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Depois de meses de negociações, a Universal Music Group (UMG) e o TikTok não conseguiram – ou melhor, não quiseram – assinar um novo contrato de licenciamento musical. São más notícias para os criadores e utilizadores da rede social chinesa que, a partir desta quinta-feira, vão deixar de poder usar e ouvir as músicas dos artistas da editora nos vídeos partilhados na plataforma. Mas também para muitos músicos e cantores que perdem uma rampa de lançamento cada vez mais importante.
O anúncio foi feito na madrugada de terça para quarta-feira pela Universal. Numa carta aberta aos artistas e ao público, partilhada online, a maior editora multinacional acusa a empresa tecnológica chinesa de ter tentado forçá-la a “aceitar um acordo menos valioso que o anterior, muito abaixo do valor de mercado e que não reflecte o crescimento exponencial [do TikTok]”. É também alegado que o TikTok não se comprometeu “a proteger os artistas dos efeitos nocivos da inteligência artificial”. Nem “a garantir a segurança online dos utilizadores”, como gostam de dizer os políticos americanos.
De acordo com a UMG, no decorrer do processo negocial, a rede social foi “removendo selectivamente a música de alguns dos seus artistas menos conhecidos, mantendo na plataforma as estrelas globais que arrastam audiências”. O grupo detém selos editoriais históricos e explora os catálogos discográficos de estrelas globais como Taylor Swift, Drake e Bad Bunny, ou ainda dos Beatles e de milhares de outros artistas, incluindo muitos que estão a dar os primeiros passos.
O TikTok respondeu à Universal num breve comunicado em que afirma ser “triste e desconcertante que a UMG tenha colocado a própria ganância à frente dos interesses dos seus artistas e compositores” – que dependem cada vez mais desta rede social para serem descobertos e se promoverem, de uma forma orgânica e sem grande custo. Na mesma nota, a empresa chinesa sublinha que “conseguiu chegar a acordos que colocam os artistas em primeiro lugar com todas as outras editoras”.
E depois do TikTok?
No texto em que anuncia a retirada do seu catálogo da rede social, a UMG alega que “o TikTok só representa cerca de 1% do volume de negócios [da editora]”. É um número enganador. O valor arrecadado com os streams naquela plataforma podem ser insignificantes, mas o TikTok é hoje uma montra essencial para muitos músicos e para os seus ouvintes, com um inesperado sucesso naquela rede a traduzir-se em milhões de cliques em plataformas como o Spotify ou Apple Music.
Que o diga Kali Uchis. Após a Universal se ter recusado a promover o segundo álbum, Sin Miedo (del Amor y Otros Demonios), a cantora latina e norte-americana teve a sorte de uma das suas faixas, “Telepatía”, se tornar um êxito viral naquela rede. Ainda hoje é a sua canção mais ouvida, com mil milhões de streams só no Spotify, cem vezes mais do que o resto dos temas do disco.
Não é um caso isolado. Repetem-se as histórias de grupos e de artistas que têm a sorte de uma nova ou velha canção começar a ganhar tracção no TikTok para depois inflacionar os seus números nos serviços de streaming. A partir daí, é ver as editoras e os festivais a lutarem para os contratar. Dos Surf Curse aos Duster, passando por Mitski, o algoritmo mudou muitas vidas nos últimos anos.
Se, ou enquanto, os chineses e a Universal não chegarem a um novo acordo, os seus artistas não vão ter esta sorte. Para os nomes já estabelecidos, como Taylor Swift, Bad Bunny ou The Weeknd, isto não será um problema. Os utilizadores e os donos do TikTok sentirão mais a sua falta do que os músicos sentirão a falta deles. Todos os outros, no entanto, ficam sem uma possível rampa de lançamento. O TikTok continuará a gerar êxitos virais e a lançar carreiras, só não serão as deles.
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