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O primeiro túnel do Plano Geral de Drenagem de Lisboa está quase a bombar. Mas há dois, muito maiores, a caminho.
A primeira fase do Plano Geral de Drenagem de Lisboa (PGDL) está quase terminada. No final de Setembro a tuneladora do microtúnel (na imagem), com 310 metros de comprimento e 1,2 metros de diâmetro, no cruzamento da Avenida Infante D. Henrique com a Avenida de Berlim, chegou ao seu destino e até ao final do ano estão em curso as ligações à rede de saneamento. Uma estimativa que já tem em conta as chuvas que agora começam e que atrapalham os trabalhos, confirma à Time Out o engenheiro José Silva Ferreira, coordenador do PGDL.
Este plano tem por objectivo o escoar da água de chuvas intensas para o rio e fintar algumas das consequências das alterações climáticas, incluindo “a subida do nível médio das águas” e o “possível aumento da frequência e magnitude dos fenómenos extremos de precipitação em curtas durações”, como se lê no Orçamento Municipal de Lisboa para 2020. Fenómenos atmosféricos cada vez mais “violentos e inesperados”, acrescenta José Silva Ferreira, antes de garantir: “Vamos blindar a cidade destes eventos.”
Esta primeira operação serve a zona do Parque das Nações, mas em nada se compara às duas que se avizinham: dois túneis com 5,5 metros de diâmetro cada, que vão desviar as águas das zonas mais baixas em direcção ao rio Tejo. O mais extenso tem cinco quilómetros, ligando Monsanto a Santa Apolónia, e o que vai ligar Chelas ao Beato tem um quilómetro. Obras que primeiro têm de passar por um concurso público internacional, cuja data de entrega de propostas pelos concorrentes foi fixada em 13 de Janeiro de 2020.
As inundações mais espalhafatosas da cidade, em tempos recentes, ocorreram em 2014, a 22 de Setembro e a 13 de Outubro, e há ainda quem se lembre de ver mesas e cadeiras a boiar na Rua das Portas de Santo Antão. E foi por uma unha negra que o furacão Leslie, em Outubro de 2018, não apanhou Lisboa na curva – foi a Figueira da Foz que se viu a braços com o caos atmosférico. “A previsão era que se atravessasse Lisboa seria três vezes maior do que em 2014”, adianta José Silva Ferreira. Ora, o eixo Rua de São José/Rua das Portas de Santo Antão é actualmente uma das zonas mais problemáticas na drenagem pluvial da cidade, mas esse problema tem os dias contados: 2024 é o ano apontado para a conclusão do PGDL.
Há outras cidades no mundo com sistemas semelhantes, como Tóquio, Chicago, Sacramento, Cidade do México, Kuala Lumpur, Londres ou Paris. “Não somos pioneiros, mas não há muitos túneis que atravessem a cidade como os de Lisboa”, diz o coordenador do plano, sublinhando que o de Londres, em execução, segue por debaixo do Tamisa e os túneis de Paris são mais pequenos. “Não há memória de uma obra com este valor em Lisboa. Do ponto de vista técnico é uma obra ousada e vai ter resultados francamente bons. Temos de nos adaptar às alterações climáticas e preparamo-nos para as tempestades do século”.
Tentámos perceber se há algum fenómeno atmosférico fora do comum até ao final do ano, mas, segundo Vânia Lopes Brogueira (coordenadora do Gabinete de Comunicação do IPMA), não é possível uma previsão mais alargada que dez dias (e já com algumas reservas). “A tendência é que as estações sejam mais secas”, diz, mas ressalva que é muito difícil de antever a precipitação a médio prazo.