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Moda e liberdade: 15 histórias contadas por Béhen na ModaLisboa

Numa colecção de 15 coordenados, a marca portuguesa contou 15 histórias sobre vestir e ser mulher antes do 25 de Abril.

Mauro Gonçalves
Escrito por
Mauro Gonçalves
Editor Executivo, Time Out Lisboa
Béhen, ModaLisboa
Gonçalo Silva
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Um ano e meio bastou para que a marca de Joana Duarte conquistasse um lugar cativo no calendário da ModaLisboa e, de certa forma, num grupo de jovens criadores que pode facilmente ser rotulado como nova e relevante geração. "Liberdade é nome de mulher" foi a colecção apresentada no Capitólio, esta sexta-feira, ao início da noite. Com ela, a designer natural de Santarém fez desfilar as vivências de 15 pessoas, homens e (sobretudo) mulheres que desafiaram o ser, o estar e o vestir no feminino ainda durante a ditadura.

"Começou por ser algo muito focado no 25 de Abril e nas militantes da altura, mas apercebi-me de que existiam bolhas diferentes e de que o regime foi vivido de formas muito diferentes. Isso levou-me a reflectir muito mais sobre o papel da mulher nessa altura e, em particular, nas mulheres ligadas às artes que, nessa altura, criaram alguma disrupção", explica a criadora à Time Out. Testemunhos transpostos para fatos de duas peças, bocas de sino, franjas e bordados.

Béhen, ModaLisboa
Gonçalo Silva

A colecção fez-se no terreno, ouvindo e conversando com figuras de proa da cultura e das artes em Portugal. Simone de Oliveira, Maria João Seixas, Helena Vieira, Margarida Tengarrinha e Ana Vidigal, entre muitas outras, partilharam as suas histórias sobre hábitos e sobre os próprios guarda-roupas numa década quente como foi a de 70. "Cada coordenado do desfile representa um conceito. A colecção não é um conjunto de representações dos looks da altura, são uma construção minha com base nos gostos e na história de cada pessoa", continua Joana.

Uma Ana Vidigal de calças de ganga ou uma Simone de Oliveira de blazer foram silhuetas incontornáveis, logo referências directas no desfile desta sexta-feira. A base é a que a Béhen tem vindo a trabalhar desde o primeiro dia: colchas antigas, no Verão de 2022 com especial foco nas de algodão, bordado Madeira e uma nova incursão pelo bordado de Viana do Castelo, esse sim feito de raiz sobre as peças. Fatos de duas peças, casacos ao estilo afegão e ombros evidenciados resultaram numa glamorização da silhueta.

Moodboard da colecção "Liberdade é nome de mulher"
DRMoodboard da colecção

Mas nem só de vozes femininas é feito este coro. Joana reuniu ainda testemunhos de Filipe La Féria, de Carlos Avilez e de António da Cunha Telles, "homens que directa ou indirectamente contribuíram para a libertação feminina". A Casa do Artista foi uma espécie de braço direito na hora de estabelecer contacto com as 15 personalidades que inspiraram a colecção do próximo Verão, embora nem todas tenham visto as luzes da ribalta. "Uma tia minha afastada tinha o sonho de ser cantora mas a família não deixou. Escolhi-a por representar tantas raparigas da altura que não seguiram uma carreira por falta de meios, porque a família não as apoiou ou por simplesmente terem sido humilhadas ao tentarem."

Depois de ter contado histórias de amores e desamores através da roupa, pela primeira vez, Joana Duarte coloca nomes e rostos numa colecção. "É o que faz sentido: falar com as pessoas e conhecer as suas histórias. Esta colecção marca um novo capítulo na minha forma de trabalhar e de procurar um conceito, além de recordar uma época que devia ser relembrada com mais frequência, em que as artes tiveram um grande impacto na mudança de mentalidades".

Béhen, ModaLisboa
Gonçalo Silva

Um capítulo que tem trazido à marca mais visibilidade internacional, consequência do trabalho conjunto com uma agência em Los Angeles. Um passo que já deu frutos — desde o último Verão, as peças Béhen já foram usadas por M.I.A., Rosalía e pela norte-americana H.E.R.. A somar ao portfólio de celebridades, há um novo atelier em Lisboa, junto à Calçada do Combro, possível graças ao prémio de empreendedorismo feminino concedido pela embaixada dos Estados Unidos da América. Um espaço pequeno, mas que coloca a designer no coração de Lisboa, mais próxima das histórias que lhe servem de matéria-prima.

Ao final da tarde e antes de Béhen, foi Carolina Machado a inaugurar a passerelle do Capitólio. Não faltou habitual base de alfaiataria, nem as silhuetas cintadas que caracterizam o estilo da jovem designer da plataforma Lab. O preto, o branco, o laranja e o fúcsia foram a paleta escolhida. O segundo dia da ModaLisboa contou ainda com os desfiles de Kolovrat e Luís Buchinho.

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