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Lee Miller, a modelo que fotografou a guerra para a ‘Vogue’

A história da produção de ‘Lee Miller: Na Linha da Frente’, com Kate Winslet no papel da modelo, fotógrafa e fotojornalista americana, que se estreia esta semana.

Escrito por
Eurico de Barros
Lee Miller: Na Linha da Frente
Kimberley FrenchLee Miller: Na Linha da Frente
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Apenas com 20 anos, em 1927, Elizabeth “Lee” Miller era uma das modelos mais famosas e procuradas dos EUA, tendo aparecido na capa da Vogue, entre outras revistas de moda. Apaixonada por fotografia, cujas técnicas tinha aprendido com o seu pai, Theodore, um fotógrafo amador para o qual tinha também servido como modelo, a rebelde e aventurosa Lee instalou-se em Paris, em 1929, com a intenção de ser aprendiz do artista e fotógrafo surrealista Man Ray, do qual acabou por se tornar amante, bem como colaboradora (a sua relação acabaria precisamente devido a uma violenta zanga sobre a autoria de muitos dos seus trabalhos. Lee queria que o seu nome constasse também neles, o que lhe foi negado por Man Ray).

Em França, Lee Miller conheceu e conviveu com nomes como Pablo Picasso, Paul Éluard ou Jean Cocteau. De regresso a Nova Iorque, em 1932, abriu ali um estúdio fotográfico e começou a trabalhar para muitas grandes marcas, ao mesmo tempo que participava em exposições colectivas, onde as suas fotos apareceram ao lado das de fotógrafos como Margaret Bourke-White, Cecil Beaton ou Tina Modotti. A viver em Londres com o pintor e curador inglês Roland Penrose, quando eclodiu a II Guerra Mundial, Lee Miller conseguiu uma acreditação como fotógrafa de guerra para a Vogue (foi apenas uma de quatro mulheres a obtê-la), iniciando assim uma nova carreira como fotojornalista.

Destacaram-se, entre outros, os seus impressionantes trabalhos sobre a libertação de Paris ou os campos de concentração de Dachau e Buchenwald, na companhia do seu amigo e colega David Scherman, da revista Life. Ficou também célebre a foto, tirada por Scherman, de Miller a tomar banho na banheira do apartamento de Adolf Hitler em Munique, a 30 de Abril de 1945, dia do suicídio daquele. Após a guerra, Lee Miller foi viver definitivamente para Inglaterra com Roland Penrose, numa casa de campo no Sussex, frequentada com regularidade por todos os seus amigos artistas. Continuou a trabalhar como fotógrafa, mas cada vez mais ocasionalmente, nas décadas de 50 e 60. Morreu aos 70 anos, em 1977.

São precisamente os anos de fotojornalismo durante a II Guerra Mundial que ocupam a parte de leão do filme Lee Miller: Na Linha da Frente, realizado em estreia pela directora de fotografia Ellen Kuras, com Kate Winslet, que também é produtora, no papel de Lee Miller. A fita baseia-se em The Lives of Lee Miller, a biografia escrita pelo seu seu único filho, Antony Penrose, e surgiu da coincidência de duas vontades: a de Kuras de fazer um filme sobre ela, para o que enviou um exemplar do livro a Winslet, com a qual tinha trabalhado em dois filmes, O Despertar da Mente e Nos Jardins do Rei, e que achava muito parecida com a modelo, fotógrafa e fotojornalista; e a da actriz, que há alguns anos queria fazer um filme sobre Lee Miller, e a contactou para ser a realizadora. Kate Winslet conseguiu também, da família da biografada, pleno acesso a todo o seu arquivo fotográfico.

Escrito por Liz Hannah, Marion Hume e John Collee, Lee Miller: Na Linha da Frente levou quase dez anos a concretizar, e apesar da sua fama, Kate Winslet enfrentou várias dificuldades para o conseguir financiar. Um dos realizadores que Winslet contactou chegou a dizer-lhe que o rodaria, se ela entrasse de borla no seu novo filme, e a certa altura, a intérprete de Titanic teve mesmo que custear do seu bolso, durante duas semanas, os salários do elenco e da equipa técnica. Mas o filme, que foi rodado na Croácia e na Hungria, acabou por ser levado a bom porto. Além de Kate Winslet, Lee Miller: Na Linha da Frente é interpretado por Marion Cotillard, Andy Samberg, Andrea Riseborough, Alexander Skarsgard, Josh O’Connor e Noémie Merlant. Curiosidade: várias das fotos que aparecem no filme foram tiradas pela própria Kate Winslet, também ela apaixonada por fotografia, durante a rodagem, e combinadas com as do acervo de Lee Miller que a produção seleccionou e usou.

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