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Mãos ao ar! A série ‘Cavalos de Corrida’ assalta a RTP com amor, tiros e pancadaria

André Santos e Marco Leão assinam realização e argumento. Um regresso aos anos 1980 para fazer um paralelismo com as dificuldades económicas dos nossos dias. Estreia a 22 de Fevereiro.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
Jornalista
Filipa Areosa, Maria João Pinho, Soraia Chaves e Teresa Tavares
©Ukbar FilmesFilipa Areosa, Maria João Pinho, Soraia Chaves e Teresa Tavares (Cavalos de Corrida)
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A RTP segue em alta velocidade na produção de ficção nacional e tem uma nova série pronta a estrear: Cavalos de Corrida, de André Santos e Marco Leão, que co-assinam argumento e realização. Com um portfólio em que se destacam várias curtas-metragens premiadas, mas onde consta já um trabalho para televisão (Luz Vermelha, 2019-2020), a dupla traz-nos um projecto diferente, sobre uma quadrilha que resolve assaltar um banco numa época de recessão, no início dos anos 1980. Os “cavalos de corrida” do elenco são os actores Tomás Alves, Teresa Tavares, Miguel Guilherme, Soraia Chaves, Maria João Pinho, João Vicente e Filipa Areosa.

Com produção da Ukbar Filmes, o enredo de Cavalos de Corrida arranca em 1981, altura em que Domingos (Tomás Alves) se faz valer da sua serralharia para copiar as chaves de alguns clientes que, à primeira vista, revelam ter algumas posses. A companheira, Olinda (Teresa Tavares), segue-os até casa, disfarça-se de vendedora de cremes e avalia o recheio das habitações. Depois, Domingos volta lá para o assalto. O sonho dos dois? Comprar uma casa. Até que um dia aparece um homem misterioso chamado Orlando (Miguel Guilherme), que os desafia a assaltarem a caixa forte de um banco. É uma história de oito episódios para as noites de quarta-feira na RTP1, às 21.00, ficando cada episódio disponível na RTP Play nos mesmos dias, mas mais cedo, às 12.00. Estreia a 22 de Fevereiro.

Tomás Alves (Domingos) e Teresa Tavares (Olinda)
©Ukbar FilmesTomás Alves (Domingos) e Teresa Tavares (Olinda)

E se chegou até aqui a imaginar que a música do genérico será precisamente o tema “Cavalos de Corrida”, que os UHF lançaram em 1980, nem tudo é o que parece. A banda-sonora foi toda feita de raiz por Bruno Cardoso, mais conhecido como Xinobi, DJ e produtor português de música electrónica que também faz uma viagem às sonoridades da década de 80 do século passado.

Uma reflexão sobre “o que estamos a viver agora”

À conversa, os criadores da série revelam que o desafio foi lançado por Pablo Iraola e Pandora da Cunha Telles, da Ukbar filmes, com a qual estão a desenvolver a primeira longa-metragem, A Dança das Virgens (ainda sem data de estreia). “O Pablo e a Pandora disseram-nos: e fazermos uma série? E nós começámos a pensar o que é que se podia fazer, e a pesquisar sobre assaltos à mão armada nos anos 1980”, recorda André. Porquê assaltos à mão armada? Não pelo simples propósito de fazerem acção pura e dura. A motivação da dupla era outra. “O que era interessante sobre isto tudo, o que estava sempre à margem destas notícias era: como é que se vivia efectivamente em Portugal nos anos 1980? E nós começámos a pensar: o que se passava nesta altura não é muito diferente do [caminho] para onde estamos a ir agora. Escolhemos fazer esta série nos anos 80 sobre este grupo de assaltantes, porque nos permitia reflectir sobre como é que nós estamos a viver agora. Todas as inquietações dos nossos protagonistas são inquietações de agora. A inflação, o direito à habitação, queres ter um filho e não tens dinheiro para o fazer...”

Marco complementa: “Nestas pesquisas estava sempre a pensar: como é que seriam estas pessoas? Será que eles cometem um crime e ficam preocupados? Será que sofrem? A série não é como a acção americana, cheia de esteróides, em que o valor da vida não interessa e caem 20 corpos e ninguém pensou nisso. As nossas personagens preocupam-se, não querem fazer mal às outras pessoas, mas acabam por fazer. Têm um objectivo, um sonho e não há nada que os vá impedir de o fazer. Mas têm consciência e acho que isso é uma coisa que sempre nos interessou”.

Cavalos de Corrida,
©Pedro PinaAndré Santos e Marco Leão

Apesar de terem nascido em 1984, guardam algumas memórias da época que os ajudaram a criar o ambiente do argumento, dos dias em frente à televisão a ver filmes de acção com cassetes VHS, às músicas que ouviam na rádio. Mas fizeram um extenso trabalho de casa para cumprir o género com brio, como explica André: “O que fizemos os dois enquanto criadores foi ver todo o tipo de cinema que existia sobre o género. Heist movies desde 1940 até 2020, vimos tudo do mais autoral ao mais mainstream. Como o Le Cercle Rouge, do Jean-Pierre Melville; o Bonnie and Clyde [Arthur Penn]; o The Killing do Kubrick; o Gloria do Cassavetes; ou o Thief, do Michael Mann… Há muita coisa destes filmes que trouxemos para estes Cavalos de Corrida. O Domingos e a Olinda são a Bonnie e o Clyde lusitanos. Um casal que gosta de sair à noite, gosta de rock n’ roll, são hiper apaixonados, mas com dinâmicas muito tóxicas, e têm um sonho: ter uma casa. Eles entram nisto porque querem ter uma casa.”

Quanto ao nome que escolherem para baptizar a série, apesar de remeter para um tema de 1980, está intrinsecamente ligado às personagens. “Foi natural, porque nós sentimos que essas nossas personagens são elas também os cavalos de corrida. Vão galopando e vão levar tudo à frente”, defende Marco. Para André, “há um desespero destas pessoas para chegar à meta”, sendo “visceral a forma como estes cavalos, os nossos personagens, se relacionam de alguma forma com os cavalos de corrida, porque há um sufoco de conseguires atingir o teu objectivo.”

Neste momento, a dupla, que trabalha em conjunto há 17 anos, diz-nos que está a escrever a longa-metragem de estreia. Mas, além de também terem em mãos o projecto para a oitava curta-metragem da carreira, já estão a desenvolver ideias para uma segunda temporada de Cavalos de Corrida.

RTP1. Estreia a 22 de Fevereiro. Qua 21.00 (às 12.00 na RTP Play)

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