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Faz-se silêncio no Palácio dos Marqueses do Lavradio, no Mercado de Santa Clara, numa tarde de Verão no final de Julho. Estamos na quinta semana de rodagem de Madrugada Suja, a nova série da RTP com produção de Maria & Mayer, com estreia prevista para 2023. Sob o olhar atento de Sebastião Salgado, realizador à frente da sua primeira série, técnicos, câmaras e actores preparam-se para rodar mais uma cena no espaço que será visto como Câmara Municipal de uma pequena aldeia do interior alentejano. É entre estas paredes que se filmam algumas das cenas mais tensas que envolvem corrupção, jogos de poder e um crime esquecido que regressa para assombrar a vida dos envolvidos. Madrugada Suja, a série adaptada do romance com o mesmo nome, de Miguel Sousa Tavares, lançado em 2013, chega à RTP e à RTP Play no próximo ano.
A tarde de filmagens arranca com Rafael Morais (Filipe Madruga), Iris Cayatte (Rita) e Marco Mendonça (Rudolfo) a dividirem uma cena passada na Câmara Municipal onde as três personagens trabalham. O número reduzido de actores é compensado pelos técnicos que ocupam quase todo o espaço da imponente sala do antigo Tribunal Militar. Toda a cena é acompanhada de perto por Sebastião Salgado, que vai dando indicações a toda a equipa técnica. O realizador (que também escreveu para a Time Out Lisboa no início da década passada) já tinha participado na escrita de séries e novelas para a RTP, SIC e TVI e assinado curtas-metragens como Já Passou (2016) e Segunda-Feira (2018). Mas Madrugada Suja é a sua primeira realização com mais fôlego. “Estou a gostar muito do projecto, muito também pela liberdade que o Sebastião nos está a dar”, diz Iris Cayatte, a actriz que interpreta Rita, uma colega e interesse amoroso ambíguo de Filipe, o protagonista. “Mudamos muitas cenas à última da hora, reescrevemos, cortámos coisas para haver mais silêncios – e o Sebastião está muito aberto a isso, o que é muito prazeroso enquanto actriz”.
Madrugada Suja começa em 1988, numa noite de álcool entre estudantes que culmina na prática de um crime. A acção avança até à idade adulta e acompanha Filipe Madruga – interpretado por Rafael Morais –, um dos jovens envolvidos no crime e que hoje trabalha como arquitecto na Câmara Municipal de uma pequena aldeia no Alentejo. Quando não aprova um projecto numa área de reserva natural, Filipe é chantageado por políticos que descobrem os segredos do seu passado. “O Filipe vê-se confrontado entre defender aquilo em que acredita e defender-se a si próprio e à sua liberdade. Acho que é um bocado a luta com os nossos próprios demónios”, partilha Rafael entre filmagens. Depois de protagonizar Amadeo (2022), de Vicente Alves do Ó, ou de participar em Glória (2021) e White Lines (2020), Madrugada Suja é o seu primeiro projecto como protagonista para televisão. “Aceitei o convite por ser totalmente diferente, por perceber a forma como o Sebastião queria trabalhar, que dentro do panorama nacional é um bocadinho diferente, e pelo elenco que é incrível”, explica o actor que também integra o elenco de Rabo de Peixe, a nova série portuguesa da Netflix, ainda sem data de estreia.
A Rafael Morais e Iris Cayatte, juntam-se nomes como Victoria Guerra, Gonçalo Waddington, Adriano Carvalho, Manuel João Vieira, Lia Carvalho, Paulo Pinto, José Pimentão, Sandra Faleiro ou Maria João Falcão.
Filho da pandemia
Enquanto muitos se dedicavam ao pão ou às plantas, Maria João Mayer, uma das responsáveis pela produtora Maria & Mayer, aproveitou os tempos de pandemia para pensar em novos projectos. “Durante a pandemia, estava a colaborar com a Cristina Ovídio, que conhece todos os livros do Miguel Sousa Tavares, e ela disse-me que um dos livros era muito bom em termos de história para fazer uma série”, explica a produtora. Com adaptação de Filipa Cabrita de Sousa, a obra de Miguel Sousa Tavares que se desenvolve em volta de um caso de corrupção política transformou-se numa série de seis episódios. “O Miguel [Sousa Tavares] leu os argumentos, ele já tinha trabalhado com a Filipa [Cabrita de Sousa], e deu-nos uma grande liberdade”, continua Maria João Mayer. Apesar de ser baseada em Madrugada Suja, a nova série da RTP não quer ser uma cópia da obra. “Uma coisa é o livro, outra coisa é uma série. Há personagens novas, há outras que desaparecem. Tivemos de condensar uma série de coisas, mas a raiz da história está lá”.
A série, que chega aos ecrãs em 2023 ainda sem data de estreia confirmada, será exibida na RTP e fará parte do catálogo do serviço de streaming da estação pública. “Para mim, o exibidor principal é a RTP. Adoraria que chegasse a outros sítios, mas neste momento o foco é em fazer a melhor série que conseguirmos”, partilha Maria João Mayer sobre a possibilidade de Madrugada Suja chegar a serviços de streaming internacionais, como a Netflix ou a HBO. Também Rafael Morais só vê vantagens em mais produções nacionais integrarem catálogos internacionais. “O facto de os serviços de streaming se interessarem por projectos portugueses é óptimo e espero que continue. Fazem-se dez filmes em Portugal num ano bom, o que não é nada, e esse interesse pode significar mais trabalho para actores e técnicos”.
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