Incluindo os músicos Dino D’Santiago e também Marisa Liz, no papel de eles próprios. Aliás, a participação de Marisa Liz foi largamente elogiada por Patrícia Sequeira que a descreveu como uma “actriz extraordinária”. “De repente, há uma vida da Inês que é uma pessoa famosa e ela vai entrar na vida da Marisa. E vou vos dizer que, sinceramente, tive o maior desafio da minha vida: tentar pôr a Marisa Liz a cantar mal.” Olhando para a cantora, disse: “Só uma grande actriz, só uma grande cantora muito generosa consegue ter o fair play que tiveste em fazer esta série”. No final da apresentação, Marisa Liz fez um pequeno showcase. Mas sem desafinar.

O primeiro episódio de Erro 404 estreia a 11 de Março na RTP1, a seguir ao Telejornal, substituindo a série Matilha na grelha de segunda-feira no canal público de televisão. Como tem sido hábito, ficará também disponível no streaming da RTP Play.

RTP1/ RTP Play. Estreia a 11 de Março às 21.00

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