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“O teatro é tudo isto, é criatividade, é trabalhar com a comunidade”, diz o presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Carlos Moedas, já no interior do novíssimo Avenidas, o espaço cultural que este sábado abriu ao público com casa cheia. Fica no Bairro de Santos ao Rego, também conhecido como Bairro do Rego, e chama-se simplesmente Avenidas – um detalhe que não passa despercebido já que, afinal, por ali passará mais do que teatro (e que evita assim confusões com o Teatro Avenida, a sala de espectáculos na Avenida da Liberdade inaugurada em 1888 e consumida por um incêndio em 1967).
A programação do fim-de-semana de abertura funcionou como “cartão de visita” do que deverá vir a ser o Avenidas. Sábado contou com uma oficina para crianças, um concerto da banda Farra Fanfarra e a leitura da peça As Presidentes, de Werner Schwab, pela Companhia Cepa Torta. Domingo mostrou-se o documentário Rock Rendez Vous – A revolução do rock, de Ricardo Espírito Santo, sobre o clube de rock de culto nos anos 80, que ficava ali a dois passos, na Rua da Beneficência. Inaugurou ainda a exposição “O Meu Bairro Sou Eu”, da Agência Calipo. O colectivo de fotógrafos registou retratos da população do bairro e exibe-os nesta mostra que fica patente até 28 de Fevereiro.
“Ler para os meus filhos”, “as ondas do mar”, “comer um bitoque” são algumas das frases que pintam o mural ao lado do edifício, que outrora era a Biblioteca-Museu República e Resistência (BMRR) e que encerrou para obras em 2019 (na época já se questionava a incerteza quanto à sua reabertura). A instalação é da artista Carolina Caldeira, e reúne expressões que representam felicidade. “É o exercício de pararmos para pensar naquilo que nos faz feliz. À partida é uma coisa muito simples, mas quando reflectimos sobre isto através de vários pensamentos percebemos que é um bocadinho mais complexa”, observa a artista. “Se te faz feliz diz” foi o repto lançado aos moradores do bairro e as respostas (180, no total) estão à vista também no interior do Avenidas, no rés-do-chão. Um piso abaixo descobre-se uma galeria de exposições e um auditório, com capacidade para 80 lugares, que servirá “para apresentações de teatro, poesia, formação, apresentação de livros”. Há ainda um segundo andar, com uma entrada independente, sob a alçada da Junta de Freguesia das Avenidas Novas, com espaços dedicados à área social e à empregabilidade.
Por enquanto, findo o fim-de-semana inaugural, e sem mais programação anunciada, ficam as exposições. “Vamos fazer uma programação com os moradores e as associações locais”, explicou à Time Out o vereador da Cultura da CML, Diogo Moura. “Um dos objectivos deste espaço é criar essa proximidade. Quando as pessoas têm um espaço de proximidade em que vão reconhecendo as caras de quem está à frente do projecto é muito mais fácil”. Com este novo espaço, a autarquia pretende “apoiar os artistas e agentes culturais, combater as assimetrias existentes no acesso à cultura entre diferentes bairros da cidade”. Todas as actividades, das peças de teatro às exposições, serão de entrada gratuita, para chegar “ao público que não tem tanto acesso à cultura ou hábitos de consumo cultural”, atenta o vereador. A excepção é feita para projectos “como uma peça de teatro, que venha em regime de acolhimento, e em que precisem de ter receita para eles. Não queremos impedir que isto exista”, ressalva ainda. Diogo Moura frisa que o objectivo final é, “quando tivermos uma rede mais consolidada, criar uma itinerância”, poder fazer um “cruzamento entre territórios”.
O Avenidas é o primeiro equipamento do programa “Teatro em cada Bairro”, “uma cópia de boa-vontade” do que Carlos Moedas viu na Boutique da Cultura, o espaço em Carnide, que, admitiu o autarca este sábado, o “inspirou para o projecto”, que é para alargar a toda a cidade, “porque a cidade só estará completa quando tivermos um teatro em cada bairro”.
Câmara espera abrir outros três teatros em 2023
Depois das Avenidas Novas, já se sabe quais serão as próximas freguesias a ter um novo teatro. À Time Out, o vereador Diogo Moura adianta que além do Cine-teatro Turim, em Benfica, que deverá abrir definitivamente em “Abril ou Maio”, em Belém estão “agora começar obras numa antiga academia dramática, aliás o sítio onde os Xutos e Pontapés se estrearam”, referindo-se ao espaço da Câmara que é ocupado pela ADF – Academia Dramática Familiar, na Rua da Praia de Pedrouços.
Não muito longe dali, é num “antigo lavadouro” que a CML pretende construir outro espaço polivalente na Ajuda ainda no próximo ano. “Estamos a falar de um antigo lavadouro municipal que está abandonado há algum tempo. Vamos criar um pequeno auditório, um género de black box, e o espaço da Junta adjacente servirá para espaços de ensaios”, acrescenta.
Contas feitas, a Câmara Municipal de Lisboa espera “tentar abrir três [teatros], ou pelo menos começar a obra em três” em 2023, garante o vereador.
“Um teatro em cada bairro” foi uma das promessas do programa eleitoral da coligação “Novos Tempos”, nas autárquicas de Setembro de 2021. “Assegurar um centro multicultural em Cada Bairro, os chamados EspaçosLxis – ‘um teatro em cada bairro’ –, espaços que conjugam a inovação e a criatividade com as vertentes de sala de espectáculos/ensaios, permitindo, assim, o fomento cruzado da cultura, da criatividade e da ciência", lia-se no documento.
Avenidas. Rua Alberto de Sousa, 10 A (Avenidas Novas)
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