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Na Portugália da Almirante Reis “mudou muita coisa, mas continua tudo na mesma”

Depois de umas obras de renovação, a Cervejaria Portugália voltou a abrir portas na Almirante Reis. Em 2025, há centenário.

Raquel Dias da Silva
Jornalista, Time Out Lisboa
Portugália
© Francisco Romão PereiraO novo balcão, no centro da sala da Portugália
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A fachada continua igual, o mesmo amarelo e as mesmas janelas em arco, mas basta entrar para perceber que, na verdade, a mítica cervejaria da Almirante Reis está de cara lavada, ainda que sem comprometer as fundações históricas e os detalhes mais icónicos do espaço. A mudança acontece a tempo do centenário, no próximo ano, e nada tem a ver com a requalificação anunciada para aquela zona e que muita tinta tem feito correr, especialmente no que diz respeito à anunciada (e cancelada) torre. “Temos ouvido falar muito no que vai, ou não, acontecer ao chamado quarteirão da Portugália, mas o projecto anunciado não tem nada a ver connosco, diz à Time Out José Maria Jorge, director de marketing, comunicação e corporate da PortugáliaNa verdade, este espaço que agora reabrimos faz parte do programa Lojas com História e tivemos inclusive de preservar certos elementos ao longo da renovação. O que queremos é manter vivo este edifício tão icónico e que tem tanta história para contar ao longo de quase 100 anos.” 

Estávamos em 1925 quando a primeira Cervejaria Portugália abriu portas na esquina da Avenida Almirante Reis, anexa à antiga fábrica de cerveja, que entretanto deixou de pertencer às famílias Carvalho Martins e Carvalho Vinhas, ainda hoje à frente do negócio. Na altura, conta-nos José Maria, a distribuição da cerveja produzida, feita em carroças, era relativamente precária e era comum os clientes dirigirem-se à fábrica para encherem os seus próprios barris. “Foi daí que surgiu a ideia de abrir portas para servir cerveja avulso enquanto os clientes aguardavam as suas encomendas.” Seguiram-se os mariscos e os famosos bifes, que rapidamente se tornaram o ex-libris da casa.

Portugália
© Francisco Romão PereiraÀ direita, bem colorido, o mural assinado por Akacorleone

“Este edifício, o da Cervejaria Portugália, é nosso, e está classificado como Loja com História. O resto do património do quarteirão pertence a um fundo imobiliário, sobre o qual não temos qualquer tipo de controlo ou participação. A associação à Portugália é uma associação que não desaparecerá porque a Portugália é de facto um ícone desta zona. O que temos feito é gerir o que podemos gerir, que é a renovação da nossa identidade visual e a remodelação de um espaço tão importante para o bairro e para a comunidade, modernizando mas respeitando aquilo que é a traça original da loja, e os seus elementos mais icónicos [como um vitral de 1923]”, esclarece José Maria, antes de nos chamar a atenção para o novo mural de Akacorleone. Feito com azulejos Viúva Lamego pintados à mão, procura representar o legado de uma instituição quase centenária e toma como referência a arquitectura, a história e a iconografia da cidade de Lisboa. “Mudou muita coisa, mas continua tudo na mesma.”

Cervejaria Portugália
© Francisco Romão PereiraA Cervejaria Portugália, na Almirante Reis, está de cara lavada

No dia em que a visitamos, um mês depois da reabertura, é quase uma da tarde, a sala começa a ficar animada e saltam ainda à vista um renovado balcão à entrada e um novo balcão ao centro, decorados também com azulejos Viúva Lamego em forma de escudo.

camarão tigre servido com molho da Portugália e ovo a cavalo
© Francisco Romão PereiraCorte especial Tigre (22,50€)

