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Lição de Geographia

Escrito por
Inês Garcia
Geographia
Fotografia: Manuel Manso
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Nesta sala de aula aprende-se a falar português de faca e garfo. Fomos conhecer o novo restaurante de cozinha de fusão nacional Geographia. 

Todos juntos:“Já fui ao Brasil/ Praia e Bissau/ Angola Moçambique/ Goa e Macau/Ai, fui até Timor...” Inevitável entoar a eterna “O Conquistador” no novo Geographia, mas aqui não foram os Da Vinci a conquistar. Rúben Obadia, Miguel Júdice e Lucyna Szymanska não cantam, mas fizeram um grande trabalho de investigação sobre a cozinha de língua portuguesa para abrir este restaurante em frente ao Museu Nacional de Arte Antiga.

Geographia

Fotografia: Manuel Manso

“Não é comida de saudade, não é uma comida que procura o revivalismo nem é uma ode ao colonialismo”, garante Rúben. É, antes, uma homenagem com pratos reinterpretados que fazem uma fusão de culturas, tradições e ingredientes locais que os nossos conquistadores deixaram pelo mundo. “Há restaurantes de comida goesa, africana, angolana, moçambicana, brasileira e os tradicionais portugueses. Mas não havia nenhum que fizesse a síntese disso tudo. De Portugal enquanto nação universalista que, no fundo, abriu as portas ao mundo”, explica um dos sócios. Com o sítio escolhido, começaram a ligar a amigos de amigos. Suzana, a gerente macaense, trouxe receitas de família.

As palavras-chave desta cozinha que fala português, transversais a toda a carta, são especiarias e frescos. Nas páginas do menu há ilustrações a aguarela com os vários países, retratos e a indicação, por baixo de cada prato, da sua origem. Para arrancar, tanto há entradas exclusivamente de Macau, como os dim sums de minchi, uma carne picada com molho de soja, com molho de pimentos doces (6,5€), como uma salada morna timorense com frango, batata doce, abóbora, grão, amêndoa, banana e laranja (7€). Os fritinhos de quatro continentes são o epicentro dessa cozinha de fusão que nada tem a ver com conceitos asiáticos: há um pastel de bacalhau que não leva batata mas antes mandioca, um croquete ou um frito com recheio de sardinha, servidos com um molho fresco de laranja e um aioli (6€). Depois há ainda Brasil e Portugal juntos numa sapateira que queria ser casquinha de siri (8€) ou numa sopa de peixe com maionese de garam masala a dar o toque goês (7€).

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Fritinhos dos quatro continentes
Fotografia: Manuel Manso

As opções continuam com um escondidinho, um prato típico do Nordeste brasileiro, feito com carne de sol, aqui também numa versão de puré de mandioca e leite de côco com bacalhau à Bulhão Pato (13€), uma moamba de peixe (13€) ou um bife de atum à portuguesa, que em tudo se assemelha ao nosso bife à portuguesa, com uma fatia de presunto, o ovo a cavalo e mandioca frita (15€).

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Moamba de Peixe
Fotografia: Manuel Manso

Nas carnes, um vindaloo de porco preto com cuscuz nordestino (14€), uma galinha do campo ao caril de amendoim de Moçambique (14€) , uma picanha maturada com um arroz com feijão manteiga, bacon e carne de sol (16€) e o honesto arroz gordo de Macau, com várias carnes e enchidos (14€). Sem nunca esquecer a cachupa vegetariana (12€). Se precisar de picante, há um de jindungo de Malanje artesanal, que em breve será vendido também no restaurante, numa linha de produtos Geographia que vai incluir café, chá, sacos de ráfia e pólos com um rinoceronte – o logótipo da casa.

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Picanha maturada com um arroz com feijão manteiga, bacon e carne de sol
Fotografia: Manuel Manso

Para sobremesa, mais doces do mundo: quindim com sorvete de caipirinha da Gelato Ricco (6€) – outro projecto fresco de Miguel Júdice no Chiado –, bebinca de sete camadas com gelado de baunilha (6,5€), leite creme com abacaxi caramelizado (5€), uma mousse de chocolate de São Tomé (5€) ou o mais simples portokal, um prato de laranjas com azeite virgem DOP e canela em pó (5€), conhecido até em países árabes.

Geographia

Fotografia: Manuel Manso

“Quem procura um prato específico, uma cachupa ou um caril de camarão, vai encontrar. Mas é a nossa reinterpretação, com certeza há casas em Lisboa que são especialistas nesse prato. Nós fizemos uma síntese”, explica Rúben. Nas bebidas, em vez de lassi de manga, o mais conhecido da Índia, há de banana, com a fruta da Madeira, ou um groguito, um mojito feito com grogue de Cabo Verde.

A própria localização ajuda a reforçar o conceito. Onde está agora o Geographia, com umas grandes janelas para a rua, tons entre o verde, o dourado e o terra, ficava o Lumar, um restaurante conhecido pelos grelhados mas que também ia tendo alguns pratos brasileiros e angolanos. À frente, o Museu Nacional de Arte Antiga, cuja exposição “Lisboa Cidade Global” serviu de inspiração. E até Madonna, a vizinha mais badalada, pode funcionar como marco de fusão (e sem problemas de estacionamento nas redondezas). “Esta zona é a next big thing de Lisboa”, acredita Rúben. Mais ainda com as obras de reabilitação da praça em frente.

Geographia

Fotografia: Manuel Manso

Como este restaurante é só lições de história e geografia, deixamos-lhe mais uma, sobre o rinoceronte Ulisses, que é imagem de marca. É uma réplica da xilogravura de Albrecht Dürer, que foi feita sem que ele tivesse alguma vez visto o animal que foi uma oferta do Sultão do Gujarat ao governador da Índia portuguesa, Afonso de Albuquerque, que o enviou depois ao rei D. Manuel I, em Maio de 1515. Na sala, mais um amigo: o macaco Magalhães, que viveu feliz no jardim zoológico de Lagos e, depois de morto, foi empalhado.

Rua do Conde, 1 (Janelas Verdes). 21 396 0036. Seg-Sáb 12.30-15.00/19.30-23.30.

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