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Quem passa à frente da nova florista da Mouraria não fica indiferente. Uns param, outros demoram-se só para tentar desvendar o que ali vai. É uma espécie de gruta de Ali Babá, mas que, em vez de ouro, está cheia de flores e plantas. Filipe Viegas é o proprietário e deixou as artes performativas para aplicar a criatividade noutro sítio, as composições florais. "Sempre gostei de comprar flores para ter em casa, mas apenas isso. Com a pandemia, quis mudar de vida e fui tirar um curso numa florista aqui em Lisboa", conta à Time Out.
A incerteza do meio artístico, que em tempos o levou a mudar-se para Roma, impeliu-o a descobrir uma nova paixão já em solo português: as flores. Aprendeu as bases numa florista lisboeta e voou até Nova Iorque para, durante seis semanas, estrear-se no mundo do flower design. No regresso, ter um espaço próprio era imperativo. Aqui, no piso térreo de um prédio da família, onde o avô guardou móveis das antigas drogarias, nasceu a Mille Fleurs.
Alguns desses móveis ficaram. As paredes e o tecto foram deixados em bruto e um dos buracos no chão foi transformado num canteiro improvisado. Foi assim que Filipe idealizou o seu atelier de flores – um cenário pós-apocalíptico, onde a natureza invade a arquitectura, reclamando um espaço que é seu por direito.
A luz diminui à medida que avançamos no espaço — existem até lâmpadas de luz ultra-violeta que acendem quando a do sol se torna insuficiente. Entre rosas, orquídeas, gipsófilas, plantas envasadas e os primeiros pinheiros de Natal, Filipe cria para responder às encomendas. De porta aberta há uma semana, o bairro descobre agora o seu mais recente negócio. Para muitos dos novos vizinhos, estrangeiros que se mudaram para Lisboa, comprar flores frescas para ter em casa é uma rotina e a conveniência de ter uma florista por perto já se faz notar.
A sustentabilidade, "até onde é possível controlar", é lavada à risca. Em vez da tradicional (e poluente) espuma de suporte, Filipe usa uma alternativa biodegradável, feita num material de origem vulcânica. Em suma, todas as ferramentas são bem-vindas, desde que não interfiram com a criatividade.
Ao fundo da loja, encontramos uma selecção de cerâmica portuguesa. Há peças da Vicara e do projecto Tasco, chávenas de Maria Caetano, uma ceramista com atelier não muito longe daqui, criações originais da Heir Ceramics e ainda as peças em mármore de Alexandra Ferreira. Uma forma de piscar o olho aos turistas em trânsito. Uma montra que só tende a crescer, à medida que Filipe descobre novos autores.
Rua dos Lagares, 10 (Mouraria). 913 185 646. Seg 13.00-19.00, Ter-Sex 10.00-19.00, Sáb 10.00-15.00
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