No menu, foram feitas algumas alterações, mas a essência mantém-se. Os clássicos continuam presentes, com destaque para o croquete de novilho (1,70€), os pregos (8,50€-9,50€), a vazia à Portugália (17,50€) e a secção dos bifes, onde aos cortes de alcatra (14€) e frango (12,50€) se juntaram mais dois cortes especiais, um de lombo (23,50€) e um de camarão tigre (22,50€). O primeiro chega-nos a nadar em molho, o segundo inclui também ovo a cavalo. Mas há mais novidades. Nos petiscos, o polvo ao alhinho (13€) e o pica pau do lombo de novilho (14€), que pode ser servido com molho Portugália ou molho à antiga. “Queríamos reforçar esta ideia de sermos uma cervejaria de partilha, e aproveitámos também para renovar a receita do recheio de sapateira [8€].”

Recheio de sapateira da Portugália
© Francisco Romão PereiraRecheio de sapateira (8€)

Sobressaem também as novas opções vegetariana e vegan: cogumelos à Brás (12€) e um hambúrguer no prato (14€), respectivamente. “Queremos ser de todos e para todos e, num grupo de dez pessoas, se houver duas com essas opções alimentares, é importante para nós podermos servir. É um primeiro passo e, no espírito de melhoria contínua, veremos se fará sentido aumentar a oferta no futuro. A nossa ambição é de facto irmos respondendo aos clientes: a renovação do balcão à entrada também foi nesse sentido. Ali o menu é mais reduzido, mais focado nos petiscos e nos clássicos para uma experiência de balcão. Depois neste novo balcão [ao centro], que foi pensado para receber quem venha sozinho, o menu já é o mesmo que na restante sala.”

Polvo ao alhinho
© Francisco Romão PereiraPolvo ao alhinho (13€), na Portugália

Há ainda uma nova sobremesa, o “ovo estrelado” (4€), que assinala os 99 anos da Portugália. Leva bolacha, natas e ovos moles e talvez venha a competir com o clássico pudim flan (3€). “Na receita do pudim flan não mexemos, se não havia para aqui uma revolução. É muito popular e ainda há quem peça para chegar à mesa na forminha", revela José Maria. O mesmo se poderá dizer da carta de bebidas e dos tremoços por conta da casa.

sobremesa com bolacha, natas e ovos moles
© Francisco Romão PereiraOvo estrelado (4€), sobremesa comemorativa dos 99 anos da Portugália

Além da reabertura da mítica cervejaria da Almirante Reis, estão a ser operacionalizadas muitas outras mudanças. O objectivo, esclarece José Maria Jorge, é que todas as lojas de gestão própria estejam remodeladas até 10 de Junho de 2025. Por exemplo, as três primeiras lojas Portugália Balcão, no Almada Fórum, no Campo Pequeno e no Alegro Sintra, já reabriram com nova arquitectura e identidade, incluindo um aumento do número de kiosks digitais e menu renovado, com novas receitas de pregos especiais. “Depois temos franchises, que são muito importantes para nós porque nos permitem alcançar o maior número de pessoas possível, mas sem nunca descurar a qualidade. No ano passado, por exemplo, fizemos mais de 320 auditorias. Não é uma por dia, mas é quase, e fazemo-las em todas as nossas lojas, as de gestão própria e as de franchise.”

Portugália
© Francisco Romão PereiraO balcão à entrada foi renovado

Se tudo correr como previsto, a Portugália chegará aos 100 anos em pico de forma. A programação festiva ainda está no segredo dos deuses, mas já está a ser pensada. A curto prazo, prevê-se a abertura de dois novos balcões, um no RioSul, no Seixal, e outro no MarShopping, em Matosinhos. “É uma data redonda e eu diria que qualquer pessoa ou empresa que lá chegue é digna de celebração, mas sobretudo no nosso sector, em que todos os dias aparecem e desaparecem restaurantes e em que, de facto, há uma concorrência muito grande. Por isso, sim, já estamos a pensar no nosso centenário.”

Portugália, Almirante Reis 117. Seg-Dom 12.00-00.00.

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