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É a primeira grande exposição de Julião Sarmento após a sua morte, em Maio de 2021. "Abstracto, Branco, Tóxico e Volátil", que inaugura esta quarta-feira, 11, no Museu Colecção Berardo, em Lisboa, é uma antologia pelo trabalho do artista plástico – que o próprio ainda ajudou a desenhar.
"Nunca tinha acontecido [uma exposição de Julião Sarmento no Museu Berardo], era uma falha que havia porque já tínhamos feito dos principais artistas portugueses”, admite a directora do museu, Rita Lougares, à Time Out. “Era uma coisa que obviamente estava pensada, só não tinha acontecido, foi pena acontecer já depois da morte do Julião."
Em colaboração com a curadora Catherine David, o artista teve uma participação activa no processo de criação desta mostra de 121 obras, onde se incluem duas da colecção permanente da instituição, que podem ser vistas até ao final do ano.
"A surpresa é chegar a este momento em que temos uma exposição em que nos sentimos muito seguros e confortáveis com ela, porque foi ele [que a imaginou]. Há aqui um marco muito presente do que ele deixou", conta à Time Out Ana Rocha, assistente do artista desde 2019. "No atelier o Julião dedicou-se muito a escolher as obras com a Catherine e a fazer esta permuta entre eles, de uma maneira pausada. Tivemos muito tempo para fazer este trabalho, montar mesmo as salas todas, com uma visualização 3D de onde é que ele queria as obras, como é que queria as salas. É tudo um trabalho muito dele”, explica.
O trabalho resulta em 18 salas expositivas, organizadas não cronologicamente, mas antes por temas. O percurso "labiríntico" serve para descobrir pinturas, esculturas, desenhos, fotografias ou até filmes em Super 8. "Ele trabalhou todos os meios, todas as técnicas, todos os suportes. Ele dizia que isso para ele não era importante. Ele não idealizava uma peça e ia buscar os meios para o fazer. Via o que tinha à volta e depois utilizava para realizar, para explicar aquilo que queria. Os materiais e as técnicas eram secundárias. A ideia era o fundamental", recorda a directora do museu, durante a visita de imprensa, esta terça-feira.
O título da mostra, "Abstrato, Branco, Tóxico e Volátil", deve-se a um quadro, de 1997, que veio do MEIAC – Museo Extremeño e Iberoamericano de Arte Contemporáneo, em Badajoz, Espanha. "É um título que resume completamente a obra dele", nota Rita Lougares. "Abstracto" pelas múltiplas leituras possíveis da obra do artista, "Branco" pela recusa crescente e contínua da cor ao longo da sua carreira, "Tóxico" pela perversidade que a obra pode evocar e "Volátil" "porque as coisas são uma coisa, são outra, são muitas”, nas palavras da directora do museu.
“Um artista extremamente livre”
Julião Sarmento nasceu em 1948, estudou Belas Artes, e dedicou-se às artes plásticas desde os anos 70. Catherine David, curadora da exposição, define-o como "um artista extremamente livre", desafiando a definição de retrospectiva para a mostra de 121 obras do artista. "É antes uma retroperspectiva do artista sobre a sua própria obra, que continua viva", disse aos jornalistas. Por isso, não é raro encontrar as mesmas temáticas em diferentes suportes que integram o corpo da obra de Sarmento – da dança à literatura.
Foi há precisamente dez anos que o Museu de Serralves, no Porto, organizou uma grande exposição retrospectiva do trabalho do artista. "Noites Brancas" mostrou mais de 160 obras do artista plástico.
Já em 2017, a Câmara Municipal de Lisboa anunciou que ia "recuperar e devolver à cidade" o Pavilhão Azul, na Avenida da Índia, para albergar um novo centro de arte contemporânea com a colecção de arte de Julião Sarmento. O espaço tinha previsão de abertura para 2019, mas a intervenção no antigo armazém de alimentos só começou em 2021. Há um ano, João Luís Carrilho da Graça, o arquitecto do projecto, disse ao jornal Público que a obra estaria concluída "dentro de dois anos".
Museu Colecção Berardo. Praça do Império (Belém). 11 Mai-1 Jan 2023. Seg-Dom 10.00-19.00. 5€ (grátis ao sábado).