"Após 12 anos de resistência, a nova senhoria não vai renovar o contrato de arrendamento, colocando em risco a continuidade deste espaço de criação, partilha e comunidade." Foi assim que, a 7 de Outubro, a associação cultural Zona Franca dos Anjos comunicou, através das redes sociais, a eminência de despejo no lugar onde foi criando raízes– o número 42 da Rua de Moçambique–, deixando claro, ainda assim, que este não deverá ser o fim do projecto: "Precisamos de todas e todos para pensar soluções, alternativas e lutar pelo que construímos ao longo de todos estes anos. É fundamental garantir que este projecto de solidariedade e cultura pode continuar".
O colectivo, noticiou a agência Lusa, terá tentado negociar o contrato, estando disposto a pagar uma renda de mil euros (o valor actual é de 763 euros) e fazer obras de melhoria no espaço, que está "bastante degradado", nas palavras da presidente da associação, Patrícia Azevedo. Mas a senhoria (filha da anterior) "não se mostrou interessada", avançou a mesma responsável.
Lista de espaços com despejo iminente continua a aumentar
Movida à base de voluntariado, a Zona Franca dos Anjos tem a cantina social (refeições a baixo preço) como um dos seus pilares, e acolhe desde conversas, concertos ou exibição de filmes a oficinas e outros eventos comunitários, na maioria dos casos, de entrada gratuita ou sob donativo livre. "Estamos a prestar um papel social muito importante: damos palco a artistas sem espaço noutras salas", declarou Patrícia Azevedo à Lusa. A cozinha da Zona Franca é cedida todas as quartas-feiras a uma cozinha solidária para pessoas em situação de sem-abrigo e, sem dia marcado mas quando é necessário, à Cozinha Migrante dos Anjos, que tem funcionado no Disgraça, na Penha de França.
A associação sem fins lucrativos junta-se, assim, à lista de espaços na iminência de fecho (ou que já fecharam) em Lisboa, como o Crew Hassan (encerrado em 2023), a Sirigaita, o Arroz Estúdios ou a Academia dos Amadores de Música. Em Dezembro, a Sirigaita chegou a organizar uma visita guiada pelos espaços que não resistiram ao aumento dos valores das rendas, lembrando os casos do Grupo Excursionista e Recreativo Amigos do Minho, que funcionava no Intendente (de onde terá de sair a Casa Independente, até 2026), ou o Grémio Lisbonense, que cresceu na Baixa. Também na Baixa, a Academia de Recreio Artística tem ordem para sair até 2027 e, na zona das Janelas Verdes, a mais que centenária Sociedade Musical Ordem e Progresso (SMOP) tem os dias contados.