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É na Doca do Bom Sucesso, em Alcântara, que está estacionado o Frane, um barco baptizado com o nome do homem conhecido como o mais sortudo do mundo (por ter fintado a morte vezes sem conta), o croata Frane Selak. Quando a Seawoman comprou esta embarcação à vela, o baptismo estava feito e, ao que parece, dá azar mudar o nome do barco. E apesar de Frane ser um nome masculino, são as mulheres o motor desta associação que apoia o treino e o desenvolvimento de equipas femininas de vela e que, além da competição, também aposta na formação e no apoio social, para todos os géneros. À frente da iniciativa estão Maria Ramires e Rita Schreck, duas experientes velejadoras que querem dar a volta ao mundo empurradas pelo vento e pela determinação.
A Seawoman – Associação para a Promoção da Mulher através do Desporto e Actividades Náuticas (www.facebook.com/seawomanproject) foi constituída em 2014, mas a história começou bem antes: há 20 anos, com a equipa de regata integrada Seawoman da Associação Naval do Guadiana, em Vila Real de Santo António, onde Maria treinava. Na altura, praticamente só havia homens a competir em barcos à vela, em particular na modalidade Match Racing, onde cada corrida de 15 minutos, com 40 a 50 manobras diferentes, é composta por dois barcos idênticos que competem um contra o outro. Por essa altura, a Women's International Match Racing Association (WIMRA), fundada em 1996, pediu apoio à equipa Seawoman para desenvolver a modalidade no feminino em Portugal e Espanha e começaram a treinar diversas equipas. Foi a falta de tripulantes que juntou Rita a Maria, que velejaram juntas pela primeira vez numa regata na Croácia.
A união faz a força
Ainda há quem não esteja habituado a ver um barco à vela só com mulheres a bordo. Rita até se lembra da primeira vez que entraram no barco atracado em Alcântara: “Vieram dois homens e correr, aflitos, para nos ajudar”, diz, entre risos. Não era preciso ajuda. Afinal estavam ali duas prós em Match Racing. Ao leme costuma estar Maria, a skipper que também é árbitro de vela – é ela que toma todas as decisões tácticas, dividindo as tarefas pela restante tripulação, onde se inclui Rita, a faz-tudo (até a manutenção do motor do barco é pelouro dela).
E estas duas mulheres têm força para muito mais. Por exemplo, para organizar os Vela por Elas, cursos de iniciação, aperfeiçoamento e competição abertos a todos os géneros. O próximo, para principiantes, acontece em Setembro, dividido por seis sessões de quatro horas, que acontecem às sextas de manhã ou sábados à tarde, com um valor de 250€. Outra iniciativa associada à Seawoman chama-se Vela +, um projecto social destinado à promoção da actividade física e do desenvolvimento cognitivo na população mais sénior (55 anos ou mais), também sem discriminar géneros. “É o único projecto de vela para seniores no mundo. Muitos já eram velejadores, mas quem queria começar não tinha essa possibilidade”, diz Maria. O Vela + está enquadrado no programa Desporto para Todos, desenvolvido pelo IPDJ – Instituto Português do Desporto e Juventude, o que permite que a inscrição seja gratuita. Além do treino físico (que desenvolve o equilíbrio, a força e a coordenação) e cognitivo (decorar os termos técnicos da vela pode ser um desafio), promovem-se as relações sociais e até já juntou um casal, o que prova que este também pode ser um barco do amor.
Neste momento, Rita e Maria estão a preparar candidaturas internacionais para desenvolver o Vela + noutros locais da Europa. Um projecto que pode, e deve, conhecer melhor em www.velamais.org.
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