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Interesse público, “estado lastimável”. Associação chama atenção para três edifícios em Lisboa

“O património azulejar continua a ser diariamente desmantelado e saqueado”, sublinha o Fórum Cidadania Lx, apelando a “novas medidas com vista à efectiva salvaguarda do azulejo”.

Rute Barbedo
Escrito por
Rute Barbedo
Jornalista
Número 74 da Av. Almirante Reis
DR/Fórum Cidadania LxNúmero 74 da Av. Almirante Reis
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Os apelos são dirigidos ao Ministério da Cultura e à vereação do Urbanismo da Câmara Municipal de Lisboa (CML) e recaem sobre algo que a associação Fórum Cidadania Lx considera ser um "património identitário nacional", o azulejo, que "continua a ser diariamente desmantelado e saqueado". Para a associação, em acordo com o recém-criado Movimento de Acção pela Protecção do Azulejo, a lei actual que visa proteger este património é "curta", ao esquecer "o imenso património azulejar de interiores", e "inócua, uma vez que a sua aplicação prática esbarra na falta de meios e vontade das autarquias em a fazerem cumprir".

Em paralelo, estão "por criar os chamados 'bancos de azulejos'", para que exemplares originais possam ser devidamente reservados e catalogados, "não há divulgação das técnicas de conservação e remoção dos azulejos, existe um total desconhecimento da lei por parte de promotores, projectistas e técnicos camarários, continua a ser corrente a venda ilegal de azulejos, não há fiscalização, nem sanções aos prevaricadores", enumera a associação na carta endereçada ao Ministério. "Para que possamos salvar os azulejos que ainda existem", o Fórum pede "uma série de alterações à Lei nº 79/2017". À CML, em particular, exige serviços "mais activos e eficazes aquando da apreciação e do licenciamento de projectos urbanísticos relativos a edifícios com fachadas azulejares, uma vez que até agora o empenho e a pró-actividade da CML têm sido quase nenhuns desde que a lei está em vigor, fazendo depender a sua acção dos alertas esporádicos que lhes vão chegando", alega.

Da Almirante Reis ao antigo Convento da Graça

Concretizando o problema, a associação chama a atenção para três casos específicos e "urgentes" de edifícios em Lisboa, classificados como imóveis de interesse público e cujas fachadas têm sofrido pelo incumprimento ou insuficiência da lei.

O número 74 da Avenida Almirante Reis

Data de 1908 e é propriedade da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), exibindo uma fachada e interiores de Arte Nova. É considerado Imóvel de Interesse Público desde 1978 e chegou a albergar a Casa da Fotografia, mas, apesar disso, encontra-se num "estado lastimável", qualifica a associação, sublinhando o facto de o projecto de conservação e recuperação do edifício, anunciado pela SCML em 2021, nunca ter sido implementado.

Quartel da Graça

É monumento nacional, mas nem por isso o título faz com que os azulejos do antigo convento, que começou a ser construído no século XIII junto ao Largo da Graça, gozem da devida protecção. Ao longo dos anos, vão desaparecendo exemplares de cerâmica do local que aguarda a sua conversão para hotel de cinco estrelas, por parte do grupo Sana. A transformação do quartel foi anunciada em 2019, sob a égide do programa Revive, mas no ano passado o grupo hoteleiro foi obrigado a alterar o projecto “nas vertentes de arqueologia, arquitetura e arquitetura paisagista”, de acordo com a informação prestada ao jornal Eco pela Câmara de Lisboa. Assim, a abertura do hotel, que estava programada para 2022, ainda não tem data à vista e, enquanto nada acontece, o património degrada-se.

Quartel da Graça
DR/Turismo de PortugalQuartel da Graça

Balneário D. Maria II

Integrado nos terrenos do antigo Hospital Psiquiátrico Miguel Bombarda, este edifício foi construído em 1853 para que aqui se proporcionassem banhos terapêuticos, e funcionassem as caldeiras e a cozinha industrial do complexo. Propriedade da Estamo, que gere o património público do Estado, mistura traços renascentistas e góticos e exibe um revestimento em azulejo que está em "estado precário há mais de 10 anos", aponta o Fórum. "O seu proprietário, a Estamo, continua sem proceder a qualquer obra de conservação, fazendo depender essa obra do futuro do PIP [Pedido de Informação Prévia] em apreciação nos serviços da CML [Câmara Municipal de Lisboa], o que não compreendemos, uma vez que, seja qual for o futuro desse ou doutro PIP, o Balneário será sempre um equipamento cultural", alerta o colectivo.

Balneário D. Maria II
DR/Lisboa S.O.S.Pormenor do Balneário D. Maria II

Em Outubro, o Fórum Cidadania Lx havia emitido, também, um pedido de classificação de 16 painéis publicitários em azulejo no concelho de Lisboa, chamando a atenção para a sua estética e forma como transformaram a paisagem da cidade. Classificá-los seria, assim, uma forma da catalogar o património e impedir a sua deterioração.

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