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As Lisbon Vogue Sessions têm cada vez mais alunos e seguidores. Uma ideia da luso-belga Joana de Cuyper. Falámos com ela e contamos-lhe o que é este estilo de dança popularizado por Madonna.
Quando Joana de Cuyper se mudou da Bélgica para Portugal no ano passado, sentiu falta de uma “cena vogue” em Lisboa. “É uma coisa grande na Europa, mas por algum motivo aqui ainda não”, conta a bailarina que também trabalha em marketing. Por enquanto.
Em Junho, decidiu ver como é que a cidade reagiria a um workshop de voguing no Anjos70. “À hora combinada apareceram três pessoas”, recorda. “Mas os portugueses atrasam-se sempre. No final éramos uns 20. Foi uma boa maneira de começar.”
O estilo de dança popularizado por Madonna nos anos 90 com a canção “Vogue” – e que pede o nome emprestado à revista de moda – começou, na verdade, a ganhar força na Nova Iorque dos anos 80, junto da comunidade negra e latina queer do Harlem, como uma forma de resistir à opressão e exclusão social. A dança praticada nos ballrooms underground consistia em vários movimentos femininos que imitavam as poses de modelos das revistas de moda. Na verdade, “é muito mais que isso”, continua Joana. “É um estilo de vida. É tudo. Uma maneira de estar, política, histórica e social.”
O documentário Paris is Burning, de 1990, (disponível na Netflix) mostra os bastidores dos ballrooms competitivos do Harlem nessa década e das suas houses, autênticas famílias alternativas que juntavam bailarinos membros da comunidade LGBT. O filme ajudou a trazer a dança para o olhar mais mainstream e acabou por ganhar o grande prémio do júri em Sundance.
“As pessoas que procuram as aulas vêm quase todas por curiosidade”, diz Joana. “Muitas viram o Paris Is Burning ou [a série sobre o mesmo tema também disponível na Netflix] Pose [do ano passado] e querem experimentar.”
As Lisbon Vogue Sessions, que entretanto ganharam página de Facebook e Instagram, começaram como workshop, mas acabaram por resultar em aulas regulares no BUS – Paragem Cultural duas vezes por semana.
“Os dois sítios são centros comunitários e isso é muito importante para mim”, diz a professora, que também dançava na Bélgica e pertence à Imperial Dynasty. “Não quero ir para estúdios de dança, quero que seja aberto a toda a gente. Não é preciso ser bailarino para dançar vogue. Aliás, a maior parte dos meus alunos nunca dançou antes.”
As aulas, todas as segundas e sextas, das 20.00 às 21.30, exploram o estilo conhecido como “vogue femme”. “É uma maneira de encontrar a tua confiança e a tua energia feminina interior”, explica Joana. “Isso é uma coisa que depois te acompanha na vida.” O número de alunos homens e mulheres é bastante equilibrado e os primeiros 20 minutos da aula, principalmente para estreantes, podem ser “desconfortáveis”, adverte a professora. “No início é um choque, depois deixas-te ir.”
As sessões (a 10€ a primeira e a 70€ um pack de 10 aulas para usar durante todo o ano) são para iniciados e abordam os cinco elementos fundamentais da dança: catwalk (uma maneira de desfilar), duckwalk (andar agachado, nas pontas dos pés), performance de mãos, performance no solo, e spins & dips (voltas e quedas).
Segundo Joana, é preciso primeiro consolidar estas bases para depois começar o “freestyle” e desenvolver um estilo e identidade próprios. Como o das voguers Veronika Ninka e Yanou Ninja, da House of Ninja, que passaram pelo primeiro grande evento de voguing em Lisboa, o Vogue Weekend Series, em Outubro, na Jazzy, em Santos. Organizado pelas bailarinas profissionais Piny Orchidaceae e Nala Mulan, o fim-de-semana contou com workshops, uma talk e uma festa no Trumps.
Lisbon Vogue Sessions, segundas e sextas, 20.00-21.30, no BUS – Paragem Cultural. Rua Maria, 73 (Anjos). 10€ aula única, 70€/pack de 10 aulas. + info lisbonvoguesessions@gmail.com