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O Memorial da Escravatura vai finalmente avançar e terá morada no Campo das Cebolas. Lemos a proposta.
Foi um dos projectos vencedores do Orçamento Participativo de 2017, uma proposta de Beatriz Gomes Dias, presidente da Djass – Associação de Afrodescendentes. “O que nós pretendemos com este memorial é fazer uma homenagem a todas as pessoas que foram escravizadas, às quais foi recusada a dignidade e o direito de existir e que foram tratadas como mercadoria. E a todas as pessoas que resistiram a essa forma brutal de tratamento”, explicou na altura à Time Out.
Entretanto passaram mais duas edições do OP, mas a espera parece ter valido a pena: Catarina Vaz Pinto, vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa (CML), desenhou uma proposta, aprovada por unanimidade em reunião pública, que aumenta a verba inicial para o projecto. Em vez dos 100 mil euros primeiramente acordados, o valor do projecto foi alargado para 184 500 euros, justificados pela “dimensão e importância da temática”, lê-se na proposta. “Foi um processo demorado e que implicou, no que diz respeito às questões técnicas, diversas reuniões de trabalho com a Câmara Municipal de Lisboa”, explica agora a presidente da associação, acrescentando que assim acabaram por ter mais tempo para “elaborar um dossiê técnico e artístico bastante robusto, identificar artistas de grande qualidade e garantir que ao memorial seja associado um centro interpretativo”.
A ideia inicial era que o Memorial da Escravatura ficasse instalado na Ribeira das Naus, mas será no recuperado Campo das Cebolas que será inaugurado, em Março de 2020. O lugar tem significado: foi ali que funcionou um mercado de escravos, segundo explicou Catarina Vaz Pinto antes da votação final. “Esperamos que seja um reconhecimento importante da cidade a toda esta temática ligada à escravatura. Uma dimensão tão importante do nosso passado histórico e do nosso presente, na medida em que também implica o reconhecimento de toda esta comunidade, dos seus direitos e da sua participação na história da cidade e do país”, concluiu.
Numa segunda fase, será criado um centro interpretativo num edifício em tijolo do Largo José Saramago (o nome oficial do Campo das Cebolas), propriedade da CML: “Para uma contextualização histórica mais aprofundada e para a realização de eventos ligados à temática focada”, diz a proposta agora aprovada. “O local inicialmente proposto não oferecia condições para a instalação desse centro, pelo que foi necessário procurar outro local”, explica Beatriz Gomes Dias.
Agora só falta escolher o artista. Segundo explica a Djass, a responsabilidade será atribuída a um artista africano ou afrodescendente de um país de língua portuguesa, “com um trajecto reconhecido na arte contemporânea internacional e que, em maior ou menor grau, inclua na sua obra temas e reflexões que a ligam às questões da escravatura, do colonialismo, do pós-colonialismo e do racismo”. A proposta vencedora será votada em várias sessões públicas que vão decorrer em Outubro em vários locais de toda a Área Metropolitana de Lisboa que tenham forte presença de comunidades africanas e afrodescendentes.
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