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Lisboa ganha 20 placas e uma estátua para lembrar cinco séculos de presença africana

Colocação de placas começou esta semana, depois de cinco anos de espera. Acção culmina no dia 13, com inauguração de estátua no Largo de São Domingos.

Rute Barbedo
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Rute Barbedo
Jornalista
Campo das Cebolas
Francisco Romão PereiraCampo das Cebolas
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Campo das Cebolas, Rua do Poço dos Negros, Praça do Comércio, Campo dos Mártires da Pátria, Largo de São Domingos. Estes são alguns dos locais onde serão lembrados (e contextualizados) episódios e personalidades da história da presença africana em Lisboa desde o século XV, numa iniciativa liderada pela Associação Cultural e Juvenil Batoto Yetu Portugal (BYP). Entre as figuras celebradas em placas dispostas no chão de Lisboa estarão jornalistas, médicos e líderes de comunidades religiosas, como é o caso de Pai Paulino, que terá uma estátua no Largo de São Domingos, a inaugurar no próximo sábado, dia 13 de Janeiro.

Além de destacar personalidades, algumas placas servirão de enquadramento a momentos que a cidade viveu ao longo dos anos. “No Poço dos Negros, a placa vai, de certa forma, explicar o nome da rua. A história conta que as pessoas que não eram baptizadas eram atiradas ao rio, mas como isso gerou um problema de saúde pública criou-se ali um poço, onde eram, então, depositadas”, relata Djuzé, membro da direcção da BYP. Existem outras versões e hipóteses sobre a rua junto a São Bento, mas é esta que ficará na placa. Também a Praça do Comércio, ponto de procura de emprego, bem como de partidas e chegadas através do rio, ou o Campo das Cebolas, onde pode ter funcionado um mercado de escravos, entrarão nesta nova rota da Lisboa africana.

Largo de São Domingos
Francisco Romão PereiraLargo de São Domingos

Como diz Djuzé, apesar da longa espera pela colocação destas placas – o projecto é de 2018 e começou com uma investigação relacionada com as danças do fado, mas foi sucessivamente adiado por situações como a pandemia ou as eleições autárquicas de 2021 , esta é uma iniciativa importante e urgente, no sentido de "mostrar que Lisboa é uma capital atenta a estas questões". "Queremos ser líderes, como país, neste tipo de acções de reconhecimento", ligadas à memória e ao percurso das diferentes comunidades africanas na cidade. "Não aprendemos esta história [na escola] e por isso temos de fazer isto", considera Djuzé, deixando a ressalva de que a ideia de memorial é uma "necessidade que existe há muito". "Não é uma questão de agora, nem surgiu por causa dos problemas que foram existindo em todo o mundo relativamente às estátuas. Agora até pode parecer que sim, mas o que aconteceu é que simplesmente vimos a nossa iniciativa ser adiada por diferentes questões”, contextualiza. Recorde-se que, em 2017, o plano de retirar a estátua do general Robert E. Lee, defensor da escravatura, do espaço público, nos Estados Unidos, gerou uma grande polémica e foi um dos episódios recentes a levantar a questão sobre a memória relacionada com a vida, a desigualdade de direitos e as migrações de populações africanas para as Américas e a Europa. 

A iniciativa em curso liderada pela BYP integra o programa BIP/ZIP e foi realizada em cooperação com a Câmara Municipal de Lisboa, diferentes juntas de freguesia, o Jardim Botânico Tropical e o Gabinete de Estudos Olisiponenses. Além desta acção, a associação está a apostar na publicação de livros e na criação de um acervo online sobre a diversidade cultural e a herança africana deixada em Lisboa. A página Memória Digital Africana em Portugal, que começa na pré-História e termina no mundo contemporâneo, é o braço mais adiantado deste projecto.

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