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Comprado pela Merlin Properties em 2016 e encerrado desde 2019, o Cinema Monumental vive um impasse. Em Outubro, a proprietária considerou ceder o espaço a custo zero a um centro de formação na área tecnológica, mas, para isso, seria necessário o Governo autorizar a desafectação do espaço à actividade cinematográfica, conforme estipula a lei. O pedido foi feito, mas, noticia esta sexta-feira o Observador, "o ministro da Cultura decidiu pela não desafectação do edifício, uma vez que foi possível verificar a existência de interessados na exploração do Cinema Monumental". Os potenciais interessados, informou àquele órgão o gabinete de Pedro Adão e Silva, ministro da Cultura, serão "capazes de apresentar propostas com elevada qualidade, pelo que não se encontram esgotadas as possibilidades de reactivação da exibição cinematográfica naquele espaço”.
A decisão do ministro foi partilhada esta quarta-feira, 13 de Março, às entidades representadas na SECA – Secção Especializada do Cinema e do Audiovisual do Conselho Nacional de Cultura e justifica-se pelo facto de que a "desafectação iria em contraciclo com as políticas culturais, em Portugal e na União Europeia, actualmente orientadas para apoiar a actividade de exibição cinematográfica em sala". Há um "esforço que tem sido feito em diversos pontos do país, e com bons resultados, de reabrir salas de cinema em áreas nobres do espaço público", dando como exemplos "o Cinema Trindade e o Cinema Batalha", no Porto.
Saliente-se que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) abarca, entre outros investimentos no domínio audiovisual, a aquisição de equipamento de projecção digital de cinema e de vídeo, imagem e tecnologia para 155 teatros, cineteatros e centros de arte contemporânea públicos, ao mesmo que se aposta na reabilitação de diferentes salas do país. Em 2022, o então secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media, Nuno Artur Silva, afirmou que a inclusão do cinema e do audiovisual no PRR foi "a medida mais estrutural" tomada pela tutela para o sector.
Receitas de bilheteira animam cinemas
Por outro lado, "os dados disponíveis relativos à exibição cinematográfica não permitem concluir que o negócio tenha deixado de ser comercialmente viável". A pandemia pode ter baralhado um pouco as contas, mas "as receitas de bilheteira de cinema em 2023 confirmam um ciclo de recuperação global, que se verifica também no nosso país", segundo a análise do Ministério.
O Monumental abriu como teatro em 1951, tendo o edifício original ido a abaixo em 1984. Reaberto como cinema pelo produtor Paulo Branco (Medeia Filmes), o espaço exibiu filmes no coração do Saldanha durante décadas, mas em 2018 o seu dinamizador deixou de considerar o negócio financeiramente viável. Cinco anos antes, o produtor havia abandonado também a exploração do Cinema King, junto à Avenida de Roma.
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