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Mayra Andrade: “Sentia cada vez mais necessidade de voltar ao ninho”

A maternidade levou Mayra Andrade a cantar de outra forma e fê-la repensar a relação com a música. Falámos sobre o novo álbum, ‘reEncanto’, gravado ao vivo durante a digressão que acompanhou este processo de redescoberta.

Luís Filipe Rodrigues
Editor
Mayra Andrade
Foto: ICUB Mayra Andrade
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Mayra Andrade estava cansada, “grávida e ainda a promover o [álbum] Manga”, de 2019. “Tive uma gravidez muito activa, profissionalmente. Com concertos até aos sete meses e outros projectos, nomeadamente uma peça de dança contemporânea”, recorda. “Sentia cada vez mais necessidade de voltar a uma espécie de ninho, de ventre, musicalmente. Queria estar sentada porque me doíam as costas, descalça porque me doíam os pés, e pôr-me a nu para o público. E apercebi-me de que nunca tinha feito uma turnê só com voz e violão, quando, na verdade, esse é o meu elemento natural. É como nascem as canções.” Foi assim que, em 2022, começou a ganhar forma reEncanto, a digressão documentada agora, num álbum homónimo e retrospectivo com edição marcada para esta sexta-feira, 11 de Outubro.

Na altura, Mayra Andrade não imaginava que aquele “regresso ao ninho” viria a traduzir-se num disco. A ideia era fazer apenas quatro concertos intimistas antes de a filha nascer – no CCB (Lisboa), na Casa da Música (Porto), no Teatro José Lúcio da Silva (Leiria) e no Convento de São Francisco (Coimbra) – “e acabou. Não ia haver mais nada”, garante. “Não sabia a dimensão que ia ganhar.” Faz uma pausa. “Sabia que havia de ser algo especial, porque acho que todos os momentos de verdade na música são especiais. Mas não imaginava que íamos ter salas cheias para nos ouvir só com voz e violão.” Nem que as pessoas ficassem tão entusiasmadas e emocionadas com o formato. “Por isso, eu e o meu agente decidimos marcar mais 15 concertos para o ano seguinte.” Spoiler: também não seriam os últimos.

“Entretanto, a minha filha nasceu, e fez a turnê toda comigo. Ainda só a amamentava, nem sequer tomava biberão, não comia. Portanto, para mim era muito intenso. Não havia descanso”, partilha. “A gravação deste concerto foi feita exactamente neste contexto. Estava mega cansada, em turnê, deixei a minha filha no hotel com uma nanny, tirei leite, pus no biberão, corri, cantei na Union Chapel [em Londres], e depois voltei para o hotel, para junto dela. Foi assim que fiz a turnê toda de 2023. E continua na estrada comigo. Agora vamos fazer mais três concertos.” O que vale é que “ela adora”, diz a cantora cabo-verdiana. “Eu não descanso, mas ela adora”.

O reEncanto de Djodje Almeida

Além da filha, Mayra Andrade tem tido sempre ao seu lado Djodje Almeida, o homem do violão. Sem ele, é difícil imaginar esta longa digressão, este disco. “Trabalhámos juntos em Pantera, da Clara Andermatt e do João Lucas. Tínhamos um momento que era voz e violão, completamente estruturado, dentro do espírito da peça. E percebi que tinha aí um aliado”, lembra. “Tinha um grande talento, e conhecimento da música cabo-verdiana, todavia ao longo da peça desconstruiu-se. Desenvolveu uma maturidade interessante, um pensar fora da caixa que a mim me dá muita liberdade”, continua. “Um dia perguntei-lhe se queria fazer três ou quatro concertos de voz e violão [comigo]. E ele disse logo que sim, bora fazer.”

“O Djodje é mais novo do que eu. Estas canções – e os meus discos – fizeram parte da sua formação musical. Cresceu a ouvi-las e acompanhou muitas pessoas em Cabo Verde que cantavam as músicas, etc. Mas só que houve muitas revelações quando ele veio à minha casa, conhecer as cifras originais de quando compus as músicas.” O desafio não era cantar as músicas como cresceu a ouvi-las, mas como era a versão original, antes de ter sido gravada, mesmo como eu a compus. É claro que, depois, ele foi acrescentando às músicas – mas nunca perdendo de vista a essência; respeitando-a sempre”, enaltece a compositora. “O Djodje tem essa abertura, essa humildade.” É fácil trabalhar com pessoas assim.

E é por isso que, apesar de estar prestes a encerrar este capítulo, com o lançamento do disco e mais uns quantos concertos intimistas, ela não descarta a hipótese de recuperar o formato no futuro. “O reEncanto poderá sempre voltar, e até alterar-se, com novas canções. Ele não define o que vem depois, nem tampouco é definido pelo que veio antes.” Mayra já tem uma vaga ideia do que virá depois. “Sinto que já estou a compor o próximo disco. Porque de repente surgem melodias, que tenho gravado. Ou estou a conversar ou a fazer o soundcheck, e assalta-me uma coisa, que gravo logo. Quando isto acontece é porque estou a compor um disco”. Mesmo que inconscientemente, “é como se estivesse já a acontecer”.

Teatro Tivoli BBVA. 9 Dez (Seg). 21.00. 22€-39€

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