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MOTELX 2024: do terror da censura ao terror da Inteligência Artificial

O festival só chega em Setembro ao Cinema São Jorge, mas já apresentou os principais destaques da próxima edição. O cinema de terror censurado em Portugal é um dos braços da programação.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
Jornalista
John Gilling
©DRThe Plague of The Zombies (1966), de John Gilling
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Terror, muito terror. Esta segunda-feira, o Cinema São Jorge acolheu o primeiro momento MOTELX do ano, numa sessão de apresentação dos destaques da próxima edição, que chega a esta casa da Avenida da Liberdade entre 10 e 16 de Setembro. A Bem da Nação é uma das secções especiais do programa, composto por filmes de terror censurados antes do 25 de Abril de 1974, à boleia dos 50 anos da Revolução dos Cravos. A secção Quarto Perdido também acolhe a temática.

O MOTELX – Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa regressará uns dias após o habitual warm-up, um conjunto de eventos que antecede o festival e entre 6 e 7 de Setembro ocupam o Beato Innovation District. O desenho desta programação pré-festival foi feito em parceria com o colectivo Liquid Sky, que segundo o director do festival, João Monteiro, será um “laboratório imperdível de fusão entre música electrónica e cinema de terror”. Workshops, jam sessions, concertos, performances e uma sessão de cinema ao ar livre (com filme ainda por anunciar) farão parte do aquecimento.

Nesta 18.ª edição, a censura do cinema de terror estará na tela. Trata-se de uma programação especial baptizada de A Bem da Nação, e composta por filmes que foram proibidos em Portugal antes do 25 de Abril. Reza a história que foram 30 os filmes submetidos ao Secretariado Nacional de Informação: 16 foram totalmente proibidos e os restantes acabaram por estrear com cortes. Dessa selecção, o MOTELX escolheu cinco: Il Demonio (1963), de Brunello Rondi; The Plague of The Zombies (1966), de John Gilling; 10 Rillington Place (1971), de Richard Fleischer; Valeria and Her Week of Wonders (1970); e uma sessão surpresa que irá acontecer na sala Rank, que terá servido os interesses da Comissão de Censura aos Espectáculos.

Richard Fleischer
©DR10 Rillington Place (1971), de Richard Fleischer

Este ano, a secção Quarto Perdido também toca o tema do 25 de Abril, composto por filmes que adoptam a metáfora para representar o fascismo português. São eles A Culpa (1980), filme realizado e escrito pelo maestro António Vitorino de Almeida, sobre a Guerra Colonial; e As Desventuras de Drácula Von Barreto nas Terras da Reforma Agrária (1977), uma curta-metragem produzida pelo Partido Comunista Português, com Henrique Espírito Santo e Artur Semedo. O tema censura também encontra espaço numa Sessão Especial composta pelo filme de terror psicológico Censor (2021), de Prano Bailey-Bond, sobre uma censora de filmes britânica.

Outro tema em destaque nas sessões especiais do MOTELX será a Inteligência Artifical (IA), com o filme ensaio Cartas Telepáticas (2024), de Edgar Pêra. O primeiro filme totalmente feito com o uso de ferramentas de inteligência artificial, que imagina uma correspondência entre Fernando Pessoa e H.P. Lovecraft. A IA estará ainda sob foco no AI Horror Short Films Showcase, uma secção exclusivamente dedicada a curtas-metragens criadas com ferramentas de IA, resultado de um desafio lançado pelo festival.

Edgar Pêra
©DRCartas Telepáticas (2024), de Edgar Pêra

Também novidade este ano é o nascimento da secção Sala de Culto, dedicada às produções que tanto pode ser de série A como de série Z, desde que sejam “obras inqualificáveis da sétima arte”, descreve o programa. E estão confirmados dois filmes: o telefilme da RTP Experiência em Terror (1987), de Andrade Albuquerque, baseado num conto de Dick Haskins; e O Velho e a Espada (2024), de Fábio Powers, um filme rodado numa aldeia da Beira Baixa e um buddy movie de fantasia e comédia que homenageia as produções série B. Um dos actores é Luís Aleluia, neste que foi o seu último papel, e destaque também para o protagonista António da Luz, que cumpriu o sonho de fazer um filme, mas que também morreu antes da estreia desta produção.

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