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Lisboa está entre as cinco cidades portuárias da União Europeia com maior concentração de gases poluentes emitidos por navios de cruzeiro, segundo um estudo da organização ambientalista europeia Transport & Environment, relativo a 2023, noticia o Diário de Notícias. A lista é liderada por Barcelona, com os portos de Civita Vecchia (Roma), Pireu (Atenas) e Palma de Maiorca a ocuparem os restantes lugares no que toca à concentração de óxido de enxofre (NO2) e de partículas finas.
Os principais motivos para o posicionamento da capital neste ranking são o aumento progressivo do número de navios a atracar no Porto de Lisboa, mas também a ausência de uma estrutura que permita aos navios carregarem energia enquanto estão parados. Como consequência, continuam a queimar combustível para se manterem em funcionamento, uma situação que se deve prolongar pelo menos até 2029, ano para o qual está prevista a conclusão da electrificação da infra-estrutura (o prazo imposto por Bruxelas termina em 2030, chama a atenção o DN). Terminado processo, a Administração do Porto de Lisboa prevê "reduzir as emissões de gases com efeitos de estufa em 77%”, declarou ao DN o CEO Carlos Correia.
A Transport & Environment indica, ainda, que, em 2022, os 218 navios de cruzeiro que circularam na Europa “emitiram mais gás sulfúrico tóxico do que mil milhões de automóveis”, o que representa “4,4 vezes mais do que todos ao automóveis que circulam no continente”. Associados a estas e outras partículas finas está o desenvolvimento de doenças respiratórias e o aumento do risco de patologias como o cancro de pulmão, cardiovasculares e do foro mental. O facto de cidades como Lisboa, Porto e Braga terem ultrapassado, em particular, o limite das concentrações de NO2 motivou o Tribunal de Justiça da União Europeia a mover uma acção contra Portugal, por incumprimento, no Verão de 2023.
Mais de 750 mil passageiros num ano
Em 2023, Lisboa recebeu 347 navios e mais de 750 mil passageiros, atingindo assim a maior marca de sempre neste âmbito – foram mais 54% do que no ano anterior. Neste embalo, o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, decidiu impor a cobrança de uma taxa turística também aos viajantes que chegam à cidade por via marítima (paga pelas empresas de cruzeiro), prevendo-se uma receita anual de 1,2 milhões de euros, além do impacto do turismo no comércio. De acordo com a estimativa do administrador do Porto de Lisboa, Carlos Correia, cada passageiro gastará "entre 82 e 400 euros", afirmou ao DN.
O impacto económico é menosprezado, no entanto, por vários municípios europeus quando o comparam com o saldo ambiental da actividade dos navios de cruzeiro. Em 2021, Veneza – a cidade onde um navio chegou a chocar contra o porto, gerando cinco feridos – deu o exemplo, barrando a entrada a grandes navios no centro histórico. Também Palma de Maiorca, que antecede Lisboa na lista de cidades mais poluídas de cruzeiros, está a planear reintroduzir (já o experimentou em 2022) limites à actividade portuária, impondo um máximo de três navios por dia, em que apenas um pode superar os 5000 passageiros, segundo a Euronews. No ano passado, Barcelona, que lidera o ranking da Transport & Environment, fechou o porto Norte da cidade e impôs um limite de sete navios por dia a atracar nos seus diferentes terminais. Também Santorini, na Grécia, e Dubrovnik, na Croácia, apertaram as regras às empresas de cruzeiro e, em Marselha, França, 50 mil pessoas assinaram, em 2022, uma petição contra esta forma de turismo. Já em Amesterdão, a decisão foi mais radical: banir, por completo, a entrada de cruzeiros no centro da cidade, com o objectivo duplo de reduzir a poluição e o número de turistas.
De acordo com a Associação Internacional de Empresas de Cruzeiro, o compromisso ambiental do sector é reduzir as emissões de carbono em 40% até 2030, com as organizações mais ambiciosas a assumirem a meta de zero emissões líquidas até 2050.
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