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Junta de Arroios pressiona comerciantes a retirar esplanadas-Covid e contestação reacende

No final de 2023, Junta tinha ordenado remoção de esplanadas em lugares de estacionamento e agora lança ultimato. Assunto é discutido esta quinta-feira em assembleia e população está a mobilizar-se.

Rute Barbedo
Escrito por
Rute Barbedo
Jornalista
A Viagem das Horas, em Arroios
DRA Viagem das Horas, em Arroios
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Depois de ter enviado cartas aos comerciantes da freguesia a exigir a retirada de esplanadas de lugares de estacionamento, a Junta de Freguesia de Arroios volta a reclamar o seu fim, para devolver lugares de estacionamento e descanso aos moradores. A medida gerou indignação entre residentes e comerciantes e, esta quinta-feira, 27 de Junho, às 21.00, no Lisboa Ginásio Clube, o tema vai estar em destaque na Assembleia de Freguesia de Arroios.

Enquanto, para muitos moradores, acabar com o ruído é uma prioridade, para outros (e também comerciantes), eliminar estes espaços de convívio da freguesia é retirar-lhe vida. O assunto foi também levado ontem, 26 de Junho, pelo bloquista Ricardo Moreira à reunião pública da Câmara Municipal de Lisboa, que apontou a retirada de 38 esplanadas para devolver estacionamento aos moradores numa freguesia "que já tem 7500" lugares, criticou. 

Do lado da Junta de Freguesia de Arroios, foi anunciado também nesta quarta-feira que as "40 esplanadas temporárias e gratuitas até ao final de 2023", criadas durante a pandemia, devem deixar de funcionar porque "alguns estabelecimentos cumpriram a resolução da Junta de Freguesia [de retirar as esplanadas dos lugares de estacionamento até ao final de 2023, conforme lhes foi exigido pela Junta por carta], mas outros mantiveram os espaços abertos e a funcionar". "Com o avolumar das queixas de residentes e moradores, que têm o direito a um descanso que é colocado permanentemente em causa, a Junta de Freguesia de Arroios não pode tomar outra decisão senão requerer que as mesmas sejam removidas o mais rapidamente possível, tal como já foram noutras freguesias de Lisboa", informa o organismo através das redes sociais. Perante o facto de alguns comerciantes terem considerado que o que seria provisório na questão das esplanadas seria a sua gratuidade e não a sua autorização, a Junta esclarece, ainda, que "a questão não tem a ver com qualquer tipo de pagamento". Mas a decisão é tudo menos consensual.

"Tiro ao bairro" ou "a cidade é para os carros"

Para o antigo ministro João Galamba, morador de Arroios, "que tem carro" e "imensa dificuldade em estacionar", "a presidente da Junta de Arroios decidiu fazer tiro ao bairro", que se tornou num dos "mais interessantes da cidade" devido também às esplanadas, afirma na rede social X. "É um gosto passear ao entardecer e à noite e ver o que existe de cafés, bares, mercearias, espaços com gente, todo o tipo de gente. Regredir nisso é simplesmente estúpido. É não perceber que Arroios tem hoje o que muitos bairros gostariam de ter." Já o humorista Diogo Faro afirma, com ironia, num vídeo publicado no Instagram, que "nada melhor como a autoridade reaccionária e conservadora para lembrar os boémios que gostam de estar na esplanada a beber copos (...) que a cidade é para os carros e não para as pessoas". Multiplicam-se, aliás, os comentários de moradores e figuras públicas criticando o posicionamento da Junta, com um dos estabelecimentos da freguesia, entre outros, a incentivar à participação na assembleia pública desta noite: "Quem quiser falar amanhã na assembleia da junta que começa às 21.00 no Lisboa Ginásio Clube – Rua dos Anjos 63 – envie um email para geral@jfarroios.pt. Também se pode inscrever na altura", pode ler-se na página do estabelecimento A Viagem das Horas.

Lista de esplanadas afectada, partilhada por quem contesta o fecho
DRContestatários da medida fazem circular lista de esplanadas afectada

Já entre os Vizinhos de Arroios, as opiniões pendem para outro lado. "Numa primeira fase [as esplanadas] desempenharam um papel importante para manter os cafés e restaurantes da freguesia, mas rapidamente se tornaram num problema. Isto porque muitos estabelecimentos passaram a funcionar 'a céu aberto'. Onde antes havia paz e sossego passaram a estar dezenas (ou centenas) de pessoas a consumir álcool na rua (na esplanada e não só) causando ruído, confusão e insalubridade em zonas onde nunca tinham havido queixas. Como tivemos oportunidade de dizer várias vezes, esta é uma decisão que agrada aos moradores e que foi muitas vezes elogiada em assembleias de freguesia, assembleias municipais e reuniões de Câmara", pode-se ler-se na página de Instagram do grupo.

A 7 de Junho, a Junta de Arroios deliberou que os comerciantes que mantêm esplanadas a funcionar na freguesia teriam cinco dias úteis para retirá-las das ruas. Quem não o fizer está sujeito a vê-las serem apreendidas e removidas coercivamente, com os custos inerentes imputados aos respectivos estabelecimentos, na terminologia usada pelo organismo. 

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