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Num espaço outrora votado ao abandono, Laura Porru e Pedro Abreu montaram um negócio sui generis – uma loja de roupa e acessórios em segunda mão que abre caminho para uma oficina de serigrafia que, por sua vez, traz atrelada uma pequena galeria. Estamos no Beato, onde as boas ideias continuam a germinar, adubadas pela expectativa de um boom que está por vir. Aqui, mesmo em frente ao edifício onde está a nascer o Hub Criativo, esta dupla assenta mais uma pedra (paredes meias com o restaurante Clube de Vídeo e a dois passos da novíssima casa do projecto Drag Taste).
São, antes de mais, amigos improváveis, separados por um quarto de século. Laura, de 19 anos, começou a vender as primeiras peças ainda durante a pandemia. O sucesso não demorou e, no início do ano, decidiu saltar para fora do Instagram, embora com um formato pop-up. A adesão foi imediata – as novas peças chegam através de feiras e mercados, mas também de achados particulares que chegam pelo próprio pé.
A Fora de Prazo, nome que escolheu quando o negócio ganhou dimensão física, é agora um baú de memórias, com camisas unissexo, malhas e casacos, botas texanas, um chorrilho de brincos e outras bijutarias vistosas, boinas, cintos e gravatas, imensas gravatas. "A maioria das lojas recebe roupa de outros países da Europa. Eu estou sempre à procura de peças em feiras e em stocks de guarda-roupa de cinema. Também me trazem muita coisa aqui à loja, ou seja, compro tudo localmente", assinala Laura.
"Lembrei-me deste espaço. É da minha família e estava devoluto. O Pedro é amigo da minha mãe e, assim que aqui veio, começou logo a limpar e a arranjar tudo", explica à Time Out. As paredes descascadas fazem parte do charme deste sítio. Junte-lhes móveis antigos, uma colecção de telefones encomendada ao século passado e um provador construído e decorado a partir de lixo e terá uma imagem muito próxima do que é a nova loja do Beato, além de uma amostra das habilidades de DIY de Pedro, o operador de câmara que, há coisa de cinco anos, se dedicou a explorar as manhas da serigrafia.
"Inevitavelmente, isto vai começar a bulir", afirma o anfitrião, em jeito de profecia. Enquanto este troço de Lisboa oriental não fervilha, cabe aos pioneiros chamar a atenção do resto da cidade. E se os cabides fartos logo à entrada são o chamariz mais imediato – "A roupa é o nosso isco", admite a certa altura –, a oficina que montou numa das salas de trás tem igual potencial de vir a atrair curiosos. "A ideia é tirar a malta do Excel e pô-la outra vez a sujar as mãos", resume.
Mais do que um espaço de trabalho, Pedro – que dá pelo nickname (referência obviamente geracional) de Inkonografista –, criou uma oficina aberta. Os workshops de serigrafia arrancam em Setembro, aos fins-de-semana, mas o equipamento também está disponível para quem quer imprimir o próprio trabalho. Tem sido o caso de alguns alunos da António Arroio que passam por aqui e acabam por deixar trabalhos à venda, numa pequena sala apelidada de galeria. Na mesma lógica, está a ser montado um laboratório de preto e branco para os fotógrafos amadores que precisem de sítio e equipamento para revelar e ampliar. O aluguer será feito à hora.
Mas há um momento em que os dois mundos se encontram. Na oficina, continua a aperfeiçoar-se a serigrafia sobre têxtil, uma forma da valorizar peças mais danificadas ou menos interessantes do ponto de vista do design. Imaginação não falta e vontade de chamar gente para descobrir o bairro também não.
Rua do Grilo, 94 (Beato). Seg-Sex 12.00-18.00
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