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Irmã d’O Velho Eurico, a Baldracca é uma tasca cheia de onda e boa comida

Pedro Monteiro, chef da Fábrica da Musa e do colectivo NKOTB, abriu um restaurante na Mouraria. Os pratos são para partilhar e o difícil pode ser dar conta da carta.

Cláudia Lima Carvalho
Editora de Comer & Beber, Time Out Lisboa
Tasca Baldracca
Mariana Valle LimaPedro Monteiro (à direita) e Bruno Gama, ao lado, com a equipa
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No dicionário, uma tasca é um “estabelecimento modesto que vende bebidas e refeições”. Uma explicação demasiado vaga para definir a Tasca Baldracca, que tem como cara principal Pedro Monteiro, o chef da Fábrica da Musa e membro do colectivo New Kids On The Block (NKOTB). O sítio até pode ser modesto, mas o que não lhe falta é onda e comida da boa feita com toda a técnica e sem qualquer presunção. É para se estar e se deixar estar, entre um copo e outro.

Quem chegou a conhecer a Cantina Baldracca, onde as pizzas a preços acessíveis fizeram sucesso, vai perceber que pouco mudou no número 1 da Rua das Farinhas. Pelos menos, aparentemente. O mural que dá vida ao espaço mantém-se, bem como a disposição das mesas e a porta aberta para a rua. Mas o que aconteceu ali, na verdade, foi praticamente uma revolução. 

Tasca Baldracca
Mariana Valle Lima

A cozinha, ao fundo, foi até aumentada para que Pedro Monteiro e companhia conseguissem ter espaço para fazer tudo a que se propõem. Pizzas, nem vê-las. À semelhança do que acontece no vizinho e irmão O Velho Eurico, o conceito aqui é a partilha, mas não tanto de raiz tradicional como na tasca de Zé Paulo Rocha e Fábio Algarvio. “Eu gosto de dizer que temos uma pegada ibérica, é cozinha portuguesa e espanhola com algumas técnicas de lá e cá, e de vez em quando vamos pincelando com algumas coisas e produtos brasileiros. É uma mistura, uma espécie de Brasil ibérico”, diz em tom de brincadeira Pedro Monteiro, revelando que sonhava há muito tempo ter um restaurante nesta rua. 

Tasca Baldracca
Mariana Valle Lima

“Eu moro nesta zona faz oito anos. Adoro essa rua, desde sempre quis ter alguma coisa aqui, mas ainda bem que não tive antes porque não tinha muita experiência. Tentei ficar com uma loja ali em baixo e não deu certo, e depois apareceu esta oportunidade. Isto estava fechado, então chamei malta amiga para trabalhar comigo”, conta o cozinheiro, que chegou a Portugal vindo de Minas Gerais em 2014. Por cá, trabalhou no Via Graça e na Taberna Sal Grosso, e desde 2020 que está à frente da cozinha da Fábrica da Musa, onde continua, apesar desta nova aventura. “O meu braço direito lá é o Octávio [Delmonte] e, quando surgiu esta oportunidade, ajudou-me muito a fazer as coisas acontecerem e por isso chamei-o para ser meu sócio aqui.” À dupla, juntou-se Bruno Gama. “Temos quase um casamento, dividimos um apartamento há seis anos e é um grande cozinheiro. Trabalhei com ele há seis anos, depois cada um teve outras cenas.” Até agora. Todos eles, cozinham e servem à mesa, sem tretas e com toda a descontração. 

Tasca Baldracca
Mariana Valle Lima

A carta anuncia-se numa ardósia e não tem nada que saber. “A receita do bolo já está montada e funciona. Para duas pessoas, o ideal são três/quatro pratos. Tem gente que come mais, gente que come menos”, explica Pedro. E nós acrescentamos em jeito de aviso: o couvert (7€) não é de se passar, com pão da The Millstone Sourdough, uma manteiga fermentada na casa, quase a saber a queijo, um paté de fígado também caseiro e umas inusitadas azeitonas panadas. 

Tasca Baldracca
Mariana Valle LimaTártaro de novilho, mayo anchova

Quanto aos pratos, são várias as opções – tantas que vai querer voltar para provar tudo. Com o tártaro de novilho (11€), que chega à mesa com anchovas, maionese e mostarda caseiras e a massa dos pastéis de vento, o leitão com uma pele crocante (13€), “como se come em Minas Gerais”, e que acompanha com uma salada de laranja e funcho, e a bochecha de novilho, castanha e glace (13€), fica bem servido. Mas também não se arrependerá se avançar para o choco (12€), cortado em pequenos pedaços e servido em cima de uma generosa fatia de pão torrado, com chouriço e mergulhado num guloso molho bernaise. 

Tasca Baldracca
Mariana Valle LimaChoco, chouriço, bernaise

Para estômagos mais aventureiros há pratos fora da caixa como o escabeche de língua (10€), a dobrada panada (6€), as moelas em tempura (7,5€) ou o scotch egg com morcela e chutney de maçã (6€). Na sobremesa, vale a pena descobrir a tarte de queijo e goiabada (5€). 

Tasca Baldracca
Mariana Valle LimaLeitão, laranja, funcho

Quem segue Pedro Monteiro há mais tempo pode reconhecer uma ou outra coisa, como os ovos, que já foram feitos na Musa, mas no geral é tudo uma novidade. “Aqui temos uma pegada mais de restaurante. Na Musa a comida é mais pensada para bar”, acrescenta o chef, contando que na nova vida da cervejeira, que fechará já no final deste mês para abrir num novo espaço sobre o qual nada se sabe ainda, talvez haja mais espaço para a cozinha. 

Tasca Baldracca
Mariana Valle LimaTarte de queijo e goiabada

Na Tasca Baldracca, até o ambiente é diferente. “Eu gosto de tascas. Quando os clientes chegam aqui eu já aviso que vai ser barulhento.” E, apesar do pouco tempo de portas abertas, há pouco mais de um mês, o barulho já se começa a sentir. “Temos a vantagem de sermos irmãos do Velho Eurico. O Zé Paulo foi meu cozinheiro no Sal Grosso. Quando estão cheios ali, mandam o pessoal para aqui e do nada isto fica cheio”, diz. 

Mas a partilha com os amigos da tasca vizinha não se fica por aqui. “Estamos a fazer uma coisa muito bacana, que é o staff meal para a gente não ficar entediado a fazer comida. Cada dia um de nós faz a comida. Um dia pessoal do Eurico vem cá comer, outro dia vamos para lá também.” Quem sabe, alguma aventura destas possa chegar à carta em breve, uma vez que Pedro garante que alguns pratos vão mudando conforme a época. 

Tasca Baldracca
Mariana Valle Lima

No final, se quiser, pode deixar a sua marca na casa de banho, onde não faltam canetas e marcadores para dar largas à imaginação. O que é preciso é atitude. 

R. das Farinhas 1 (Mouraria). Ter-Sáb 12.30-15.00, 20.00-23.00

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