Notícias

Mais de 500 peças do antigo Hospital Miguel Bombarda consideradas de interesse público

Entre pinturas feitas por pessoas com diagnóstico de doença mental e objectos médico-científicos, a Museu e Monumentos de Portugal classificou 518 bens do acervo do antigo hospital psiquiátrico.

Rute Barbedo
Escrito por
Rute Barbedo
Jornalista
Colecção Bombarda
Francisco Romão Pereira | Colecção Bombarda
Publicidade

São desenhos, pinturas, poemas, objectos médicos e aparelhos de ciência que um dia fizeram parte da vida do primeiro hospital psiquiátrico do país, o Miguel Bombarda, fechado desde 2011, e que agora foram considerados de interesse público pela Museus e Monumentos de Portugal. A classificação dos 518 bens da chamada Colecção Bombarda foi obtida na sequência de uma avaliação pedida pela Associação Fórum Cidadania Lx e oficializada esta quarta-feira, 26 de Março, em Diário da República, representando um passo importante na preservação do espólio, hoje distribuído entre o Hospital Júlio de Matos e o Panóptico (o antigo pavilhão de alta segurança) do Hospital Miguel Bombarda (HMB), nem sempre nas melhores condições.

À Time Out a primeira palavra proferida por Amélia Lérias, ex-psiquiatra e uma das poucas voluntárias que se dedica há mais de dois anos à inventariação de cada um dos objectos, é: "Conseguimos!" Depois de um longo processo iniciado por Vítor Freire, antigo administrador do HMB e fundador da Associação de Arte Outsider (que tinha como um dos principais intuitos o impulsionar da criação de um museu dedicado à arte produzida pelas pessoas com diagnóstico de doença mental), a recente classificação é vista pela voluntária como uma legitimação do trabalho minucioso de catalogação que têm vindo a desenvolver, em colaboração com a Unidade Local de Saúde São José.

Colecção Bombarda
Francisco Romão PereiraColecção Bombarda

Da lista dos itens agora classificados constam desenhos a grafite ou a lápis de cor, pinturas a óleo ou a guache, aguarelas, obras de Querubim Lapa ou Veloso Salgado, mas também poemas, cartas e outros escritos. Entre os objectos, por sua vez, estão curiosidades como uma gaiola de pássaros, um navio feito de fósforos, um magneto para doenças nervosas ou um frasco com objectos engolidos por uma das centenas de pessoas que estiveram internadas no edifício. Outras peças, como fotografias do dia-a-dia no hospital ou registos clínicos, estão ainda a ser inventariadas pelo grupo de voluntários. 

Colecção Bombarda
Francisco Romão PereiraColecção Bombarda

"Continuamos a fazer o nosso trabalho, a inventariar e a descobrir mais peças. E retirámos alguns quadros do Panóptico para o Júlio de Matos, por questões de conservação", explica Amélia Lérias à Time Out, por telefone, não exibindo dúvidas sobre o valor do que tem à sua frente. "Muitas peças são relíquias e, quanto mais as estudamos, melhor percebemos isso."

📯Não foi por falta de aviso. Subscreva a newsletter

⚡️Prefere receber as novidades sem filtros? Siga-nos no Instagram

Últimas notícias
    Publicidade