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Se há coisa que não falta à segunda temporada de Luke Cage, que se estreia esta sexta-feira na Netflix, é confiança.
Falta-lhe ritmo, como sempre, a história demora a aquecer e a escrita é algo inconsistente (sobretudo ao nível de alguns diálogos e personagens), mas poucas séries se apresentam com a mesma confiança, a roçar a fanfarronice. Aquilo a que os americanos chamam “swagger”.
O mesmo podia ser escrito sobre a anterior temporada, mas aqui essa confiança é ainda mais evidente, e aquilo que de facto separa a série das restantes produções da Marvel para a Netflix. Isso deve-se em parte a Mike Colter, cada vez mais confortável na pele de Luke Cage, que encarna com mestria desde que o vimos pela primeira vez em Jessica Jones. E a Cheo Hodari Coker, criador, produtor, principal argumentista e responsável pelo tom da série, a meio caminho entre a blaxploitation de 70s e um western contemporâneo, só que com super-heróis.
Esta confiança amplifica e coexiste com um discurso racial engajado – algo que não é novo, mas é sempre positivo e necessário, ainda que, nos cerca de dois anos que separam as duas temporadas de Luke Cage, adaptações como a de Black Lightning, da DC, e Pantera Negra, da Marvel, também tenham contribuído para tornar os super--heróis que desfilam nos nossos ecrãs um pouco menos brancos. E esse discurso é paralelo a uma vontade honesta de celebrar o bairro do Harlem, onde decorre a acção, e a sua cultura.
Tal como a segunda temporada de Jessica Jones, os novos episódios de Luke Cage surgem na ressaca de The Defenders, mas desta feita os acontecimentos da minissérie que juntou os heróis da Marvel da Netflix não são ignorados. O seu impacto sente-se sobretudo na personagem de Misty Knight (Simone Missick, óptima), que fica mais próxima daquilo que é nos livros de banda desenhada. (Escrever mais seria um spoiler.)
E por falar em boas actrizes cuja personagem está melhor do que nunca nesta segunda temporada: Alfre Woodard, no papel de Mariah Dillard, ocupa o vazio deixado pela morte do memorável Cottonmouth. E supera-o. Bushmaster, o outro antagonista, também é melhor a todos os níveis do que Diamondback. Se esta nova leva de episódios é melhor do que a anterior (e é, a julgar pelo que já vimos) deve-se muito a eles.