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“Já tínhamos o Rui Costa a dar nome à Damaia, agora temos o pastel de nata”

O concurso do melhor pastel de nata premiou uma pequena padaria na Damaia, onde a vida não voltará a ser mesma. O pastel de nata custa 0,85€.

Cláudia Lima Carvalho
Editora de Comer & Beber, Time Out Lisboa
Padaria da Né
Mariana Valle LimaUma família vencedora: Hélio, Né e Paulo
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Na Rua Carvalho Araújo, na Damaia, há um aparato como poucas vezes se vê por aqui. Na Padaria da Né, que viu na segunda-feira o seu pastel de nata ser considerado o melhor de Lisboa, a fila ora chega à estrada, ora alonga-se pelo passeio. Né nem sabe para que lado se virar, há jornalistas, como nós, a baterem-lhe à porta, há clientes de sempre que fazem questão de lhe dar os parabéns pessoalmente e há os curiosos que ali acorreram em força para provar o agora famoso pastel de nata. Lá dentro, na fábrica, não há mãos a medir – pouco antes do almoço de terça-feira já tinham sido feitos mais de mil pastéis de nata. 

“Até fui comprar formas para não ficarmos mal”, diz Né, que mal consegue acabar uma frase, tantas são as solicitações. “Eu não sou nada virada para o mundo do Instagram e do Facebook, mas quando ficámos nos 12 finalistas, logo no dia a seguir notou-se um aumento na procura, tudo vinha aqui, alguns até nos mostravam a notícias nos telemóveis.”

Padaria da Né
Mariana Valle Lima

Agora coroados, o interesse explodiu. Ainda estavam em Oeiras, no Congresso dos Cozinheiros, na segunda-feira, onde foi anunciado o vencedor do concurso, quando as encomendas começaram a disparar. Mas nada os preparava para este dia. “Ficamos sempre surpresos. Nós fomos para ganhar, mas estavam lá pastelarias de nome, com muita história. Eu dizia que o segundo era nosso, mas quando ficámos em primeiro foi muito bom”, continua Né, para logo ser interrompida por uma cliente antiga que ainda não sabia o resultado. “Ganhámos”, diz-lhe a responsável. “Yes, eu sabia, disse-vos logo”, reage de imediato Aida Dias, que mora a poucas portas dali. 

“Venho aqui todos os dias, são uma simpatia”, conta a vizinha. “Olhe que estes pastéis de nata não ficam nada atrás dos Pastéis de Belém. E não são só as natas, os bolos também, e o pão, é tudo bom.”

Padaria da Né
Mariana Valle Lima

Foi com o pão que tudo começou, em Mafra. Há seis anos, mudaram-se para a Damaia, com a padaria e a fábrica a partilharem o espaço. Depois, o negócio expandiu-se para Odivelas e para a Reboleira. “Não somos uma pastelaria fina”, explica Né. Não há sequer espaço para sentar, apenas uma mesa de apoio ao balcão. Também por isso o preço do pastel de nata, um preço difícil de encontrar: 0,85€. “Somos uma empresa familiar, vínhamos do pão. Começámos a fazer bolos depois e com os anos temos vindo a aperfeiçoar.”

Né dá a cara, faz tudo e dá ordens, diz ela a brincar. No pão está o seu marido Paulo e na pastelaria o filho Hélio. Já tinham pensado em concorrer a este concurso, “mas o Hélio dizia que ainda não estava na altura, que ainda tinha de aperfeiçoar a massa”.

Na receita do pastel de nata, não há segredos nem invenções. “A receita é a tradicional e depois costumo dizer que é feita com amor. O Hélio é muito empenhado com o que faz.”

Padaria da Né
Mariana Valle Lima

Lá dentro, escondido da vista de quem chega, Hélio está de volta dos pastéis de nata. A afluência e as encomendas não o deixam sossegar, mas ele não quebra. “Já gostamos disto e hoje ainda gostamos mais”, diz. “É uma felicidade incrível. Nós estávamos confiantes, mas o resto da malta era boa, os outros pastéis estavam bons, com uma grande qualidade.” Nem por isso o pasteleiro duvidou do seu trabalho: “Sabíamos o que estávamos a fazer e estávamos muito confiantes”.

A ideia de participar no concurso surgiu dos amigos da Casa do Padeiro, em Odivelas. “Só estar na final, entre os 42 que participaram, já foi incrível. Ganhar foi incrível.” O segredo? “O empenho de toda a gente, remarmos todos para o mesmo lado e gostarmos todos de cá andar”, aponta Hélio, com dificuldades em explicar o que torna o seu pastel de nata no melhor de Lisboa. “Os folhados são todos água, sal e manteiga. São as mãos de quem o faz. Os limões são da zona do Oeste, se calhar isso faz a diferença”, diz, ao mesmo tempo que solta uma gargalhada. “Tentamos fazer bem e não andar só por andar.”

Padaria da Né
Mariana Valle Lima

Quando participaram, queriam dar a conhecer o nome. “Até porque somos uma padaria e isso não é muito normal. O nosso forte é o pão e a pastelaria veio por acréscimo. Agora, têm aparecido muitas pessoas novas.”

Para Né, não há dúvidas. A sua padaria é motivo mais do que suficiente para uma ida a esta zona da Amadora. “Já tínhamos o Rui Costa a dar nome à Damaia, agora temos o pastel de nata.”

R. Carvalho Araújo 7 (Damaia, Amadora). Seg-Sex 07.00-19.00. Sáb 07.00-13.00. 

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