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Sabia que, há cerca de 100 anos, a Serra de Monsanto era completamente árida? Ou que a as várias pedreiras que existiram forneciam matéria prima para fazer a calçada portuguesa de Lisboa? Ou que, na década de 50, acolheu três corridas de Fórmula 1? A partir desta quinta-feira, 22 de Abril, poderá conhecer estes e muitos outros segredos na exposição “Nove Décadas do Parque Florestal de Monsanto”. Inaugurada no Centro de Interpretação de Monsanto, não só mostra a evolução do pulmão verde de Lisboa, como promove a actual consulta pública sobre a gestão da sua paisagem, na qual é convidado a participar até 3 de Maio.
“É uma espécie de túnel do tempo, para visitar o passado, o presente e o futuro do Parque Florestal de Monsanto, que não é, como muitos pensam, uma floresta autóctone. Foi construída pela mão do Homem e é, por isso, prova de que, afinal, o Homem não serve apenas para destruir”, assegura Rita Ramos, da equipa responsável pela concepção da exposição, em parceria com a Câmara Municipal de Lisboa. “Temos fotografias da Serra completamente nua, sem uma única árvore. Quem conhece hoje Monsanto, percebe essa mudança incrível. Mas as fotografias demonstram também a forma como se vivia naquela altura. E contar a história de um lugar é contar também a história das pessoas que viviam esse lugar, no antes e no depois.
Além de fotografias, a exposição inclui documentos escritos e testemunhos em vídeo de quem vive, trabalha ou frequenta Monsanto. “É preciso contar esta história enquanto ainda há pessoas que a podem contar na primeira pessoa, como, por exemplo, um senhor de 90 anos, que vive no bairro do Alvito desde os 14 anos e é literalmente a memória viva do parque em construção”, revela Rita, que convida as pessoas a visitar a exposição no local, onde já abriu ao público, ou a descobri-la online, a partir de 10 de Maio. “Não exclui a experiência física, mas o site, que vamos lançar, permitirá fazer a visita da mesma forma e inclui conteúdos extra.”
Do passado ao futuro de Monsanto
A origem do grande pulmão verde da capital remonta a 1934. Foi então que o ministro das obras públicas, Duarte Pacheco, determinou que a Câmara Municipal de Lisboa promovesse a criação, na Serra de Monsanto, de um parque florestal da cidade com uma área aproximada de 600 hectares. Agora, é o único parque florestal urbano da Europa com certificação florestal sustentável, com mil hectares de área florestal, mais de 250 mil árvores, dez hectares de reserva para a conservação da biodiversidade, 15 miradouros panorâmicos, 88 quilómetros de trilho, três rotas de BTT e muito, muito mais – desde 103 espécies de aves referenciadas até 157 espécies de cogumelos.
“Ainda hoje moro no bairro Alvito-Velho e lembro-me, desde menino, de vir ao Parque Florestal de Monsanto e fazer piqueniques neste lugar extraordinário. Nessa altura, nunca sonhei em ter a responsabilidade que agora tenho”, confessou, nesta sessão de debate e participação pública, o engenheiro Ângelo Mesquita, director de Ambiente, Estrutura Verde e Ambiente da Câmara Municipal de Lisboa. “Mas faz parte do meu imaginário e, ao longo destes anos todos, também assisti a toda a sua evolução, da criação do Parque Ecológico e do Centro de Reabilitação de Animais Silvestres até ao encerramento de algumas vias ao tráfego, que permite às pessoas circularem com mais segurança.”
Aprovada por unanimidade pela autarquia, a proposta de Estratégia de Gestão da Paisagem do Parque Florestal de Monsanto está disponível para consulta pública até 3 de Maio, data até à qual será possível enviar o seu contributo através de e-mail (dmaevce.dev@cm-lisboa.pt). Em causa, está a aceleração da naturalização do parque através de um conjunto de acções capazes de tornar a floresta mais resistente ao clima e mais rica em biodiversidade.
“Monsanto começou por ser criado a partir do conceito de pulmão verde do século XIX. Esse conceito entretanto evoluiu e hoje em dia não se desejam áreas localizadas e confinadas no espaço urbano, mas a criação de uma estrutura verde contínua”, diz a arquitecta paisagista Manuela Raposo Magalhães, professora e investigadora no Instituto Superior de Agronomia. “Com uma equipa de arquitectos paisagistas e fitossociólogos, a intervenção proposta tem uma componente ecológica, para renaturalizar e proteger contra o fogo, mas também uma componente cultural, com a promoção da caracterização e interpretação do parque.”
Centro de Interpretação de Monsanto. Seg-Sex 09.00-17.00. 218 170 200.
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