[title]
Abrir uma casa sem a ter pode parecer um paradoxo, mas os membros-fundadores da Casa da Cultura da Guiné-Bissau (CCGB) não quiseram esperar mais. E há um motivo forte para isso: este ano assinala-se o centenário do nascimento de Amílcar Cabral, figura central da luta anti-colonialista guineense. Por outro lado, sentiam que faltava um projecto capaz de "acolher todos os promotores culturais" da identidade daquele país, com o objectivo de a difundir, como explicou a directora da CCGB, Rita Ié, ao Jornal de Letras. “Não foi a primeira tentativa", continuou a socióloga e escritora, "mas achámos que este era o momento para criar algo que ficasse e pudesse crescer, demonstrando a nossa diversidade cultural”.
A iniciativa parte de um grupo de investigadores, artistas e activistas, e é oficialmente lançada no sábado, 20 (Cabral foi assassinado a 20 de Janeiro de 1973), na sede da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa, na Avenida da Índia, em Lisboa. A primeira apresentação pública do projecto vai contar com a presença do músico Micas Cabral (vocalista dos Tabanka Djaz), do artista plástico Young Nuno e do escritor Edson Incopté, entre outros.
Para o resto do ano, estão programadas actividades como "um colóquio sobre o legado cultural de Cabral, o seu pensamento e tudo aquilo que ele representa", exposições, uma mostra de cinema, um concerto encenado de homenagem ao músico guineense José Carlos Schwarz (será o segundo momento da CCGB, em Maio) e um encontro de artistas e escritores guineenses. Será, ainda, instituído um prémio literário nacional e lançada uma colecção de livros sobre o pensamento de Amílcar Cabral, conforme anunciou a directora. Em resumo, o objectivo é "agregar toda essa cultura" dentro da mesma casa. "Queremos mostrar os nossos artistas ao mundo e, ao mesmo tempo, interagir com outras realidades culturais."
A Casa da Cultura da Guiné-Bissau vive, para já, de doações. “Não temos um financiamento para tudo aquilo que pretendemos fazer. Mas temos encetado contactos com diferentes instituições para estabelecer parcerias, não só do sector público, mas também do sector privado, quer em Portugal quer na Guiné-Bissau”, declarou Rita Ié ao JL.
+ Lisboa ganha 20 placas e uma estátua para lembrar cinco séculos de presença africana