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O antigo rosto (mascarado) dos Tantra celebra 50 anos de concertos – sem sinais de que vá abrandar. No RCA Club vai actuar com duas bandas, apresentar um disco, antecipar outro e lançar um projecto pensado para o Youtube.
Manuel Cardoso é um pioneiro. O rock português ainda esperava pelo boom dos anos 1980 e já ele percorria o país de lés a lés. Era o cérebro por detrás do universo musical e performativo dos Tantra, que levavam para palco máscaras e adereços provocatórios como pénis de metal que ejaculavam luz. A legião de fãs ganhou tal dimensão que encheram o Coliseu dos Recreios em 1977, um feito inédito na altura para uma banda de rock. Em 1978, voltaram a fazê-lo. Na década seguinte, gravou e tocou sob o nome Frodo, personagem que tinha criado para os Tantra. Depois, desapareceu dos olhares do grande público. Mas nunca parou: este sábado, celebra 50 anos de concertos com três horas de música no RCA Club.
“Desde 1990, passei a publicar todos os meus trabalhos”, diz Manuel Cardoso. Sem a máquina de uma editora, esses discos – que vão do progressivo ao chill out – ficaram na sombra. “Cada um de nós tem jeito para uma coisa e eu nunca tive jeito para o negócio. Nem pretendo ter. Sou músico, produtor, gosto de artes criativas, faço vídeos, capas, mas não tenho jeito nem para vender ideias nem para ganhar dinheiro. Tenho sorte de conseguir viver, porque senão seria um desgraçado.”
O concerto no RCA é, aliás, uma prova de vitalidade. Manuel Cardoso vai apresentar-se com três projectos: os PSI, com o segundo disco, Undercover – alternativo psicadélico com pontos de contacto com a pop, a country e o progressivo –, os Artnat – com os quais está a preparar o álbum The Mirror Effect, um título muito a propósito do nome da banda (Tantra escrito ao contrário) – e a True Jam, que consistirá em três momentos de improviso com pontos de partida e chegada pré-determinados (“From Life to Love”, por exemplo). Em 2020, a True Jam será transformada num canal de Youtube, com um convidado por sessão.
Manuel Cardoso começou a dar concertos aos 16 anos e, meio século depois, não conta abrandar. Atribui a boa condição física a três factores: “sou vegetariano há 46 anos”, “tenho bons genes”, “farto-me de tocar”. “Levanto-me todos os dias às sete da manhã, e passado uma hora e meia, duas horas no máximo, estou aí a abrir, e trabalho até ao fim do dia. Paro se há um jogo de futebol, um filme de interesse, ou há um amigo que me aparece.”
O músico guarda “óptimas memórias” dos tempos de Mistérios e Maravilhas e Holocausto, mas está mais interessado no que está a fazer agora, que considera estar ao nível dos Tantra. Lembra-se de ter produzido o Cerco dos Xutos & Pontapés, os THC, Carlos Maria Trindade? De ter escrito o “Baby suicida” para Adelaide Ferreira? De ter tocado com Pedro Ayres Magalhães (Heróis do Mar, Madredeus) ou Armando Gama (que venceu o Festival da Canção com “Esta balada que te dou”)? Sim, mas isso foi lá atrás. Mais recentemente produziu “pessoal do rap”. “Só há uma coisa que é o presente e nós somos aquilo que somos em cada momento. O passado é o que fomos. Se não estivermos à altura, não é o passado que nos vai alimentar o presente.” Logo, este aniversário só poderia servir para nos dar uma coisa: música nova.
RCA, Sáb 21.30, 5€.