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Os papéis cobrem o chão da sala no Centro Cultural de Cabo Verde, onde Oleandro Pires Garcia, 39, trabalha há algumas horas. Com vagar vai sobrepondo páginas de revista sobre uma base de cartão. “Utilizo muito papéis, cartão, pego, desfaço com água, utilizo colagem, pintura acrílica”, explica. Agora debruça-se sobre uma obra que tem por base a primeira edição trimestral da Time Out Lisboa, da última Primavera, cujo tema de capa é “Lisboa Negra”.
O entorno influenciou a produção artística de Oleandro, que se voltou para estes recursos por uma questão de necessidade. “Foi um processo longo. Comecei em 2014 e em Cabo Verde, naquela altura, muitas papelarias e sítios de arte não estavam a funcionar. Havia uma certa dificuldade [em criar]. Comecei a pegar em cartão, a desmontar e a fazer um acto criativo. Comecei a fazer colagem pelas dificuldades em obter material”, recorda.
Hoje em dia, o artista aproveita de tudo para criar “um texto, no sentido da obra, com palavras, imagem” – “tudo o que é matéria que acho que tem importância, que tem figura, imagem, cor ou letra”. Trabalha essencialmente “por instinto”, confessa, enquanto mistura as páginas de revista (que também já deram origem a uma exposição).
Natural de Cabo Verde, Garcia tem feito paragens por Portugal desde 2019, quando recebeu uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian para uma residência artística no Porto durante três meses. Mais tarde, foi convidado pelo Ministério da Cultura cabo-verdiano para estar presente na exposição de inauguração do Centro Cultural de Cabo Verde, em Lisboa.
Não esta, mas outras obras do artista plástico estão patentes na mostra “de Dentro e Fora – Coletiva de Artistas de Cabo Verde”, uma exposição que quer “convidar o visitante a reflectir sobre a condição transnacional dos artistas de Cabo Verde, um país onde a diáspora tem uma marcante e assinalável dimensão, com repercussão inequívoca nas artes plásticas”. A selecção de obras ocupa dois espaços, a UCCLA (União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa) e três salas do Centro Cultural de Cabo Verde. Estão representados 36 artistas, com 66 obras “agrupadas em sete diálogos improváveis, aparentes ou possíveis, realizados por diferentes intervenientes e com abordagens plásticas distintas sobre os mesmos temas”, lê-se na nota de imprensa.
A exposição é uma parceria da Embaixada de Cabo Verde em Portugal com o Centro Cultural de Cabo Verde e com o Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde.
UCCLA. 10.00-18.00. Centro Cultural de Cabo Verde. 10.00-17.00 Seg-Sex. Até 18 de Fevereiro de 2022. Entrada livre.