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Morreu Marco Paulo, o cantor que nos pôs a dançar o amor

Com uma carreira de mais de meio século, Marco Paulo foi uma figura central na música popular portuguesa, em particular durante as décadas de 1980 e 90.

Hugo Torres
Escrito por
Hugo Torres
Director-adjunto, Time Out Portugal
Marco Paulo
©DR
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“Ninguém, ninguém/ Poderá mudar o mundo” – e não era o que queria fazer. “Ninguém, ninguém/ É mais forte que o amor/ Ninguém, ninguém, ninguém” – sabia-o bem e o que quis foi fixar esse ensinamento na pauta. Marco Paulo queria cantar a vida tal como ela era, apaixonada, embeiçada, com traições, momentos de redenção, provocação e muita vaidade. Foi ele quem nos deu essa lição de “Ninguém Ninguém”, ainda em 1978, no lado B de um single que viria a chegar a disco de ouro e que anteciparia o monumental sucesso das duas décadas seguintes, em que se faria figura central da música popular portuguesa.

No lado A estava uma faixa que não ficaria para a grande história, “Canção Proibida”, mas que voltaria a ser editada no LP de 1979, Concerto Ligeiro, tal como “Ninguém Ninguém”. Nesse disco, Marco Paulo cantava uma versão de uma canção italiana (o reportório era quase integralmente “adaptado”) intitulada “Que me importa morrer”. Não era valentia ou irreflexão de juventude, era uma declaração de amor. Marco Paulo a rasgar as vestes perante um arrebatamento. 45 anos depois, estamos perante o facto: Marco Paulo morreu esta quinta-feira, aos 79 anos, vítima de cancro. Mas a canção continua a tocar.

Nascido a 21 de Janeiro de 1945 em Mourão, Alto Alentejo, João Simão da Silva adoptou o nome artístico pelo qual o conhecemos quando se lançou no mundo da música. A carreira começou em meados dos 1960, gravando e cantando no Festival da Canção e ao lado de estrelas como Madalena Iglésias e Simone de Oliveira. Cumprido o serviço militar, na Guiné-Bissau, voltou para cantar com o Quarteto 1111 e tentar sagrar-se “rei da rádio”, num concurso em que falhou o pódio. A voz de Marco Paulo só encontraria caminho para a fama no final da década de 1970, quando lançou o single Canção Proibida/Ninguém Ninguém.

Foi disco de ouro. O primeiro de muitos, até porque a partir daí choveram hits. “Mulher Sentimental” (1979) foi outro. Pela Valentim de Carvalho, edita mesmo O Disco de Ouro, em 1982, compilação que abre com “Anita” e fecha o lado A com o enormíssimo sucesso “Eu Tenho Dois Amores” (mais uma “adaptação”, esta de um compositor grego), que já tinha sido editada como single em 1980, tendo vendido quase 200 mil cópias. Tal como “Mais e Mais Amor”, que em 1981 saiu das lojas de discos como pãezinhos quentes. Seguiram-se “Flor Sem Nome” (1983), “Morena Morenita” (1984), “Joana” (1988), “Sempre Que Brilha o Sol” (1988). Pelo meio, ainda cantou temas compostos por um Toy em início de carreira.

No início da década seguinte, continuou a gravar o seu nome no imaginário colectivo português. Entre os discos De Todo o Coração (1990) e Amor Total (1993), que foi mais um sucesso de vendas, lançou outro daqueles temas que podiam fazer parte de um teste de acesso à nacionalidade: “Taras e Manias” (1991). Quando “Chegou o Noivo” (1997), tinha chegado também a carreira televisiva de Marco Paulo, que começou na RTP e se estenderia até aos seus últimos anos de vida, na SIC – e tinha chegado também o primeiro diagnóstico de cancro, que viria a ouvir dos médicos por diversas outras vezes, para diferentes órgãos. 

Marco Paulo manteve-se activo e a lançar discos frequentemente, incluindo um álbum de versões de Roberto Carlos (Amor Sem Limite, 2004) e um live de consagração (Ao Vivo No Campo Pequeno – Tour 50 Anos, 2017), embora sem o acolhimento popular de outros tempos. O último é de 2022.

“Reconhecido pela sua voz inconfundível, Marco Paulo deixa uma obra vasta e eclética na música portuguesa, bem como um vínculo afectivo profundo na memória do público português”, escreveu a ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, numa nota de pesar. “Imensamente popular, foi um dos artistas portugueses mais acarinhados das últimas décadas, e cujas canções são conhecidas e entoadas por diferentes gerações. Com uma capacidade única de emocionar através da voz e da sua música, o seu contributo no cancioneiro da música portuguesa é ímpar.” Numa nota mais breve, a Presidência da República informa que Marcelo Rebelo de Sousa “recebeu com pesar a notícia do falecimento do cantor Marco Paulo, que esteve presente na vida musical portuguesa longas décadas”.

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