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O sonho nasceu há cerca de sete anos, quando Giovanna Centeno e Samuel Miller viviam entre a Suíça, Portugal e o Brasil. Na altura, ter uma livraria com um café estava ainda longe de acontecer. Aliás, parecia que não iria passar disso – de um sonho. No final de 2022, o casal decidiu ficar a viver em Lisboa e a Good Company Books ficou mais perto de se tornar realidade. Giovanna trabalhava no ramo editorial, Samuel na área financeira. Os livros foram, desde sempre, uma paixão. Não era assim de estranhar que o sonho deste casal brasileiro fosse ter uma livraria. Lá acabou por acontecer ao fim de mais ou menos dois anos, entre a procura por um espaço e as remodelações.
Foi na Avenida Visconde Valmor, onde antes existia uma loja de móveis portuguesa, que a Good Company abriu portas, a 5 de Novembro. E tudo foi pensado ao detalhe. “O que a gente queria fazer com o nosso espaço era criar uma coisa atemporal, mas ao mesmo tempo muito enraizada em Lisboa”, diz-nos Giovanna, uma semana depois da abertura. Nas estantes, os livros, que vão do romance à biografia, são para ler em inglês. No café, as propostas para comer e beber são locais. E a livraria não se fica por aí. Na agenda, conte com apresentações de livros, conversas com autores e clubes do livro.
O espaço está bem dividido. Quando entramos, temos pela frente longas mesas e, ao fundo, um canto pensado para as crianças, com livros dispostos na parede e uma pequena mesa onde se podem sentar a ler. As estantes altas têm livros a perder de vista. Do lado esquerdo da entrada, fica o café. Além das mesas que se prolongam ao longo das grandes janelas, também há lugares ao balcão, feito em mármore. Na parede por detrás do balcão, os dois painéis de azulejos foram feitos pela artista francesa Henriette Arcelin, que mora em Portugal há alguns anos. No resto da decoração, predomina a madeira escura.
A ideia sempre foi criar uma livraria com café, que desse às pessoas um espaço para estar onde se sentissem confortáveis. “O que distingue uma livraria independente é a questão do serviço. A gente já teve aqui pessoas que, na semana passada, vinham todo o dia. Já conheço o nome delas, elas já me conhecem”, partilha.
E, de facto, enquanto nos sentamos a conversar num dos sofás à entrada, são várias as pessoas que entram e vão ocupando as mesas do café, ou então vão espreitando os títulos nas estantes. Algumas cumprimentam ou sorriem a Giovanna. “É importante você ter aquela experiência de se sentir em casa num terceiro espaço, que é uma coisa que falta muito hoje em dia – nos sentirmos confortáveis em um espaço que não é o trabalho, a escola ou a casa. Como ser humano, a gente precisa de um espaço intermediário, onde se sinta confortável. Isso era o que a gente queria fazer. Este é um lugar onde você pode passar horas lendo, trabalhando, estudando”.
Nas próximas semanas, a cave vai passar a funcionar como extensão do café, com mais mesas, para poder acomodar mais clientes. O menu não é extenso. Destacam-se as bebidas feitas à base de café, neste caso da Olisipo Coffee Roasters, marca local de café, ou o vinho português. Para comer, os bolos de canela, cardamomo, ou pistáchio, e o pain au chocolat vêm da Isco.
No que toca aos livros, estes são em inglês, já que na altura em que seguiram em frente com a Good Company, os proprietários notaram que faltava na cidade “uma boa livraria inglesa” e que a procura continuava a crescer. Mas há uma aposta em autores lusófonos traduzidos para inglês. O objectivo é apresentar aos leitores um cenário literário que, lá fora, não é tão conhecido.
“A gente também quer destacar autores lusófonos em tradução. O nosso objectivo, no futuro, talvez nos próximos cinco anos, é abrir uma micro-editora dedicada a traduzir autores lusófonos para inglês. Com a minha experiência de mercado nos Estados Unidos, sei que existe uma possibilidade de crescimento muito forte”, acredita a proprietária que, durante vários anos, trabalhou nos EUA. Por outro lado, o leque de géneros é vasto. Há romance, biografia, gastronomia, ficção científica, terror, policial, mas a especialidade é mesmo a ficção.
A curadoria é feita por Giovanna e Samuel, com a ajuda de Peter e Alex, funcionários da livraria, e procura ir de encontro ao gosto do leitor. “O que acontece com muitas livrarias independentes é a falta de ampliação, em que você não pensa além do seu gosto e não pensa qual é o gosto do seu consumidor. Isso eu sempre tive uma consciência muito grande, também no meu trabalho editorial. Então a gente tenta se manter informada, por exemplo o que é muito falado no BookTok, como o romance, e tenta ter uma curadoria que é voltada ao nosso consumidor. Não é voltada para nós, apesar de termos a nossa lista de recomendações.”
A agenda também se faz neste sentido. A Good Company acolhe eventos como lançamentos de livros com sessões de perguntas e respostas com autores estrangeiros e portugueses, ou exibições de documentários. E, além de disponibilizar o seu espaço para encontros de outros clubes do livro, a livraria vai ainda dinamizar os seus próprios clubes do livro. Um deles é de clássicos, mas os restantes vão expandir-se para temas como ficção queer, ou surrealista. É uma forma de estar com a “comunidade, de a gente estar presente aqui dando apoio, dando um espaço para as pessoas virem, se encontrarem com os amigos para poderem relaxar.” Neste momento, a livraria e o café abrem de terça a sábado, mas o plano é começar a abrir também ao domingo.
Avenida Visconde de Valmor, 2 (Campo Pequeno). Ter-Sáb 09.00-19.00
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