[title]
“A Alê está mesmo a chegar”, diz Nuno Franco de Sousa, enquanto nos recebe à porta da Mameluca, um atelier-galeria que veio do Rio de Janeiro para Cascais. O espaço, por baixo das bancadas onde antigamente as pessoas se sentavam para assistir a corridas de cavalos, na Quinta da Marinha, foi todo renovado e é agora um bonito estúdio com várias peças de design conceptual à venda. Afogueada, Alessandra Clark (Alê) aparece de calças e botas de montar. Saiu da aula de equitação a correr para nos receber e para, em conjunto com o marido, contar esta história.
Conheceram-se no Rio de Janeiro, mais concretamente no famoso restaurante Jobi, numa altura em que Nuno, então consultor de uma operadora de telemóveis, estava a pensar regressar a Portugal. “Cheguei lá, não consegui mesa, tínhamos uma amiga em comum e acabei por jantar com elas. Durante a conversa, fiquei a saber que a Alê já tinha passado pela Quinta da Marinha”, recorda Nuno, de 47 anos.
Depois de uns tempos a “perturbá-la”, começaram a namorar e, com o intuito de aproximar a arte e o design, fundaram, em 2012, o estúdio Mameluca, que significa mestiça, geralmente filha de homem branco e mulher índia. Continuando na genética, Ale é neta de Lygia Clark (1920-1988), expoente da arte neoconcreta brasileira, e motivo da primeira exposição da dupla, Pu#a Inspiração, lançada em 2014. Nela, conceitos preconizados pela artista são o ponto de partida para a criação de peças como a poltrona Abrigo – o primeiro objecto da dupla a esgotar, o mais caro também (34.000€). Agora, esta e outras peças podem ser vistas e adquiridas no novo atelier. Falamos, por exemplo, do Casulo, um banco que vira cadeira ou mesa, do Surubão (o que significa grande orgia), em que vários corpos de espuma, coloridos e entrelaçados, podem ter várias funções, ou da Caixa de Fósforos, um móvel em madeira que pode ser transformado de acordo com o desejo do proprietário.
Seguiram-se colecções que abordam o movimento tropicalista brasileiro, a comunidade indígena, ou a libido, “onde temos uma cadeira de casal, chamada Vénus”, que promove diversas posições sexuais. E como funciona a vossa dinâmica de casal criador?, perguntamos. “Ah, não, esquece, não pergunta, nem publica”, ri Alê. Mas discutem muito?, insistimos. “Muito, muito, muito”, acrescenta Nuno, “mas compensa”. “Por exemplo, a primeira vez que participámos na feira internacional Design Miami correu tão bem que ficámos um mês de férias.”
Antes de inaugurar a Mameluca na Cidade Maravilhosa, Alê estudou design e trabalhou na fundação que tem o nome da avó. Um dia à conversa com Nuno, sobre coisas de Portugal, comentou que gostava do trabalho do artista português Vhils e daí até terem uma obra do próprio na fachada do Clark Art Center foi um instante. Quando as coisas acontecem assim, era porque tinham mesmo de ser, acreditam. Tal como esta mudança para Portugal, para abrirem um atelier-galeria no local onde Nuno tinha imaginado, há já muitos anos. Onde a sua mãe tinha tido um restaurante, onde o seu pai também teve um escritório enquanto director do centro hípico. “Quando chegámos tudo isto precisava de muitas obras mas não havia dúvida de que ia dar certo.” E deu.
Mameluca. Rua da Quinta, Quinta da Marinha, Bancada Norte. Seg-Sex 09.00-17.00. 969 558 533. www.mameluca.com.br
+ El Clandestino, o latino-americano que promete noites muy calientes em Cascais
+ Festas do Mar, em Cascais, estão de volta com um calendário diferente