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Em plena Avenida Valbom, dificilmente haverá alguém em Cascais que não conheça a Casa da Pérgola, uma bonita mansão centenária protegida por um jardim. Do lado de fora do portão, sempre se tiraram fotografias à fachada, que se destaca também pelos azulejos pintados à mão, mas foram raras as vezes em que se transpôs essa barreira, mesmo que ali exista um pequeno hotel com apenas 12 quartos. Até agora. O Bougain Restaurant & Garden Bar abriu no piso inferior da Casa da Pérgola com uma esplanada que ocupa de forma discreta o jardim. A carta é de clássicos, o serviço atento.
A aposta é de Miguel Garcia, que depois de mais de duas décadas a trabalhar na hotelaria, decidiu dedicar-se apenas à restauração. Começou por comprar, no ano passado, o Café de São Bento, juntando agora ao portefólio o Bougain, com a ambição de que também este restaurante se torne um clássico. “Estava à procura [de um sítio] na zona de Cascais/Estoril porque acredito muito no destino. O objectivo é fazer com que as pessoas que vivem aqui tenham cada vez melhores opções gastronómicas”, diz o responsável, acreditando que este novo restaurante tem tudo para se tornar também num “motivo para as pessoas de Lisboa virem para Cascais”. “Eu quero que o Bougain seja o destino, se calhar estou a desafiar-me demais”, continua Miguel.
A visão é ambiciosa, mas Miguel Garcia sabe que não deixou nada ao acaso. Nem na cozinha, chefiada por Diana Roque, nem na decoração. “Num dos hortos, onde fui comprar plantas para aqui, chegaram a perguntar-me se estava a fazer o meu próprio horto”, brinca Miguel, para exemplificar o investimento. Dividido entre uma sala interior e um jardim, com as mesas cuidadosamente espalhadas, no Bougain cabem cerca de 80 pessoas, embora a disposição nunca o faça parecer um restaurante grande. “Eu quero que a pessoa se sinta bem. Este não é um restaurante com sittings, não é um restaurante com hora para sair”, avisa. “Isso também remete para os clássicos. Há 30 anos alguém vos pedia para sair da mesa? Era impensável.”
Há ensinamentos que vêm do Café de São Bento, em frente à Assembleia da República, aberto há 40 anos, onde Miguel fez recentemente umas obras de renovação, não para mudar alguma coisa, mas para substituir o que já estava marcado pelo tempo. No Bougain, cujo nome se deve às duas buganvílias que pintam o jardim da Casa da Pérgola, Miguel espera somar as mesmas décadas. Por agora, define-o como “um clássico contemporâneo, um clássico actualizado com vida”.
“Este restaurante foi inspirado não só em experiências minhas, como do Cadu [Carlos Eduardo Silva, o gerente]. Trabalhámos juntos no Copacabana Palace [no Rio de Janeiro] e no grupo Tivoli. A Diana [Roque] também tem várias experiências internacionais e por isso inspirámo-nos em dois, três conceitos de cozinha mediterrânica clássica”, explica Miguel, para quem o “objectivo não é reinventar a roda, não é desconstruir nada”. “É só não destruir. É ir à nostalgia dos clássicos. É tentar, da melhor forma, reproduzir os clássicos como eles são. Quero que as pessoas cheguem aqui, abram o menu e gostem de tudo. Isso é uma coisa que está relacionada com os clássicos. Eu sei o que é e gosto de tudo o que leio.”
E isso tanto pode ser um linguado à meunière (25€), como um pato confitado (25€), um carré de borrego (27€) ou um Chateaubriand, servido com molho bernaise e batatas fritas (60€/duas pessoas).
“Aqui a nossa ideia foi tentar criar uma oferta que não fosse só de uma coisa. Uma pessoa tanto pode vir comer um peixe grelhado (25€), ou uns camarões tigres grelhados (32€) ou um arroz de carabineiro [e citrinos, 65€/duas pessoas], como também pode vir comer um Chateaubriand ou um steak tartare, que é feito à frente das pessoas.” Este último pode ser servido como entrada (13€) ou prato principal (26€), acompanhado com batatas fritas. “Cascais está muito caracterizado pelo peixe e marisco, que é óptimo e eu adoro, mas a ideia aqui é complementar a oferta, não só pelo jardim, pela casa centenária, mas pelo que oferecemos e eu sempre tive muita queda para os restaurantes com uma carta clássica”, aponta Miguel, destacando que a carta foi pensada para funcionar a qualquer hora do dia, apesar de, por agora, o restaurante ainda só estar aberto ao almoço e ao jantar. Se tudo correr como planeado, no Verão a cozinha já não fará interrupções.
Na secção dos crudos, além do tártaro, há ostras de Setúbal (13€/seis unidades ou 25€/12), carpaccio de novilho (12€) e um lírio curado com pickles de ruibarbo e mostarda (12€). Nas entradas, além de diferentes saladas como a Niçoise, com atum braseado, feijão verde, folhas verdes, ovo, vinagrete de azeitona e rabanete (13€) ou a de beterraba, cenoura e citrinos (12€), há um gaspacho andaluz (11€) e uns camarões ao alho (14€).
“Eu não queria só carne e peixe, mas também coisas mais leves”, defende Miguel, assinalando a aposta também na carta de vinhos e nos cocktails. Sim, o Bougain é um restaurante, mas também pode ser um sítio aonde se vai para beber um copo e picar qualquer coisa. Para Diana Roque, até agora escondida atrás de grandes nomes – trabalhou em restaurantes como os estrelados Belcanto e Feitoria, em Lisboa, mas também o Aldea, em Nova Iorque, ou o Mont Mar, em Barcelona –, é um desafio sem igual. “Achei que o projecto se identifica mais comigo e também está na hora de subir mais um bocadinho e tentar experimentar ser eu”, diz a chef, para quem o Bougain é diferente do que está habituada, mas estar a começar um projecto do zero não podia ser mais aliciante. “Acho que Cascais não tinha algo assim e estava a precisar”, acrescenta para atirar logo de seguida: “E também precisava de mulheres.”
De segunda a sexta-feira, ao almoço, há um menu mais económico. Por 29€, inclui uma entrada e um prato ou um prato e uma sobremesa (água, refrigerante, café ou chá, incluídos). E a boa notícia é que, na escolha, estão os pratos da carta. O difícil pode ser escolher entre a entrada e a sobremesa, já que as sobremesas são bem tentadoras, do tiramisù à pavlova de pêssego (ambos a 8€, fora deste menu de almoço). Os gelados são da Santini (7€) e há ainda um trio de cannelés recheados com cobertura de chocolate (8€).
Avenida Valbom, 13 (Cascais). 91 476 8826. Ter-Dom 12.00-15.00/ 19.00-23.00
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