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Livraria em Lisboa proíbe telemóveis

Mário Guerra já pôs o aviso “na porta da Internet”. Na Poesia Incompleta, só há lugar para pessoas e poesia. A tecnologia fica no bolso.

Raquel Dias da Silva
Jornalista, Time Out Lisboa
Poesia Incompleta
© Poesia IncompletaPoesia Incompleta
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“Se tivermos de fazer chichi de cinco em cinco minutos, não é possível concentrarmo-nos numa leitura. A tecnologia é como o chichi”, diz-nos Mário Guerra, também conhecido como Changuito. A voz é bem-disposta, apesar da provocação, e a declaração vem no seguimento do anúncio que fez no Instagram da sua livraria, a Poesia Incompleta da Rua de São Ciro, perto da Basílica da Estrela. Ao que parece, a partir desta terça-feira, 14 de Maio, “depois de anos de encarniçado debate”, como escreveu, é absolutamente proibido o uso de telemóveis e outros dispositivos do género dentro do espaço.

A história da Poesia Incompleta remonta a 2008, quando Mário Guerra a inaugurou na zona do Príncipe Real. Ficou lá quatro anos, até trocar Portugal pelo Brasil, e só voltou a abrir portas em Lisboa em 2018, na actual morada, na Lapa. Entre mais de 20 línguas, como catalão, russo, árabe e japonês, há poesia para todos os gostos, desde edições de autor até primeiras edições, novidades e manuseados. E, se é visitante assíduo, já deve estar familiarizado com a posição do livreiro em relação a tudo o que o distraia da poesia, a dos livros e a de estar vivo.

“Houve quem ficasse tocado com o anúncio e até me mandaram e-mails, mas eu estou farto de pessoas que entram em livrarias, em particular em livrarias de poesia, que é coisa rara, e que não conseguem largar o telemóvel”, confessa Mário. “Isso é o contrário do que é a poesia”, continua, “e é por isso que também não permito – há já muito tempo – que tirem fotografias ou que venham filmar para as leituras que costumo organizar. A leitura é para ouvir, não é para documentar. Não somos animais na savana, não é preciso estar sempre a documentar tudo como se fosse para o National Geographic.”

Para Mário, a leitura é uma forma de dizer que não. Quando escolhemos ler, escolhemos não fazer outra coisa, inclusive não scrollar nas redes sociais ou escondermos a cara atrás de um ecrã. E, ao contrário da razão que nos leva a ler, por exemplo, um policial, onde a grande questão é quem matou quem e porquê, o livreiro acredita que ler poesia “é uma suprema inutilidade” – di-lo como quem acha isso lindo – e acrescenta: “A poesia não se lê para nada a não ser para ler e perceber o que o outro nos diz ou nos quer dizer. É uma forma de estarmos com outras pessoas”, assegura, antes de nos convidar a estar presentes no próximo encontro, no domingo, 19 de Maio, às 18.37.

A poeta e tradutora Margarida Vale Gato vai à Poesia Incompleta para ler e falar sobre Uma Coney Island da Mente, de Lawrence Ferlinghetti, recentemente publicado pela Antígona. Mas, atenção, os lugares são limitados. O melhor é reservar um lugar o mais depressa possível. Basta enviar e-mail (poesia.incompleta@gmail.com). “Qualquer livraria que se preze quer-se como agente de mudança e esse é um trabalho de todos os dias, mas também cabe aos leitores fazer a sua parte.”

Poesia Incompleta, Rua de São Ciro, 26. Ter-Dom 11.00-19.49

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