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Pintar paredes à revelia está longe de ser um assunto consensual, mas há pelo menos um milhar de stencils que piscaram o olho a A. Garbo e a Isabel Lucena.
Tem mais de 370 páginas, mil imagens e uma extensa colaboração com outros autores. Objectivo: apresentar um extenso levantamento fotográfico e um mapeamento inédito dos stencils espalhados pelas paredes de Lisboa. Falamos do novo livro Muros Brancos (Povo Mudo) Stencils de Lisboa Vol.1 2010 ‒ 2015, uma edição de autor que será lançada a 3 de Março na galeria da MONA Ideas Store.
O mentor do projecto é A. Garbo, um investigador italiano na área da sociologia digital que aplaude os activismos fora da rede: "Ainda há pessoas - muitas em Lisboa - que têm coisas importantes a dizer, e que em vez de postar online, preferem gastar dinheiro com tinta, algum tempo a esculpir um raio-X ou um cartão, para colocar tudo numa mochila e, mais tarde, dedicar mais algumas horas a percorrer a cidade no meio da noite, procurando o lugar certo onde pulverizar os seus pensamentos, opiniões ou sentimentos, sem ser apanhado", lê-se no prefácio desta edição. A ele juntou-se a designer gráfica Isabel Lucena (e co-fundadora do Observatório das Transformações XXXX da Cidade de Lisboa) que se tornou fundamental na moldagem e finalização do projeto.
A. Garbo veio a Lisboa pela primeira vez há seis anos e num dos seus passeios um conjunto de stencils chamou-lhe a atenção. O objectivo da viagem não era eternizar efémeros stencils em livro, mas um dizia "Tourists: Respect the Portuguese silence or go to Spain", uma frase que lhe soou como um d’Os Dez Mandamentos. Aí deu-se o clique e começou a fotografar pelas ruas da cidade, mas... o computador avariou e perdeu tudo. Então decidiu que tinha de voltar. O conjunto final das mil imagens foi conseguido com a ajuda e generosidade de muitos que colaboraram com este projecto (como Ana Gama, João Pina, Mayu Shimizu, Paulo Alcala ou WITTLE), onde a única regra foi restringir as imagens ao período no qual Garbo testemunhou o seu aparecimento e desaparecimento.
Os stencils são uma espécie de filho mais pobre dos grandes grafittis, mas para A. Garbo, são mais ricos e profundos em conteúdo, "especialmente em Lisboa, onde o espectro é mais abrangente e os temas vão da política e medidas de austeridade" ao "descontentamento e frustração após o rescaldo da revolução de Abril e o declínio dos valores democráticos". Além disso, Garbo encontrou stencils poéticos, filosóficos e artísticos, declarações de amor e ódio e outros que são só palermas. Mas em comum, o autor entende que todos têm um lado inocente e infantil, como se o Peter Pan dentro de cada autor transformasse Lisboa na Terra do Nunca.
O lançamento do livro vai ser acompanhado de uma exposição homónima em que 24 dos stencils são reinterpretados pela designer Isabel Lucena e impressos em técnica serigráfica por Mike Goes West, numa edição limitada de 30 cópias de cada peça.
MONA Ideas Store, R. das Janelas Verdes 70. 3 de Março (Sáb) das 18.00 às 20.00