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No vestido, estão seis tons de violeta. "Quem vê de longe ou numa fotografia pensa que é tudo a mesma cor, mas não", alerta LS (Luís Santos), artista de Chelas, tal como Sara Correia, a retratada. Além da fixação na geometria – todas as pequenas formas são calculadas e pintadas com a ajuda de metros e metros de fita de papel, para, por cima, se fixar o spray –, o que salta na conversa são o bairrismo e a necessidade de "acabar com o estigma à volta dos bairros", que "ainda há".
Como na canção da fadista, a parte em que se grita "Não sou de mais lado nenhum, eu sou de Chelas" dá para o bom e para o mau. De um lado, as brincadeiras na rua, a entreajuda e a liberdade – aos 11 anos, Luís já se aventurava no graffiti –, do outro, a reacção com que o artista ainda se cruza quando diz de onde vem. "É assim. Ainda há pessoas que acham que isto é um gueto. Mas tem de se tirar o estigma dos bairros e ela [Sara Correia] é forte e está a fazer isso muito bem."
A pintura (encomenda da Universal) começou mais ou menos há uma semana, 13 a 15 horas por dia de trabalho em cima. "A maior dificuldade foram as unhas", partilha Luís, apontando para a empena de 18 metros de altura, para onde os moradores vão espreitando e atirando comentários mais ou menos graciosos, desde as escadas exteriores do prédio. Entretanto, falta o rosto, "o mais fácil". "Com a fita, faço a linha dos olhos, para ficar nivelado, e já está. Depois, aquelas pequenas formas geométricas, que são a minha linha gráfica, saem na hora; não é programado", explica LS.
Um bairro de artistas
Para Luís Santos, foi devido às artes que zonas como "Marvila, por que ninguém dava nada há uns anos, ou Chelas mudaram muito". "A arte só traz mais-valias, faz com que as pessoas olhem para os bairros de uma forma diferente. E há muitos artistas daqui, da música à pintura", afirma, fazendo referência a Piruka ou Sam the Kid. "São uns gandins, como dizem? E as classes não gostam do que eles fazem? Gostam!"
Também Manuel Monteiro, morador do Bairro das Amendoeiras, "uma zona muito sossegada", está satisfeito por ver ali a figura da "menina muito engraçada" que viu brincar nas ruas do bairro. "Ela tem uma grande garra quando diz que é de Chelas", analisa. "Ela merece", junta Maria, vizinha de passagem pela pintura em progressão. Apenas Joaquim Silva, da direcção do Clube Lisboa Amigos do Fado (CLAF), onde Sara Correia começou a cantar, tem um travo amargo sobre a criação que está a nascer na rua: "A pintura já tinha sido falada há bastante tempo. Pareceu-nos bem, mas se calhar devia ter sido no prédio da colectividade", lamenta. Teria sido um motivo de orgulho, tal como o é sempre que a fadista fala no bairro onde se formou. "Ela fala sempre na colectividade e para a gente é um grande orgulho", remata o dirigente do CLAF.
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