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Lisboa terá novo centro cultural esta Primavera

Parte do antigo Hospital Miguel Bombarda será ocupada pelos ex-residentes do Quartel do Largo do Cabeço da Bola. “Os edifícios públicos, mesmo a aguardar novos futuros, não podem estar vazios.”

Rute Barbedo
Escrito por
Rute Barbedo
Jornalista
Antigo Quartel do Largo do Cabeço da Bola
Francisco Romão PereiraAntigo Quartel do Largo do Cabeço da Bola
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Há um projecto imobiliário previsto para os terrenos daquele que foi o primeiro hospital psiquiátrico do país, o Miguel Bombarda, fechado desde 2011. No entanto, enquanto as obras não arrancam, parte do edificado vai acolher o Jardins do Bombarda, projecto cultural e comunitário que surge na sequência de um ano de actividades num outro lugar pop-up da cidade, o Quartel do Largo do Cabeço da Bola (para onde está previsto outro projecto imobiliário, que inclui habitação para arrendamento acessível). Assim, a partir do segundo trimestre deste ano e por tempo indefinido, Lisboa terá acesso a este novo espaço, conforme avançou à Time Out a cooperativa Largo Residências, que está a conduzir a operação, em parceria com a Estamo, entidade pública que gere o património imobiliário nacional.

"Brevemente a cooperativa Largo Residências vai promover várias estratégias e campanhas de angariação de fundos para dar viabilidade a este novo projecto", informa a organização. A forma como o espaço será ocupado e dinamizado ainda não foi divulgada na totalidade, mas a Time Out sabe que o projecto funcionará em estruturas modulares que serão instaladas de raiz nos jardins e o barracão onde outrora esteve a companhia Teatro Praga. A cooperativa frisa, ainda, que será tida em conta a defesa do património cultural do hospital (que inclui estruturas como o Panóptico, por exemplo, classificado como imóvel de interesse público), promovendo-se "parcerias e colaborações com diferentes entidades e agentes culturais e territoriais que ao longo dos últimos anos têm alertado e apresentado várias propostas para este espaço de forma a que a sua utilização possa ser democrática, representativa e inclusiva".

A continuação do que se fez no Cabeço da Bola

Depois de 11 anos de actividades sociais e culturais na zona do Intendente, em 2022, a Largo Residências instalou-se no antigo quartel da GNR, no Largo do Cabeço da Bola, onde a dimensão do espaço e a colaboração com outros colectivos e artistas permitiu alargar o seu espectro de acção: num ano, a Largo e outros residentes realizaram mais de 900 eventos, na presença de perto de 50 mil visitantes. O acordo foi, na altura, a cedência temporária de uma parte do Quartel, que foi reparado e colocado a funcionar pelas próprias mãos dos vários colectivos envolvidos, da área da moda à arquitectura, passando pela música ou projectos sociais. Em Outubro de 2023, o Quartel teve de encerrar os portões ao público, para que se desse início à "tão necessária como urgente construção de casas a rendas acessíveis por iniciativa do Governo", segundo a cooperativa, e os colectivos decidiram que iriam procurar um novo espaço para manter a actividade de pé. A actual solução do Bombarda "permite manter no território (Arroios) vários projectos e colectivos que contribuem para o desenvolvimento local com impacto cultural, social e económico".

Antigo Hospital Miguel Bombarda
Américo Simas/CMLAntigo Hospital Miguel Bombarda

Dada a dificuldade de muitas organizações sócio-culturais encontrarem "espaço a rendas acessíveis no território de Arroios", este tipo de soluções temporárias tem sido a possibilidade encontrada para manter projectos de inclusão, cultura, educação e comunidade em marcha. No caso do antigo quartel da GNR, o que era um espaço abandonado "deu lugar à cidadania, cultura e inclusão", e incluiu o trabalho permanente para 40 projectos sócio-culturais, a participação de grupos de activistas pelas questões climáticas e de género, mas também de cidadãos em condições de vulnerabilidade social (sem abrigo e refúgio). "No total estiveram envolvidas mais de 1000 pessoas trabalhadoras da área da cultura e intervenção social que contribuíram para um impacto económico estimado em 1,3 milhões de euros, de acordo com o volume de negócios das entidades residentes", informa a Largo Residências.

"Com a certeza que esta experiência comunitária não foi em vão e que fortaleceu todas as organizações envolvidas, não vamos parar", afirma a cooperativa, continuando: "Não abdicamos do nosso papel na coesão territorial e na construção dos denominados 'terceiros espaços' [espaços culturais e comunitários que funcionam fora dos espaços com fins e motivações institucionais], de interesse comum e sem fins lucrativos." "Em apenas um ano de abertura ao público [no Largo do Cabeço da Bola], mostrámos que os edifícios públicos, mesmo a aguardar novos futuros, não podem estar vazios e podem ser preservados e mantidos pelas pessoas da vizinhança."

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