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Num balanço da greve relacionada com a recolha de lixo em Lisboa (total a 26 e 27 Dezembro e circunscrita aos serviços extraordinários nos dias seguintes, até 2 de Janeiro), o director da Higiene Urbana da autarquia, Pedro Moutinho, reconhece que "a situação obviamente agravou-se, mas não tanto como podia ser o pior cenário".
E como se evitou o "pior cenário"? Para o responsável, embora a pressão seja "grande" e a autarquia esteja a correr "atrás do prejuízo", o cumprimento dos serviços mínimos está a "minorar os efeitos da greve", afirmou, em declarações à agência Lusa.
No entanto, para o Sindicato dos Trabalhadores do Município de Lisboa (STML), os serviços mínimos decretados (que permitem a recolha em cerca de metade dos circuitos habituais) são desproporcionais. Avançar com "um terço do trabalho que se faz normalmente é exagerado para o efeito do exercício do direito à greve", defende o presidente, Nuno Almeida, acrescentando que, em paralisações anteriores, os serviços mínimos definidos estiveram muito abaixo dos agora decididos pelo colégio arbitral, pelo que o sindicato decidiu avançar com uma providência cautelar.
No segundo dia de greve completa dos trabalhadores da higiene urbana em Lisboa, 27 de Dezembro, a adesão terá baixado significativamente. Segundo o STML, a adesão à greve nesta sexta-feira é de 60%, enquanto os cálculos da autarquia apontam para valores inferiores a 50%.
Em algumas freguesias, situação já era "caótica" sem greve
Numa visão de maior proximidade, enquanto em algumas freguesias, os presidentes de junta apontam para cenários pouco fora do habitual, outros apontam para a subida do número de reclamações e de caixotes do lixo a transbordar, cujas imagens têm aparecido com frequência nas redes sociais.
Para o presidente da Junta de Freguesia de Marvila, José Videira, já houve "dias piores" no território, mesmo sem greve, disse o autarca à Lusa. "A situação já é caótica" por norma. "Estamos tão habituados a que os circuitos de recolha falhem...", declarou José Videira. Em Carnide, os dias de greve servem também para apontar falhas ao serviço regular da autarquia. “Temos de ser nós constantemente a avisar os serviços municipais”, referiu o presidente, Fábio Sousa, acrescentando que a câmara justifica-se com questões operacionais, como falta de meios e avarias em veículos.
Em Benfica, por sua vez, o presidente da junta, Ricardo Marques, dá conta de que “a greve está a ter um impacto grande". "A freguesia está carregada de lixo. As nossas equipas estão a tentar apoiar os serviços da câmara, mas o cenário não está fantástico e isto é só o início”, relatou à Lusa o autarca, no primeiro dia de greve, 26 de Dezembro. Já na freguesia da Misericórdia, embora a situação seja "complicada", os serviços mínimos estão a conseguir dar conta do cenário, descreveu a presidente da Junta, Carla Madeira, preocupada, no entanto, com os dias futuros.
Convocada pelo STML e pelo Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local (STAL), a greve dos trabalhadores da higiene urbana surgiu como reacção à alegada ausência de uma resposta adequada por parte da Câmara de Lisboa aos problemas do sector. O STML afirma que 45,2% das viaturas essenciais à remoção de resíduos na cidade estão inoperacionais, 22,6% da força de trabalho está diminuída fisicamente ou de baixa por acidentes de trabalho e há, ainda, um défice de 208 trabalhadores, mesmo perante a contratação recente de 100 profissionais para a área. Já a autarquia garante que 13 dos 15 principais pontos do acordo assinado em 2023 foram cumpridos, faltando apenas a execução de obras nas instalações e a abertura de bares em todos os horários e em todas as unidades de higiene urbana, processos estes que estarão em fase de conclusão.
Para mitigar os efeitos da greve, além dos serviços mínimos e do trabalho em cooperação com as juntas de freguesia, a Câmara de Lisboa accionou um plano para a cidade, do qual fez parte a colocação 57 contentores especiais, distribuídos pelas 24 freguesias, para uso temporário e "em último recurso", pedindo também aos cidadãos que depositem a menor quantidade possível de resíduos na rua durante estes dias.