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O clube lisboeta tem-se mantido operacional com uma programação online de segunda a domingo. A próxima festa é este sábado. Vista o seu melhor pijama.
Há um mês que não saímos à noite. Parece uma vida. Parece que foi noutra vida. Nestes novos tempos, e sabe-se lá até quando, vamos matando saudades como podemos: essencialmente a ver live streamings de DJs a partir das suas casas ou de clubes. Um dos primeiros a fazer-nos companhia foi o Lux Frágil. De surpresa, logo na noite do primeiro sábado da quarentena, 14 de Março, transmitiu um live set de Switchdance, Hnrq e Twofold, três dos seus DJs residentes.
“Houve pessoas em casa que ligaram o candeeiro psicadélico, que se vestiram de propósito, que preparam cocktails”, conta Pedro Fradique, um dos programadores do Lux. “Notou-se, logo nesse sábado, que as pessoas estavam desesperadas. Aderiram imediatamente. Houve imensos comentários, role-playing, imensa conversa sobre drogaria.” Mais do que um simples streaming, o Lux optou por fazer um cam2cam, de forma a existir interacção. “De um lado estava a cabine e o DJ, do outro estavam as pistas em casa das pessoas, portanto a ideia foi que elas nos mandassem fotos para integrar no streaming”, explica o programador. “Recebemos de tudo. Isto é a coisa mais democrática que existe, é o Lux no Terreiro do Paço.”
Feita a primeira festa, Pedro Fradique começou a delinear uma programação semanal online, que vai além dos streamings e é accionada em várias plataformas digitais. Segundas, terças e quartas, às 18.00, lançam no canal de YouTube as playlists From: / To: You, feitas pelos DJs residentes e por cúmplices da casa (esta semana há escolhas de Da Chick, Nuno Lopes e Pedro Ramos). Às quintas, pelas 23.00, o programa de rádio que já tinham na SBSR.FM pode ser agora ouvido também no Mixcloud (o último foi com Rui Vargas). Sexta, às 23.00, a pista passa para
o Soundcloud com a rubrica Play It Again: ou seja, gravações de sets de DJs internacionais que tocaram no Lux recentemente, como 2ManyDJs, John Talabot e Michael Mayer. Sábado, também às 23.00, é a vez do Fazes Por Aqui?, o cam2cam/streaming transmitido a partir do Lux via Instagram e Facebook. Aos domingos são disponibilizados outro tipo de conteúdos em arquivo.
Para aceder a tudo isto, em directo ou em diferido, pode ir às plataformas supracitadas ou ao site, onde também encontra o Lux do Dia, rubrica diária que entretanto foi aberta ao público: escolha uma canção, conte a sua história com ela e envie para luxdodia@gmail.com.
Em relação aos streamings operados na discoteca, Fradique sublinha que “tudo é feito de forma responsável”. “O Lux está desinfectadérrimo, mais do que a minha casa, e só vai lá uma equipa mínima para que aquilo aconteça.” Os DJs lavam as mãos com frequência, só toca um de cada vez e alguns deles até usam máscara. O alinhamento também é reduzido – a cabine é ocupada, sobretudo, pelos DJs residentes, mas também por alguns “quase-residentes”.
No sábado 18 tocam Alcides/DJ Al e Hnrq. Estes live sets andam a ser vistos por gente de todo o mundo, de Espanha à Austrália, mas Pedro deixa claro que está a fazer isto para a sua “comunidade”. “O resto do mundo vai lá ter depois, naturalmente. O que eu quero é manter uma comunidade durante a calamidade.”
E essa comunidade será particularmente preciosa e precisa na era pós-coronavírus. Nada será como antes, e isso também se aplica às lógicas de programação. “A circulação de pessoas vai estar afectada durante algum tempo e isso será um ponto de partida essencial para uma revitalização da cena nacional e local. É a partir dela que tudo vai começar a renascer”, considera o programador. Por enquanto, resta-nos aproveitar as medidas extraordinárias do Lux para tempos extraordinários. Não é a mesma coisa, mas pelo menos vai alimentando o ânimo. “Isto é só uma tentativa de resposta à coisa mais estranha que está a acontecer nas nossas vidas.”