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MOTELX: “Programar cinema de terror para crianças é um desafio”

O MOTELX não é só para adultos. Os mais novos também têm direito a uma secção só para eles. Falámos com a programadora Sara Lopo sobre que medos os esperam.

Raquel Dias da Silva
Jornalista, Time Out Lisboa
Flow (2024), de Gints Zilbalodis
DRFlow (2024), de Gints Zilbalodis
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O Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa está de volta à cidade. A partir desta terça-feira, 10 de Setembro, e até dia 16, a censura do cinema de terror estará nas telas do Cinema São Jorge. Mas nem pense que são só os adultos a ter direito a apanhar uns sustos. Com programação de Sara Lopo, a secção Lobo Mau, pensada para crianças dos seis aos 12 anos, também promete expor os medos dos mais novos, da solidão à ansiedade climática.

“O que a secção procura fazer é ensinar ou trabalhar o que chamamos de inteligência emocional”, diz-nos Sara Lopo, que admite ser “um desafio” programar para os mais novos. “Neste caso, como estamos a falar de cinema de terror, focamo-nos no medo como uma emoção que queremos que eles percebam que é natural. O mais importante é saberem que podemos viver com eles e até ultrapassá-los.”

Este ano, a programadora destaca a longa-metragem Flow (2024), de Gints Zilbalodis, que se estreou na secção Un Certain Regard do Festival de Cannes e foi multi-premiada no Festival de Annecy. “A ansiedade climática revelou-se um medo destas novas gerações”, esclarece Sara Lopo, antes de adiantar que a sessão (14 Set, Sáb 14.10) irá incluir uma conversa no final da sessão para contextualizar a questão das alterações climáticas, uma vez que a animação alerta precisamente para a veloz e constante recorrência de desastres naturais.

Estão também previstas duas sessões de curtas-metragens na quinta e sexta-feira, 12 e 13 de Setembro, às 13.00, para maiores de 10 e para maiores de seis, respectivamente. Ao todo, são mais de 13 propostas, das quais Sara Lopo recomenda desde logo “um grande clássico de animação portuguesa”, A Suspeita (1999), de José Miguel Ribeiro, e “um original, feito de propósito para o Lobo Mau”, Os Nossos Medos (2024), de Bernardo Gramaxo, produzido no âmbito do projecto CoolBrave, em parceria com um grupo de jovens do Bairro da Estrada Militar do Alto da Damaia, que ficaram “atrás e à frente da câmara”. “A ideia foi explorar os medos do grupo e desmistificá-los.”

Blèh (2024), de Tim Alards, sobre o impacto das redes sociais nas pessoas; PLSTC (2023), de Laen Sanches, sobre a poluição por plásticos; e Dead of Night (2024), de Jack Downs e Mikel Iriarte, sobre o que se passa durante a noite, são outros dos títulos em destaque. “O PLSTC é a curta-metragem equivalente ao longa na medida em que também fala de ansiedade climática”, adianta Sara, sem deixar de reforçar que o objectivo é que as crianças aprendam a distinguir e a nomear emoções, boas e más, bem como a expressá-las de forma saudável.

Como de costume, estão também programados ateliês sensoriais para bebés e crianças, dos seis meses aos 12 anos. “A actividade proposta pelo ALMA é de facto para estimular os cinco sentidos, com diferentes texturas e cheiros”, revela sobre a sessão (15€) marcada para 15 de Setembro, às 10.30. “Depois [no mesmo dia, às 16.00] temos uma leitura sensorial de O Casalinho do Diabo.” Escrita por Jerónimo Rocha, trata-se da história de dois diabretes que chegam de noite e levam as alminhas das crianças que não querem dormir. 

Já no dia 14 de Setembro, além do acarinhado peddy-paper (5€) a partir das 11.00, que permite às famílias “descobrir os bastidores do Cinema São Jorge e ir a salas de projecção e outros locais que não estão acessíveis no dia-a-dia”, os miúdos são ainda convidados a pôr as mãos na massa pelas 15.00. O desafio (15€) é criar um monstro Coca como o que existe no Bestiário Tradicional Português, de Nuno Matos Valente e Natacha Costa Pereira, que varia de região para região – no Algarve tem uma forma quase humana, mas em Monção tem corpo de dragão –, sendo que o que é consensual é que tem cabeça de abóbora, cospe fogo e alimenta-se de crianças desobedientes.

“Já começamos a reparar em algumas crianças que voltam todos os anos. Não para fazer tudo, claro, mas pelo menos uma actividade, até porque há muitos pais, eles próprios fãs do festival, que aproveitam para virem com os filhos”, partilha Sara. “A criação da secção, que terá surgido na terceira edição, foi precisamente com o intuito de formar público. Por um lado, temos mesmo esse sonho de ver alguém crescer com o MOTELX. Por outro, queremos de facto mostrar que o terror é para todos e não é só sangue e monstros terríveis, que há várias facetas”, remata Sara, que convida pais e filhos a aproveitar o escurinho do cinema.

Cinema São Jorge. Secção Lobo Mau do MOTELX: 12-14, Qui-Dom vários horários. 5€-15€

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