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Hoje, quando queremos dizer algo a alguém que está longe, basta enviar um e-mail ou pegar no telefone. Se tudo correr como é suposto, a nossa mensagem chega ao destinatário em minutos ou mesmo segundos. Mas nem sempre foi assim. No século XIX, o correio era entregue por um postilhão, o carteiro da altura, que conduzia a carruagem com que se distribuía a correspondência. Este era o chamado serviço da Mala-Posta, que foi instituído em 1798 pelo superintendente geral dos Correios e Postas do Reino, José Mascarenhas Neto. As viagens, que se realizavam entre Lisboa e Coimbra, chegavam a durar 40 horas e, como os percursos eram longos e acidentados, eram vários os perigos e as peripécias registadas, apesar do sucesso relativo das diligências. Por fim, com o aparecimento do comboio, a Mala-Posta foi extinta. Agora, a sua história vive no Museu das Comunicações, que – além de duas exposições sobre os correios e telecomunicações – promove visitas-teatro em parceria com a Coolture Tours.
“O anfitrião é Joaquim, um postilhão que nos vai levar numa viagem no tempo, primeiro para nos mostrar como os mensageiros do rei circulavam a cavalo de corneta em punho, depois a era dos Correios-Mores e, por fim, as diligências da Mala-Posta, que faziam o transporte do correio e passageiros no século XIX”, resume Felisa Pérez, historiadora e fundadora da Coolture Tours, um projecto independente de visitas encenadas a museus e palácios, onde a História é contada na primeira pessoa. “Para fazer essa trajectória de mais de 500 anos de História das comunicações, o personagem vai aproveitar as peças em exposição no museu para explicar às crianças como é que se comunicava antigamente, quando não havia telefones nem computadores. No final, convidamos pais e filhos a escrever uma mensagem num postal – para os mais novos aprenderem o que é o remetente, o destinatário e até a morada, porque há miúdos que nem sabem –, que será de facto enviado.”
Mala-Posta quê?
Mala-Posta não era só o nome do serviço, era também o nome das viaturas de viagem usadas para fazer o transporte do correio – o Museu das Comunicações tem dois exemplares em exposição. Compostas por três corpos (um coupé à frente, uma rotunda ou berlinda atrás e, ao centro, uma caixa destinada ao correio), as carruagens eram puxadas por duas parelhas de cavalos. Como as viagens eram longas, havia várias “estações de muda”, onde se faria a troca dos cavalos que puxavam as diligências de seis lugares – o edifício onde agora se encontra o Centro da Malaposta, em Odivelas, foi originalmente concebido para esse propósito – e, mais tarde, a partir de 1859, quando já se faziam carreiras até ao Porto, pelo menos quatro das então 23 estações também tinham restaurante e sítio para pernoitar. “Mas o mais interessante era de facto a figura do postilhão, porque – apesar das trocas de cavalos e da saída e entrada de passageiros nas chamadas estações de muda – o postilhão guardava e protegia o correio desde o início até ao fim da viagem.”
Vestido a rigor, com um figurino mandado fazer à semelhança do original, o actor Bernardo Souto é quem dá corpo e voz a Joaquim, o postilhão, responsável por “transportar” os passageiros, que também vão poder encarnar várias personagens, desde cocheiros a passageiros e até mesmo rufias. É verdade: na altura da Mala-Posta havia bandos que tentavam assaltar a carruagem para roubar a burguesia ou alguma correspondência importante. “As próximas visitas [para famílias com crianças a partir dos quatro anos] estão marcadas para 24 de Junho e 15 de Julho, às 15.30 e às 17.00”, convida Felisa. Os bilhetes custam entre 12,50€ (crianças) e 15€ (adultos), mas atenção, para cada sessão só há 25 lugares disponíveis.
Se não conseguir participar em breve, não se preocupe: estão previstas novas datas. Até lá é esperar. “Ou experimentar outra das nossas propostas.” Como a nova visita-passeio ao Jardim Botânico da Ajuda, com a própria Felisa, que encarna a rainha D. Maria de Sabóia, papel que tão bem conhece desde 2017, quando começou a interpretar a princesa italiana e rainha consorte de Portugal no Palácio da Ajuda – aqui também já pode conhecer o rei D. Luís I, numa nova visita musical, interpretada por Martim Galamba. “Já andávamos a preparar o rei há algum tempo”, diz Felisa entre risos. “Ele compunha e cantava e isso reflecte-se na nossa encenação, onde não se ouvem apenas coisas de época, mas êxitos musicais de todos os tempos.”
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