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Há um projecto imobiliário previsto para os terrenos daquele que foi o primeiro hospital psiquiátrico do país, o Miguel Bombarda, fechado desde 2011. No entanto, enquanto as obras não arrancam, parte do edificado vai acolher o Jardins do Bombarda, projecto cultural e comunitário que surge na sequência de um ano de actividades num outro lugar pop-up da cidade, o Quartel do Largo do Cabeço da Bola (para onde está previsto outro projecto imobiliário, que inclui habitação para arrendamento acessível). Assim, a partir do segundo trimestre deste ano e por tempo indefinido, Lisboa terá acesso a este novo espaço, conforme avançou à Time Out a cooperativa Largo Residências, que está a conduzir a operação, em parceria com a Estamo, entidade pública que gere o património imobiliário nacional.
"Brevemente a cooperativa Largo Residências vai promover várias estratégias e campanhas de angariação de fundos para dar viabilidade a este novo projecto", informa a organização. A forma como o espaço será ocupado e dinamizado ainda não foi divulgada na totalidade, mas a Time Out sabe que o projecto funcionará em estruturas modulares que serão instaladas de raiz nos jardins e o barracão onde outrora esteve a companhia Teatro Praga. A cooperativa frisa, ainda, que será tida em conta a defesa do património cultural do hospital (que inclui estruturas como o Panóptico, por exemplo, classificado como imóvel de interesse público), promovendo-se "parcerias e colaborações com diferentes entidades e agentes culturais e territoriais que ao longo dos últimos anos têm alertado e apresentado várias propostas para este espaço de forma a que a sua utilização possa ser democrática, representativa e inclusiva".
A continuação do que se fez no Cabeço da Bola
Depois de 11 anos de actividades sociais e culturais na zona do Intendente, em 2022, a Largo Residências instalou-se no antigo quartel da GNR, no Largo do Cabeço da Bola, onde a dimensão do espaço e a colaboração com outros colectivos e artistas permitiu alargar o seu espectro de acção: num ano, a Largo e outros residentes realizaram mais de 900 eventos, na presença de perto de 50 mil visitantes. O acordo foi, na altura, a cedência temporária de uma parte do Quartel, que foi reparado e colocado a funcionar pelas próprias mãos dos vários colectivos envolvidos, da área da moda à arquitectura, passando pela música ou projectos sociais. Em Outubro de 2023, o Quartel teve de encerrar os portões ao público, para que se desse início à "tão necessária como urgente construção de casas a rendas acessíveis por iniciativa do Governo", segundo a cooperativa, e os colectivos decidiram que iriam procurar um novo espaço para manter a actividade de pé. A actual solução do Bombarda "permite manter no território (Arroios) vários projectos e colectivos que contribuem para o desenvolvimento local com impacto cultural, social e económico".
Dada a dificuldade de muitas organizações sócio-culturais encontrarem "espaço a rendas acessíveis no território de Arroios", este tipo de soluções temporárias tem sido a possibilidade encontrada para manter projectos de inclusão, cultura, educação e comunidade em marcha. No caso do antigo quartel da GNR, o que era um espaço abandonado "deu lugar à cidadania, cultura e inclusão", e incluiu o trabalho permanente para 40 projectos sócio-culturais, a participação de grupos de activistas pelas questões climáticas e de género, mas também de cidadãos em condições de vulnerabilidade social (sem abrigo e refúgio). "No total estiveram envolvidas mais de 1000 pessoas trabalhadoras da área da cultura e intervenção social que contribuíram para um impacto económico estimado em 1,3 milhões de euros, de acordo com o volume de negócios das entidades residentes", informa a Largo Residências.
"Com a certeza que esta experiência comunitária não foi em vão e que fortaleceu todas as organizações envolvidas, não vamos parar", afirma a cooperativa, continuando: "Não abdicamos do nosso papel na coesão territorial e na construção dos denominados 'terceiros espaços' [espaços culturais e comunitários que funcionam fora dos espaços com fins e motivações institucionais], de interesse comum e sem fins lucrativos." "Em apenas um ano de abertura ao público [no Largo do Cabeço da Bola], mostrámos que os edifícios públicos, mesmo a aguardar novos futuros, não podem estar vazios e podem ser preservados e mantidos pelas pessoas da vizinhança."
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