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Morreu Maria Teresa Horta, a escritora insubmissa

Escritora, sonhadora e activista, a última das Três Marias morreu aos 87 anos, comunicou a editora Dom Quixote, a pedido da família.

Rute Barbedo
Escrito por
Rute Barbedo
Jornalista
Maria Teresa Horta, em 2022
Ricardo Lopes | | Maria Teresa Horta, em 2022
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"Quando eu deixar de escrever é porque morri", disse-o Maria Teresa Horta, numa entrevista à Time Out em 2022, certa da sintonia. Deixou de escrever e de viver esta manhã, dia 4 de Fevereiro, aos 87 anos, abrindo "uma perda de dimensões incalculáveis para a literatura portuguesa, para a poesia, o jornalismo e o feminismo, a quem Maria Teresa Horta dedicou, orgulhosamente, grande parte da sua vida", comunicou a editora Dom Quixote.

Maria Teresa Horta, em 2022
Ricardo LopesMaria Teresa Horta, em 2022

A última das Três Marias com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, integrou o Movimento Feminista de Portugal e escreveu Novas Cartas Portuguesas, censurado por ofensa à moral, em 1972 – era "uma das personalidades mais notáveis e admiráveis do nosso tempo, reconhecida defensora dos direitos das mulheres e da liberdade, numa altura em que nem sempre era fácil assumi-lo", escreveu a editora. Numa nota de pesar, a ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, destaca como "a sua escrita, marcada por uma voz única e corajosa, que abordou temas como a liberdade, o corpo feminino, o erotismo e a condição da mulher na sociedade portuguesa, continuará a inspirar futuras gerações de escritores e leitores, mantendo viva a luta pela igualdade e pela liberdade de expressão"

Já a biógrafa Patrícia Reis, que dedicou cinco anos de trabalho à escritora nascida em Lisboa a 20 de Maio de 1937, garante, citada pelo Diário de Notícias, que, com o desaparecimento de Maria Teresa Horta, "morreu um pedaço de história". "Talvez estes tempos que estamos a viver nos obriguem a olhar para o legado de pessoas como a Teresa, para os honrar. A Teresa foi uma das grandes vozes da literatura portuguesa, com pouco reconhecimento tanto da academia como dos prémios. Uma pessoa inteira, muito coerente com as suas convicções e as suas ideias.”

Maria Teresa Horta, em 2022
Ricardo LopesMaria Teresa Horta, em 2022

Além de poeta, romancista e activista, foi a primeira mulher a dirigir um cineclube em Portugal (o ABC, em Lisboa) e publicou em jornais como o Diário de Notícias, o Diário de Lisboa ou A Capital, e foi chefe de redacção da revista Mulheres, a convite do Partido Comunista Português, do qual foi militante entre 1975 e 1989.

Por tudo isto, a autora de Anunciações ou Ambas as Mãos Sobre o Corpo foi considerada em Dezembro, pela BBC, uma das “100 mulheres mais influentes e inspiradoras de todo o mundo”. Em plena ditadura, a disseminação de Novas Cartas Portuguesas em França, pelas mãos de Simone de Beauvoir, e o duro julgamento em solo português das chamadas Três Marias (que foi acompanhado pelo jornal Le Monde ou pelo The New York Times) “fez manchetes e inspirou protestos em todo o mundo”, sublinhou o canal britânico. Ao lado das autoras estiveram nomes como Marguerite Duras, Doris Lessing ou Iris Murdoch, com o fervor geral a tornar o caso votado como a primeira causa feminista internacional, numa conferência da National Organization for Women (NOW), em Boston, no ano de 1973.

"Ficarmos caladinhas? Não, não, não, Deus me livre", dizia Maria Teresa Horta. Os livros, agora, falam por ela.

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