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Laranja Tigre: uma cozinha goesa contemporânea no Bairro Alto

Abriu no lugar do antigo restaurante indiano Calcutá. Está mais luminoso e cheio de vida. A carta é do chef Hugo Brito, do Boi-Cavalo.

Cláudia Lima Carvalho
Editora de Comer & Beber, Time Out Lisboa
Laranja Tigre
Francisco Romão Pereira Laranja Tigre
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Talvez por pertencer a um jornalista que viveu os tempos áureos do Bairro Alto, onde se reuniam jornalistas, mas também intelectuais, políticos e artistas, o novo Laranja Tigre tem-se tornado por estes dias num ponto de encontro. Nasceu no lugar do antigo Calcutá e é a Goa que Hugo Brito, chef do Boi-Cavalo e responsável aqui pela carta, foi buscar o receituário, acrescentando-lhe o seu toque, sem grandes fundamentalismos. 

Laranja Tigre
Francisco Romão Pereira

Foi quando trabalhava n’A Bola que Afonso de Melo descobriu o Calcutá, onde se fidelizou como cliente. Ali, passou grandes serões à volta da mesa, levou amigos e fez daquela uma das suas moradas (ao ponto de chegar a ficar com a chave do restaurante). Com o tempo, porém, o restaurante indiano foi perdendo a sua aura. Afonso não fez por menos: desafiou Ricardo Regal, sócio do Boi-Cavalo, e os dois ficaram com o espaço e criaram o Laranja Tigre, que abriu timidamente no Verão. O nome foi tirado do livro de Afonso, Uma Sombra Laranja-Tigre, cuja história se desenrola em Colva, em Goa – e percebe-se, assim, de onde vem a paixão pela cozinha goesa. 

Laranja Tigre
Francisco Romão PereiraHá três variedades de chamuças

No Laranja Tigre, a cozinha é goesa, mas se não pode dizer que seja tradicional. É contemporânea, de autor qb, ou não tivesse sido desenvolvida por Hugo Brito, chef de um dos restaurantes mais disruptivos e criativos de Lisboa, o Boi-Cavalo. “O Boi sempre foi essa coisa de se mudar constantemente os pratos, é fruto de muita criatividade, desenhou-se dessa maneira, mas os restaurantes não têm de ser todos assim, pode haver um restaurante que tem sempre a mesma ementa”, diz Hugo Brito, desempoeirado como sempre. 

Laranja Tigre
Francisco Romão PereiraBaji-puri de batata-doce de Aljezur

Para chegar à carta que hoje o restaurante apresenta, o chef estudou o receituário goês, sabendo que essa não é a sua história, nem é, na verdade, a história de Afonso ou Ricardo. Também por isso, Hugo Brito não quis amarras, partiu dos livros e acrescentou-lhe o seu toque. Veja-se o exemplo da chamuça de frango assado (2,50€).”Vamos buscar os frangos à Casa da Índia aqui ao lado para fazermos estas chamuças”, revela o chef. Também há de garoupa (3€) e de vegetais (2,50€) – e quem sabe não surjam até outras combinações. 

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Francisco Romão PereiraXec xec de caranquejo de casca mole

Nas entradas, destacam-se ainda as pakoras de camarão e Bulhão Pato (6€) ou os baji-puri de batata-doce de Aljezur (5€). Já nos pratos principais, são muitas as opções, todas elas também perfeitas para serem partilhadas, do xec xec de caranquejo de casca mole (18€), ao sarapatel (14€) ou ao caril de camarão tigre (17€). O pica-pau de novilho açoreano à Cafreal (16€) e o vindalho de cachaço de porco ibério (15€) saem da caixa e já fazem sucesso. Há ainda, por exemplo, um caril de tomate e ovos a 65º (12€) ou um caril de beringela fumada (13€). 

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Francisco Romão PereiraCaril de camarão tigre

“Eu desenhei a carta toda para não ter que a cozinhar porque eu não estou cá. Eu venho e afino, provo coisas”, explica Hugo Brito, para deixar claro que este não é um restaurante de chef, embora se note o seu dedo. “Eu tenho 20 anos disto e adquiri outro tipo de skills, eu desenhei os pratos para skills diferentes”, acrescenta. “Não queremos ser fetichistas em relação ao produto ou à sazonalidade, não queremos que o discurso seja esse, mas queremos que isso influencie a maneira como trabalhamos. É uma questão de bom senso, as coisas são melhores na época”, continua. Quer isto dizer que consoante a estação pode mudar um ou outro ingrediente, mas nunca nada muito significativo. 

As sobremesas são três: mousse de chocolate com manga desidratada (6€), arroz doce com creme ácido de goiaba (5€) e bebinca (5€), esta última feita fora do restaurante “por uma senhora que já a faz tão bem que não vale a pena inventar”, justifica Hugo Brito.

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Francisco Romão PereiraBebinca

Ao almoço, de terça a sexta-feira, há dois menus bem em conta, um de 14€ e outro de 17€, que incluem entrada, prato e sobremesa, além de uma bebida (cerveja, copo de vinho, refrigerante ou água, e café). “O que os distingue são os pratos à escolha. Os pratos mais caros da carta, como o caril de camarão ou o xec xec de caranguejo, entram no menu de 17€ e os mais baratos no menu de 14€”, contextualiza Ricardo Regal, ao mesmo tempo que faz um balanço positivo dos primeiros meses de portas abertas. “De repente, as pessoas começaram a falar e a comentar e temos tido noites cheias.”

Rua do Norte 17 (Bairro Alto). 21 346 1292. Ter-Dom 12.00-00.00

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